segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Novembro

Guardo na memória outros inícios de novembro. Quase todos tristes, frios e cinzentos. Como a data que se celebra por estes dias em homenagem aos que já partiram. Digo desta forma, porque embalamos muitas vezes a palavra morte para suavizar a sua rígida e cortante dureza.

Ontem, duas senhoras interrogavam-se sobre o lugar onde estaria o familiar sepultado. Talvez pensem como aqueles que afirmam que a saudade dos mortos não implica a deslocação ao cemitério. Ou talvez a vida desse familiar não lhes tenha oferecido motivo de anterior visita. Outros ainda deslocam-se diariamente à última morada dos seres que sempre amaram. Após a morte, continuam a dedicar-lhes tempo e carinho, para debelar a ausência.

Sei de alguém que enfeita todas as semanas, sem falhas, a campa dos pais que morreram há mais de cinquenta anos. E raramente compra flores. Prefere as que cultiva com saber e persistência. Também uma família passou a semear flores para que elas não faltem frescas ao ente querido que há pouco faleceu.

Os cemitérios são, por estes dias, locais de romagem. As flores dispostas com harmonia dão um ar de beleza, ainda que fúnebre.

Depois vem dezembro e outras datas são comemoradas. Os rituais indicam-nos o tempo; são marcos que nos agarram à vida – ou será o legítimo desejo de afastar a morte?

domingo, 30 de outubro de 2011

Trapos?

Como não se pode gastar muito dinheiro com prendas de Natal, por que não fazermos uns trabalhinhos?

Vantagens:
- reutilizam-se materiais que temos em casa;
- variamos de atividade;
- partilhamos as nossas habilidades;
- descansamos a mente;
- damos alegria;
- motivamos a novas, embora simples,
ideias;
- podem fazer-se ao serão ou quando há um
bocadinho livre;
- ...

Sugestão:
Juntar umas frases bonitas ou uma pequena estória aos trabalhos produzidos. O papel pode ser de cor. Se não tivermos jeito para desenhar (como eu), podemos fazer colagens. É frequente encontrarmos imagens bonitas em jornais ou revistas.
Se o trabalho for para uma criança, pode parecer que não dá valor, mas ficar-lhe-á na memória. Muito mais do que se fosse mais um brinquedo.

Nota: haverá sempre quem diga: fazes porque tens tempo, mas não é de levar a mal, porque andamos todos muito cansados.

Bom domingo!

Hoje, tive de sair cedo, ainda que por pouco tempo (que bom poder dormir mais uma hora!), e aproveitei para comprar pão fresco. Cheguei a casa com o pão ainda quentinho. Fiz café com leite, barrei o pão com manteiga e juntei compota feita por mim (sei que engorda, mas como era domingo…). Confesso que me soube muito bem. E também foi bom tomá-lo devagar. A televisão estava ligada mas sem passar desgraças, nem berros de telenovelas ou ruidosa publicidade. No canal que escolhi, estava a dar um programa sobre diferentes religiões e as pessoas falavam com convicção e serenidade.

Terá isto tanta importância que me leve a gastar tempo e escrever um texto? Para mim, tem o interesse das coisas simples. Sem elas, a vida seria quase um deserto. Julgo que se estamos à espera de grande e prolongada felicidade, cairemos no abismo da tristeza e de maior depressão. A não ser que usemos a estratégia do fingimento ou da imaginação.

Hoje, domingo, e até agora, assisti a outras coisas simples: vi uma criança de olhos azuis a sorrir feliz com a oferta de um ovo kinder, uma idosa quase analfabeta a ser ajudada para ver os preços do leite no supermercado, o homem dos jornais a oferecer uma revista que sabia agradar à cliente porque outro freguês só tinha querido o jornal, um olhar atento perante uma jarra com flores bonitas em homenagem de alguém…

Feliz domingo com coisas simples e boas! Também podem ser simples castanhas assadas!

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Mensagem (in)esperada

Uma amiga enviou um belíssimo vídeo com um texto dito por Eduardo Galeano,
jornalista e escritor do Uruguai.

Retive duas frases cheias de humana sabedoria:


"A utopia serve para caminhar".

"Seremos imperfeitos porque a perfeição será sempre o chato privilégio dos deuses".


Bom fim de semana!

Diário de Mariana


28 outubro 2011

Querido diário,

Hoje foi uma tarde de ruído que nem te conto. A escola está em obras e a barulheira é imensa, mas como hoje é que não não é nada habitual. O que vale é que estava sol. Uma máquina furadora esteve a funcionar toda a tarde. Parecia que tinha pilhas duracel. Que horror! (vês, eu agora evito dizer fogo muitas vezes). Uma setora até disse assim: Meninos, leiam mais alto, porque temos um forte concorrente.

Eu gosto que os profs tenham boa disposição, mas nós às vezes não podemos dizer certas coisas. Eu já aprendi que temos de saber que estamos numa sala de aula e que não podemos falar para os setores como falamos com os nossos colegas, mas às vezes apetecia-me dizer certas coisas e não digo. Parece que tenho uma voz cá dentro que me diz para eu não dizer. Mas rio-me quando ouço piadas dos meus colegas, mas os setores ficam desconfiados e vê-se logo que não gostam. Eu, se calhar, gostava de saber e até me ria também.

Às vezes os setores chegam com ar de quem vem chateado. Se calhar o barulho também os incomoda. Eu até compreendo que deve ser difícil aturar tanta gente ao mesmo tempo e com tanto barulho cá fora.

E depois as salas são tão distantes da entrada. Muitos professores até andam com pastas de rodinhas. Deve ser fixe, porque assim pensam que vão viajar.

Este fim de semana tenho muita coisa para estudar e o tempo vai ser pouquinho. Se não te escrever, não estranhes. É porque não posso, mas nunca me esqueço de ti.

Um xi-coração muito apertadinho

Mariana




FRÁGIL

Apetecia-me repetir, como Jorge Palma: estou frágil, sinto-me frágil… embora não queira ficar mais frágil. E muito menos dar ar de frágil. Nem tornar o outro mais frágil. Estou frágil, porque deparo, por exemplo, com alguns alunos que preferiam não fazer nada. Estou frágil porque muitas vezes a palavra oportuno é uma versão light do oportunismo. Porque os defeitos próprios são invisíveis enquanto os dos outros são como gigantes.

Frágil, porque há a necessidade de estudar, de preparar matérias, de programar atividades, de corrigir trabalhos e, muitas vezes, isso é esquecido. Esquece-o a sociedade quando se espanta pelo facto de o professor estar ocupado fora das aulas. Como se tivesse o dom de chegar à sala de aula, abrir uma torneira donde jorra trabalho feito. Ou, então, um computador que armazena e atualiza dados automaticamente.

Estou frágil, porque nos rostos dos alunos também coabitam muitas fragilidades: familiares, educativas, sociais, económicas… Sinto-me frágil, quando alguns alunos desperdiçam fortes capacidades enquanto outros, que nada esbanjam não têm sucesso.

Frágil, quando os saberes parecem ter voado ou fora do lugar. E voltamos atrás. E lemos textos. E vemos filmes. E fazemos visitas de estudo. E falamos. E escrevemos. E ligamos saberes do passado a realidades atuais para que exista fio condutor. E são eles que utilizam habilmente, nas aulas, a ferramenta informática, sem engano e com precisão. Sabem o significado de cada fio, de cada tecla, de cada botão…

Sinto-me frágil, porque é grande o cansaço à nossa volta. E irritabilidade. E vulnerabilidade. E mistério perante o enigma que é o futuro.

Frágil, porque tudo é frágil, embora isso seja cada vez mais natural.

Precisamos de estímulo, de espaço, de tempo, de confiança, de solidariedade… Para vencer toda esta fragilidade. Esta forte fragilidade.

Frágil - Jorge Palma

Põe-me o braço no ombro
Eu preciso de alguém
Dou-me com toda a gente
E não me dou a ninguém
Frágil
Sinto-me frágil

Faz-me um sinal qualquer
Se me vires falar de mais
Eu às vezes embarco
Em conversas banais
Frágil
Eu sinto-me frágil

Frágil
Esta noite estou tão frágil
Frágil
Já nem consigo ser ágil

Está a saber-me mal
Este whisky de malte
Adorava estar in
Mas estou-me a sentir out
Frágil
Eu sinto-me frágil

Acompanha-me a casa
Já não aguento mais
Deposita na cama
Os meus restos mortais
Frágil
Eu sinto-me frágil

Memórias felizes



Estive com uma colega e amiga a recordar atividades escolares realizadas há uns quinze anos. Muitos alunos, quando encontram esses professores, casualmente ou através do facebook, recordam-nas com alegria. Os momentos felizes são alimentados por boas memórias. E ainda melhores são quando partilhadas e motivam boas palavras e sorrisos.

Recordámos que muitas atividades eram realizadas por amor: à causa, “à camisola”, à educação, à disciplina que ensinávamos, aos autores de que gostávamos…

Atualmente, também muitas coisas bonitas se realizam nas escolas, apesar de muitos professores terem tarefas muito desgastantes, como é o caso das aulas de substituição. São difíceis porque nem o professor conhece os alunos nem estes estão habituados ao docente. E o mais frequente é os alunos revelarem indisponibilidade face aos trabalhos propostos. Só com muita “arte” o docente consegue cativar os alunos e pô-los a trabalhar calmamente. Neste contexto, vai-se tornando muito difícil a realização de outras atividades realizadas voluntariamente.

De facto, a situação atual não é propícia à realização de atividades extra-aula. Para além disso, muitos professores são confrontados com o não reconhecimento pelo seu trabalho.

Porém, retomo a nota risonha com que iniciei estas notas, porque acho importantes as memórias que ficam e ajudam a superar momentos menos bons.

É 6ª f., está sol, e, quando tantas coisas são retiradas, as boas memórias são inalteráveis. Felizmente!