segunda-feira, 19 de setembro de 2011

De manhã / "De tarde"

Hoje, tive uma turma do 11º ano. Era a primeira aula do ano letivo. Falámos do que é habitual nesta altura: conteúdos, critérios de avaliação, visitas de estudo...

Ora, ao enunciar os textos/as obras a estudar, escapou-me um poeta fabuloso que é Cesário Verde. Como se não bastasse o facto de a sua obra ter sido por muitos ignorada durante a sua (curta) vida (1855-1886). Felizmente, um amigo, reconhecendo o valor da obra poética que tão bem conhecia, possibilitou a sua publicação e divulgação.

Gosto muito das pequenas histórias que os poemas de Cesário contam. E dos quadros pintados por palavras, sendo frequente a abundância de sensações (visuais, olfativas, tácteis...).

Para me redimir do esquecimento, li, no final da aula, aos alunos, um poema de Cesário. Embora fosse de manhã, pareceu-me que houve uma boa adesão à luz vinda "De tarde".


"De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,

Houve uma coisa simplesmente bela,

E que, sem ter história nem grandezas,

Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,

Foste colher, sem imposturas tolas,

A um granzoal azul de grão-de-bico

Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,

Nós acampámos, inda o sol se via;

E houve talhadas de melão, damascos,

E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda

Dos teus dois seios como duas rolas,

Era o supremo encanto da merenda

O ramalhete rubro das papoulas".

Cesário Verde

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