23 de setembro
Querido diário,
Já te escrevi hoje, mas cheguei a casa e apeteceu-me comunicar outra vez.
Às vezes acho que não sou muito influenciável, mas outras sim. Eu gosto muito da minha diretora de turma e se calhar por isso dou comigo a pensar que gostava de ser professora.
Hoje fizemos mais uma prova de avaliação dignóstica. A escola deve gastar resmas de resmas de papel. Só para a minha turma é um teste de três ou quatro folhas em cada disciplina. E somos quase trinta alunos., é só pegar na máquina de calcular e fazer as contas. Tanta folha. A minha Dê Tê já nos disse que vai receber o relatório de todos os professores e que, embora não seja a avaliação mais importante, quer que tudo corra bem. Como gosto muito dela, era fixe que ela ficasse contente.
Enquanto estávamos a fazer a prova, um dos meus colegas arredondou os braços em cima da mesa, como se fossem uma almofada e deitou a cabeça. Parecia mesmo que queria dormir. A prof aproximou-se dele e disse-lhe para levantar a cabeça e rever a ficha. Eles falavam baixinho, mas quando é assim, parece que fico ainda mais atenta e curiosa. E a prof disse-lhe: tenta rever o ponto quatro. E ele: ó setora, eu já fiz e não vou fazer outra vez. E ela: por que não? Tens tempo e fica melhor. O que escreveste está muito incompleto. E o rapaz: não, setora, não quero escrever outra vez, porque dá muito trabalho. E disse trabaaaalho, demorando a dizer a palavra, como se fosse uma coisa muito difíiiiiiiicil.
Eu não sei muito bem, mas acho que a setora não conseguiu que ele completasse a resposta. E, coitada, bem se esforçou. No final da aula, eu até disse à Bea: nem sei se ainda quero ser prof. Dá muito trabaaaaalho. Ela começou a rir-se e disse assim: eu é que não quero. Custa-me aturar os meus irmãos quando não querem comer a sopa, que faria se tivesse insolentes à minha frente. Quando os alunos não estão atentos nem estudam, ela diz logo que são insolentes. Este até nem é muito, mas é um preguiçoso de primeira. Até faz nervos. E algumas profs falam com ele com paninhos de lã. Haviam era de lhe chegar a roupa ao pelo (não pus acento, porque a setora de português disse que agora é assim. Nem em “para” se põe acento quando é verbo. Eu acho esquisito, mas não é por isso que vou deixar de dormir. De noite, é claro. Posso não ser muito boa aluna, mas não vou dormir para as aulas. Mas comigo, os profs não me fazem fosquinhas, como diz o meu avô).
Muitos abracinhos, querido diário, porque já estou a ficar com sono.
Mariana
Mariana
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