Há muitos muitos anos, havia uma menina que não gostava das suas mãos. Assim foi desde pequena. Para além de serem grandes, as mãos eram grossas e ficavam, muitas vezes, vermelhas. Sobretudo quando estava muito frio ou então muito calor. Por tudo isto, a menina escondia as mãos sempre que podia. Às vezes, usava luvas, mas estas aqueciam-lhe demasiado as mãos e faziam-nas parecer inchadas.
As mãos das amigas da menina eram fininhas, pequeninas e macias. Pelo menos era o que os seus olhos lhe mostravam. Nos passeios de domingo ou nas festas e romarias, as meninas passeavam muitas vezes de mão dada. Nesses momentos, a menina sentia bem a diferença e, por isso, sempre que podia, evitava dar a mão a alguém.
Às vezes só não fugia a dar a mão para não se sentir de fora – porque, para além de não gostar das suas mãos, tinha medo de que não gostassem dela. Sobretudo as amigas que se tinham habituado a receber muitos mimos desde pequeninas. A ouvirem e a saberem que certas tarefas não eram para elas, mas para mãos mais rijas e calejadas.
A menina foi crescendo. No inverno, vinham as frieiras. Cor de sangue pisado. Com elas, as mãos empolavam ainda mais. E a menina coçava os dedos para aliviar a comichão, mas esta mais aumentava. Até trazia dor. A menina evitava olhar para as suas mãos. Chegou mesmo a sofrer com o desgosto. Um dia, tomou uma resolução: não posso mudar as minhas mãos. Vou gostar delas como são porque se não as tivesse é que era um grande problema. E pensando deste modo, algumas palavras rimaram-lhe na cabeça:
Deixar de pensar no assunto
É uma prioridade
Pois para se fazer alguma coisa
Não é preciso mãos de princesa
Cor-de-rosa e cheiinhas de saúde e beleza
Mas o melhor é acreditar
Que com as nossas mãos ao dispor
Pode-se muita coisa mudar
E dar sinais de muito amor.
Sem comentários:
Enviar um comentário