quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Diário de Mariana

20 de Outubro

Querido diário,

Eu pergunto-me muitas vezes por que não fazemos sobretudo aquilo de que gostamos. Isto sem ser egoístas e sem prejudicar ninguém, é claro, porque não gosto disso e a minha mãe diz que não foi educação que ela me deu.

Eu, às vezes, vou para a escola de camioneta e também venho assim para casa. E reparo que algumas pessoas têm cara triste ou chateada. Eu acho que também ficava assim se tivesse de chegar a casa e fazer tudo sem poder sentar-me um bocadinho ou fazer o que me apetece. Fogo.

Um dia destes, ouvi uma senhora dizer que tinha de fazer o jantar, arrumar a cozinha, passar a ferro e se o filho não tivesse feito os deveres, a casa ia pelo ar. Que exagero e que trabalheira. E ao menos se ela fizesse as coisas em paz e sossego, como diz a minha mãe… Pelo aspeto da senhora, a coisa ia dar mesmo para o torto.

Eu não acho bem que os professores mandem muitos trabalhos para casa. Pouquinho até concordo, mas muito é para chatices. É chatice na aula, porque não está feito ou só está um bocado; chatice em casa quando as mães falam com as dê tês; chatice quando a gente vê que são elogiados trabalhos que foram feitos por outras pessoas, etc. Passo-me quando isto acontece, mas ninguém diz nada senão também há chatice. Agora, a minha prof de português manda sempre escrever o t.p.c. no caderno. Para mim, não há escapadela possível. E a censura não perdoa.

Mas voltando à camioneta, eu até gosto de ir assim para a escola. A viagem é curta mas dá para ouvir histórias das pessoas. A minha mãe já me disse: Mariana, não olhes tanto que dás nas vistas, poça!

A minha mãe tem uma amiga que escreve histórias muito fixes e ela diz que se inspira muitas vezes no que ouve no autocarro. Será que um dia também vou conseguir escrever alguma coisa de jeito?

Mas de andar nos transportes públicos sempre à mesma hora e sempre cheiinhos é que eu não devia gostar nada. Deve ser horrível, sobretudo para as pessoas que chegam a casa e têm problemas e tudo por fazer. A minha mãe diz que há muitos heróis que nunca receberão uma medalha. Eu acho que a minha mãe, neste caso, até tem razão.

Um xi-coração e até amanhã.

Mariana

3 comentários:

  1. Pois é, Mariana. Eu também não gosto nada de ver os jovens sentados como se já fossem velhotes a jogar cartas para passar os tempos mortos. É que tu e os teus colegas estão bem vivos e despertos. Nao achas? E a tua nova escola não tem recreios para jogar a bola e passear ao ar livre? Se ainda não tem, vais ver que os jardins vão nascer algures por aí. E depois bater com a mão na mesa, até parecem batoteiros. Isso é muito feio dentro de uma escola. E não há ninguém que os chame à atenção. Se calhar não reparaste, mas algum professor foi falar com eles, até mesmo por causa do fumo.
    Bjs
    A tua fã

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  2. Querida fã,
    Eu acho que em educação os esforços de muitos nem sempre são visíveis mas valem sempre a pena. Ainda bem que existem com entusiasmo e alegria.
    Um grande xi-coração

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  3. Querida fã,
    Virei a página do diário e reparei que o comentário era para o que já estava escrito para trás. Não faz mal.
    Um beijinho e até sempre.
    M.

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