2 de outubro
Querido diário,
Hoje a minha mãe contou-me que quando tinha a minha idade, estreava sempre roupa na Festa do Rosário. E às vezes era impossível vestir a roupa nova. Ou porque era quente e no dia da festa estava calor, ou estava frio e a roupa parecia ainda de verão. As raparigas também usavam os primeiros sapatos de salto alto nesse fim de semana. Que cena, coitadas. Para mais, iam e vinham a pé e a estrada era de paralelos. O tacão metia-se nos buracos e às vezes até se soltava. A solução era tirar os sapatos e vir com eles na mão. Só visto. Se calhar, até ficavam com calos.
Eu é que não gostava de viver nesse tempo. Eu gosto de liberdade e de andar à minha vontade.
Mas, infelizmente, a liberdade nunca é completa. E eu que o diga. Esta semana há menos aulas por causa dos feriados e, mesmo assim, já começou a tortura: Mariana, deixa-me ver os teus cadernos; Mariana, por que ainda não puseste a um lado os textos e a outro a avaliação dignóstica?; Mariana, por que ainda não respondeste a estas fichas?; Mariana, já fizeste os exercícios?...
E agora, amigo, pergunto-te eu: por que é que a gente não pode fazer apenas o que gosta? Nestes dias quentes em que gostava de ir à praia ou ficar mais tempo na Festa do Rosário, estou a pôr os materiais da escola em dia! Não acredito.
Tenho de terminar. Vem aí a minha mãe e sinto que vai recomeçar o interrogatório.
PS – Na última aula da semana passada, aconteceu uma coisa que mexeu comigo. Amanhã, quero contar. Se “ordens superiores” não me ocuparem o tempo todo nem me roubarem a minha liberdade.
Mariana
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