segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Diário de Mariana


17 de Outubro

Querido diário,

Não imaginas as saudades que tinha de ti. Parece que já não te escrevia há tanto tempo. E só passaram uns dois dias.

Vou contar-te o meu domingo. Fui com a minha mãe a um passeio a casas de escritores. A minha mãe disse-me a semana passada: Mariana, gostava que fosses comigo ao passeio do próximo domingo. Bem, eu já sei que “gostava” é uma ordem.

Partimos de manhãzinha cedo. Um dos locais que visitámos foi S. Martinho de Anta, onde viveu Miguel Torga quando era pequeno. A minha mãe disse-me assim: repara, Mariana, para a cor das janelas e da porta verde clarinho; que suave e que bonito. E para o quintal com árvores e sítios fresquinhos à sombrinha. Ainda bem que a filha do poeta continua a vir cá.

Eu vi mas reparei melhor no grupo da excursão e cheguei à conclusão de que eu era a mais nova de todos. Por que é que as pessoas um bocado idosas gostam tanto de viajar em grupo tão grande? – pensei eu.

Ainda me falta muito tempo para eu ter esta idade, mas não queria descer as escadas como eu também vi. As pessoas põem-se de lado e no último degrau agarram-se bem e descem para trás para não se magoarem nem caírem Fogo.

A minha prof de física (eu digo só física, mas é educação física) diz que a gente tem de fazer muita ginástica para não ter artroses nem avêcês no futuro. Eu ontem até ouvi as palavras dela, mesmo longe da escola.

A minha avó diz que por dentro se sente uma rapariga, embora por fora esteja muito velhinha. Se calhar é por isso que não acho nada bem quando alguém diz como uma vez um tio meu contou: estás velho. E o pior é que ele também estava velhote. Pelo menos, o meu tio disse isso, porque eu não conheço e nem tenho vontade de conhecer porque deve ser estúpido.

Voltando à visita que fiz ontem a casas de escritores, a minha mãe disse assim, Mariana, vamos ao Café Central porque era frequentado pelo Miguel Torga. A minha mãe ainda disse: quero sentir o espírito do lugar. Não percebi lá muito bem, mas lá fui com a minha mãe e as amigas dela.

Eu andava um bocado muda, mas até gostei de ter conhecido aquele sítio. É mesmo fixe. E achei altamente o tronco super-largo que está mesmo à beirinha da estátua de Miguel Torga. É pena é estar com cara de chateado, mas ouvi um senhor a dizer que ele era um homem de pouca risota.

A minha mãe tem a mania de me dizer que eu devia estudar mais. Eu acho é que ela ainda não reparou que para mim aprender coisas novas é altamente. Eu não gosto é de ser obrigada a estar muito tempo vergadinha sobre os livros, como se estivesse a vigiá-los. Coitados, também têm de parar um bocadinho e ficar sós.

Quando estávamos a sair do café da pracinha, uma senhora já um bocado idosa não viu o degrau e caiu esticadinha no chão. Fiquei a olhar meio parva. Coitada, pensava eu. Vieram pessoas a correr. Então é que percebi melhor por que é que as pessoas idosas gostam tanto de viajar em grupo tão grande. Assim, se caírem, têm sempre quem as levante.

Um xi-coração

E como gosto de rimar

Se um dia cair no chão

Ajuda-me a levantar

Mariana

PS – Hoje, ainda gostava de te escrever outra vez. Mas só mais tarde, porque tenho u8ns trabalhos urgentes.

Por que é que a gente não faz mais vezes as coisas de que gosta?


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