sábado, 13 de fevereiro de 2021
Querido diário, uma canção e um concurso - a lembrar Amor
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo nono dia
Ontem, ao visitar o blogue Bem-Vindo ao Paraíso, de Isaura Afonseca, vi este vídeo. Gostei de voltar a ouvir esta música dos Pink Floyd, embora custe rever algumas imagens de tempos de outro triste tempo, mais ainda do que o nosso, apesar de tantas pandemias. E, como muita coisa é como as cerejas, lembrei-me de já ter ouvido várias vezes: 'antigamente é que era bom!' E eram jovens a dizê-lo. Eu logo rebatia que, felizmente, não sabiam o que era viver num país sem liberdade. E os mesmos acrescentavam: 'o meu avô também diz que antigamente era muito melhor'. Porém, para a grande maioria das pessoas, a vida era mesmo muito pior.
Hoje ouvi que um estudo recente revela que há muitos jovens universitários a passar uma fase muito difícil, a nível económico, afetivo e de saúde mental. De facto, a vida é sempre incompleta, imperfeita, mas em reconstrução. Tenhamos esperança que sim.
Pink Floyd - Another Brick In The Wall (HQ)
quinta-feira, 11 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo oitavo dia
Sempre que posso e me agrada o tema, vejo o documentário que passa na rtp 2, pelas 20.30.
Ontem era sobre o grande chapéu que surge num pequeno mas famoso quadro de Vermeer e que pode ser revelador da globalização do comércio, reiterado pelo mapa que vemos em grande plano. Johannes Vermeer nasceu em Delft, Holanda, em 1632 e morreu 43 anos depois. O quadro é este:
Soldado e moça sorrindo, pintura de 1657 |
O chapéu é feito de pele de castor, caça e negócio chorudos que se estenderam da Europa ao Oriente e América do norte, provocando até a guerra dos castores. O sorriso da jovem e a dimensão do chapéu poderão significar uma crítica à vaidade, à riqueza, lembrando tanto sacrifício e tanta morte para as satisfazerem. Na época, os homens usavam chapéu e os que eram feitos de pele de castor eram os preferidos por serem impermeáveis à chuva que na Holanda é abundante. Eram, contudo, extremamente caros.
E, querido diário, só um toquezinho pessoal e final: a janela, no quadro, está aberta. Será para arejar o ambiente, tal como deve ser também nos dias de hoje?
quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo sétimo dia
Vem o meio da semana
e o meio da pandemia?
O mundo continua em espera,
acelera e desacelera,
sempre sempre tentador,
tal como um imenso amor.
Está pra breve o reencontro?
Mundo, para quando esse Dia?
Louis Armstrong - What A Wonderful World
terça-feira, 9 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo sexto dia
Hoje está bom para estar em casa. Há tempestades vividas e anunciadas. Não ouvi trovoada. Felizmente.
Os casos covid estão a diminuir. Felizmente! Os especialistas recomendam: nada de alívio ainda!
Trump começa hoje a ser julgado no Senado pelo papel que teve ou não teve na invasão do Capitólio, em Washington DC.
Gondomar que, há uns anos, foi tão conhecido pelos piores motivos, tem sido referido pelo bom serviço que está a prestar no processo de vacinação à população. Felizmente.
Ir ao cinema sem sair de casa.
Já conhecia o trabalho da Medeia Filmes desde o último confinamento. Uma boa iniciativa, apesar de nem sempre gostar dos filmes que exibem. Ontem, no Expresso Curto, vi a síntese dos filmes de agora e dos próximos dias. É muito fácil de aceder e é gratuito. Vale a pena conhecer. E ver, é claro.
https://medeiafilmes.com/cinemas/quarentena-cinefila-raridades
O que retirei do Expresso Curto de ontem:
'E porque já tenho saudades de ir ao cinema, tenho seguido mais uma Quarentena Cinéfila da Medeia Filmes, este ano sob o mote “Raridades”. De hoje até quarta-feira (cada obra fica patente 48 horas) é exibido “Alguns dias em Setembro”, de Santiago Amigorena, com Juliette Binoche e Nick Nolte. Seguem-se “Eu e tu”, de Bernardo Bertolucci (11 fevereiro); “A uma hora incerta”, de Carlos Saboga (15 fevereiro); “Sem destino”, de Monte Hellman (18 de fevereiro); “A adolescência tardia de Jean-Michel Basquiat”, de Sara Driver (22 de fevereiro); e ASAS (1966), de Larisa Shepitko (25 de fevereiro)'.
segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo quinto dia
É tempo das camélias e elas continuam a florir.
Os alunos continuam em casa e hoje voltam a ter aulas online. Muitas casas são frias e húmidas, dizem estudos feitos. E é nelas que vivem muitas crianças e jovens, muitos deles sem computador ou internet. E sem uma alimentação adequada, em muitos casos. As desigualdades e retrocessos não são suposições mas evidências. Há professores que preferem que os alunos desliguem as câmaras para que não se sintam invadidos na sua frágil privacidade. Só que às vezes, deixam de 'estar' na aula e não há ninguém para os acompanhar.
As aulas em presença vão fazer falta. Para alunos e professores se ouvirem, se verem, para exporem a matéria, para tirarem dúvidas... No entanto, na fase em que estamos da pandemia, diz quem sabe que não havia outro remédio. Logo, terá mesmo de ser assim. E sei que, por estes dias em que não houve aulas, muitos professores fizeram formação. Ajuda muito, mas não resolve tudo. Há quem fale em 'pandemia social'. Não gosto nada de ser catastrofista, mas há tantas frentes a clamar ajuda. Nem todas com justeza, mas muitas, sim. Tantas margens que já não deviam ser margens!
E, entretanto, as camélias vão florindo. Mas, também para isso, elas precisam de clima favorável.
Desculpa, querido diário,
que o futebol não é tudo!
Mas é triste estar a ganhar
e, mesmo no fim, empatar,
vendo Braga por um canudo!!!!
domingo, 7 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo quarto dia
Um dia destes, passei uma boa parte da manhã a cozinhar. Fi-lo com gosto. Um dos pratos foi sopa de peixe. Quando há festinhas (agora não há, mas espero que voltem) de família, todos gostam desta sopa. Chamo-lhe sopa da Ana, porque foi a Ana, uma querida amiga, que me ensinou a fazê-la.
Precisei de peixe, batatas, tomates de cacho, cebolas, alhos, salsa, azeite, sal e piripiri (para quem gostar de picante, é claro. Eu gosto).
Pus salmão, raia e dourada. |
Coze-se o peixe e deixa-se arrefecer (Costumo dar uma fervura prévia ao salmão e deito a água fora).
Reserva-se um bom copo de água de cozer o outro peixe.
Tira-se a pele e espinhas ao peixe, pondo-o aos bocadinhos.
Põe-se as batatas a cozer na panela onde se vai fazer a sopa.
Num tacho, faz-se um refogado com bastante cebola, alho e os tomates pelados aos gomos.
Tempera-se com sal e com piripiri.
Vai-se juntando, aos poucos, a água de cozer o peixe.
Quando o refogado está apuradinho, junta-se à panela com as batatas e passa-se tudo com a varinha mágica.
Mistura-se o peixe e salpica-se com salsa.
Depois, é só saborear. Bem quentinha, de preferência.
Ah, já disse à família: quando acabar a pandemia, faço sopa de peixe para todos!
sábado, 6 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo terceiro dia
Hoje é sábado, prevê-se chuva e, como é fim de semana, o confinamento é ainda mais confinamento, porque está proibida a circulação entre concelhos. Se houver saúde e conforto em casa, não custa muito e é para o bem de todos. Se há doença ou desconforto em casa (e em casa podem caber muitos desconfortos), aí o confinamento incomoda muito mais.
Conforto e aplausos teve Chistopher Plummer, o Capitão Von Trapp belo, austero mas romântico do Música no Coração. Sou das inúmeras pessoas que já viu e reviu este filme inúmeras vezes, sobretudo no passado. Pois, como tudo o que é humano tem fim, o charmoso ator morreu ontem aos 91 anos. Deixou ficar beleza, encanto, elegância, delicadeza, romantismo, amor... um importante legado que fica e perdura.
E, curioso, li hoje que o ator não gostou nada de fazer o Música no Coração, o filme que o tornou tão conhecido e amado. E que até bebeu bastante para conseguir aguentar o papel. Quem diria, hein? Se for verdade, representou muito bem. Assim como cantou.
EDELWEISS - CHRISTOPHER PLUMMER & JULIE ANDREWS
sexta-feira, 5 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo segundo dia
Ontem aconteceram-me, para além de muitas coisas comuns, duas que destaco: uma chata e outra muito boa. Começo pela chata.
Como se vê, sou bastante autodidata na gestão da forma do meu blogue. Ontem, quis alterar a imagem e as dimensões do cabeçalho e, ups, foi uma desarrumação quase total. Tive de puxar daqui, arrastar dacolá, pré-visualizar, deixar de visualizar, chatear-me sem querer perder a paciência, enfim, lá consegui pôr no sítio muito do que queria e o resto terá ainda de ficar para outra fase. Depois de carregar as baterias da persistência.
Enquanto isso, a imagem do cabeçalho, por exemplo, não está onde eu queria, nem como eu queria, mas haja, pelo menos, algum sumo de laranjas da época.
A outra coisa, boa desta vez, foi o mail de um ex-aluno. Disse-me que encontrou o meu endereço por acaso e que tinha tido vontade de me escrever. Fiquei feliz. Quando, na sala de aula, ele lia poesia, escrita por ele ou de poetas do manual, a turma ficava suspensa das suas palavras e não se ouvia nem uma mosca. Impossível esquecer estes bons momentos que o mail, magicamente, ainda mais avivou.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021
Querido diário
Vigésimo primeiro dia
Há vinte dias que me aproximo de ti. Sem interrupção, desde que começou o confinamento. Pensamos todos que vai terminar, 'só não se sabe é quando.'
E como o nosso encontro de cada dia poderá continuar, e há mais proximidade entre nós, vou chamar-te querido diário. Concordas?
Como quem cala consente, não te deves importar.
Ontem até me comovi, o que também não é difícil, talvez por causa da pandemia. Chegaram quase três dezenas de médicos alemães para ajudar doentes portugueses com covid-19. Trouxeram camas e ventiladores.
A solidariedade é mesmo do melhor que há no mundo.
Mas também me irritam tantos casos de pessoas que passam à frente de quem tem o direito de tomar a vacina. Às vezes, nem sei quem tem razão, noutras vê-se logo que o xico-espertismo não deixa de ser como o vírus
Enquanto isto, continuo à espera da mensagem para a vacina da minha mãe, que tem mais de noventa anos.
Ah, apanhei esta camélia logo pela manhã - beleza silenciosa das pequenas coisas.
quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021
Diário do meu confinamento
Vigésimo dia
A Medeia Filmes, tal como fez no confinamento de março, disponibiliza filmes para ver em casa e de forma gratuita.
Ontem vi 'Chantrapas', de um realizador georgiano. Um filme belíssimo.
Poder estar em casa, ouvir a chuva e ver um filme, bem bom!
terça-feira, 2 de fevereiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo nono dia
E se toda a gente tivesse mimos nos aniversários?
Nota acrescentada agora:
Há pouco, abri o mail e deparei com uma mensagem que não conseguiu entrar no post do domingo passado.
Parece narcisista transcrever as palavras que se referem a mim, mas como se trata de uma grande amiga, e, sobretudo, diz outras coisas muito importantes, aqui vai:
'No rasto de Deus
O livro, que referes no teu post de 31 de janeiro, é, antes de tudo, fruto de uma boa comunicação, e eu sinto-me uma privilegiada por ter feito parte dessa “equipa pequena, mas muito coesa”. O que eu aprendi contigo, minha querida Amiga (e olha, Dê, que isto não é falsa modéstia nem é pose de vaidosa)!
Um livro é um dos poucos documentos que ficam para sempre e que poderão ser lidos daqui a séculos, como diz Irene Vallejo n´ O Infinito num Junco (livro que a minha Amiga Natal me ofereceu).
Pois Irene Vallejo tem razão; eu posso, hoje, facilmente, aceder a textos escritos há dez mil anos, mas não consigo ver os filmes gravados por mim há 30 anos em cassetes Beta e VHS (e até menos). Deus me valha! Falta-me (paradoxalmente) a tecnologia.
O livro Caminhando em Missão aí está, em suporte de papel, acessível para sempre.
Organizar em livro todos os documentos que íamos conseguindo dos Consagrados foi obra Dele? Com certeza que sim, mas até eu me sinto (e Ele que me perdoe) um pouco missionária quando folheio o livro e dou de caras com o olhar sereno, amoroso, alegre e indagador de uma carmelita.
Mantém-te saudável, Amiga. Cuida-te que isto há de passar.
Abraço.
Clémie'
Não é troca de galhardetes, mas também aprendi muito contigo, querida amiga Clementina. É possível fazer um trabalho em conjunto quando há motivações idênticas e o objetivo é comum. Neste caso, foi dar voz a dezoito Consagrados, muitos deles desconhecidos, mas que têm trabalhado, em diferentes continentes, para que o mundo fique melhor à sua volta e com pessoas mais felizes.
Como equipa redatorial, demos o nosso melhor para que não houvesse, gralhas, incorreções... e o livro ficasse, como gostas de dizer, 'uma relíquia'. Contribuímos nós, a Rosa Amélia, a Isabel, a Rosário, a Rute, a Dolores (somos duas com o mesmo nome), a Ana Loureiro, o padre Alípio com a ideia... Como dizes, o livro perdura no tempo. Felizmente. E há tanta coisa que é preciso descobrir, para além do ruído mediático!
Abraço, obrigada, e bom confinamento
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo oitavo dia
Faz hoje um ano, por esta hora, estávamos em viagem para Londres.
Íamos fazer uma surpresa à minha filha que fazia anos. Sem ela saber, tínhamos combinámos tudo.
Eles tinham decidido ir a Brighton, no Sul,
passar dois dias para festejar o aniversário.
Podiam ver o mar, conhecer um bocadinho
da cidade e a miúda podia correr na praia, se
não chovesse.
Pelo telefone e muito discretamente, íamos acertando alguns pormenores.
'O comboio está a chegar. Já os vi. Vamos. É esta carruagem'.
E entrámos. A minha filha que fazia anos nesse dia sorriu de alegria e espanto quando nos viu entrar.
A Clarinha nem sabia o que dizer e pediu logo à tia que se sentasse junto dela para fazerem desenhos.
Foram dois dias felizes. Mal se viam ainda máscaras e tudo parecia normal, embora, se calhar, já não o fosse.
Há dias, perguntei se a Clarinha se lembrava dessa aventura. Sim, muito, e gostava que acontecesse tudo outra vez.
Fiquei feliz pelas memórias felizes.
Hoje, os parabéns são dados via internet - também rede de boas memórias.
domingo, 31 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo sétimo dia
Ontem à tarde, foi lançado, em redes sociais, um livro começado em 2019, ainda antes da pandemia, na paróquia de Gondomar/S. Cosme.
Fiz parte de uma equipa pequena, mas muito coesa. Coube-nos elaborar e tratar um questionário que foi enviado para Consagrados (dezoito padres, freiras e diáconos) em Missão por diferentes regiões e continentes. Quase todos nascidos na freguesia onde também nasci.
Sou católica por educação e por pensamento, mas, tal como muitos portugueses, assisto a cerimónias religiosas sobretudo em batizados, comunhões, casamentos e funerais!
Contudo, gosto muito de igrejas e de entrar quando passo e as vejo abertas. Gosto do silêncio e da música e das palavras que me elevam e não me afastam.
Com a vida que ajudámos a dar a este livro, fiquei com uma visão mais arejada de percursos de muitos religiosos e religiosas que trabalham na proximidade ou à distância, quase sem rede, quase incógnitos, mas que, ainda assim, não desistem.
Os bons exemplos são muito pouco divulgados.
E, apesar disso, para além da reflexão e histórias de vida muito interessantes e nem sempre fáceis, não falta - graças a Deus! - o bom humor.
O nosso trabalho de compilação, tratamento e publicação destas entrevistas foi uma pequenina missão, face à Missão de muitos que vou passar a respeitar ainda mais.
E haverá muitos mais com toda a certeza.
Hoje, dia em que passa a haver proibição temporária de passar fronteiras, continuemos o nosso confinamento. Também uma Missão.
sábado, 30 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo sexto dia
Ouvi e concordei plenamente:
É um privilégio ter saúde e poder ficar em casa!
sexta-feira, 29 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Era muito bom, mas dava muito trabalho ter a capoeira cuidada. Moral da história: fomos comendo as galinhas, lavou-se o espaço, mas ficou um pouco triste e vazio.
E se pintasse a capoeira e lá pusesse uns vasos? - Pensei eu. Sempre tinha mais graça.
Tornou-se assim uma capoeira com plantas. Apesar da estranheza da porta ainda de rede, parecem felizes porque têm luz e espaço.
Porém, não fazem esquecer as galinhas.
Tal como acontece com as pessoas. Podem não estar lá, mas lembramo-nos delas.
Vejo agora os números de hoje da pandemia.
Muito maus, mas um bocadinho menos maus do que ontem.
Sem os esquecer.
Entretanto, recebo um comentário (obrigada, Vítor) sobre o dia de ontem. Procuro o poema sugerido. E releio-o devagar, enquanto a tarde se vai escrevendo:
'Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios'.
(...)
Ricardo Reis
quinta-feira, 28 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo quarto dia
De manhã fui ao quintal e fiquei contente com a pequena colheita. Também apanhei camélias, embora não seja muito de ter flores frescas dentro de casa.
Ao ver estas flores, lembro-me com frequência do romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, que o meu pai tinha lido quando era novo e de que falava bastante.
Hoje ainda não sei se os números da pandemia continuam a crescer. Ouvi, a propósito disso, uma psicóloga a aconselhar não se ver notícias mais do que duas vezes por dia, para manter o equilíbrio emocional. Referiu também que ler, escrever, comunicar... faz muito bem em qualquer altura e ainda mais agora. Também acho.
A mesma técnica de saúde mental lembrou que, dantes, as pessoas passavam a vida a dizer: 'não tenho tempo', 'tenho pressa'.
Agora há mais tempo e temos é pressa que a pandemia passe. Para vivermos normalmente.
Os estudos revelam que a violência doméstica tem aumentado. Imagino esse horror dentro de quatro caladas paredes.
Não chove, mas o tempo está cinzento e húmido. Quase tudo parece parado.
Porém, os dias continuam. Amanhã, já é 6ª f.
quarta-feira, 27 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo terceiro dia
- Mãe, fui correr de manhã cedo e vi o nascer do sol.
- Que bom, filha, e que bonito. Que saudades das árvores de Londres. E muito mais de ti.
terça-feira, 26 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo segundo dia
Hoje, perto das oito da manhã, ouvi o Portugalex na antena 1. Todo o bom humor é bem-vindo.
Ontem o meu clube foi a Faro e ganhou. Bem-vinda, alegria.
Comecei a ler um livro do espanhol Enrique Vila-Matas. E tenho vontade de continuar sempre a leitura. Bem-vindos, livros assim.
Não está muito frio, mas, mesmo assim, tenho uma manta quentinha sobre os joelhos. Bem-vindas as coisas simples e boas.
Hoje, tal como ontem, há muito nevoeiro, a situação pandémica é muito má, haverá imensas coisas por/a fazer, mas qualquer D. Sebastião não seria bem-vindo.
segunda-feira, 25 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo primeiro dia
Hoje é 2ª f e ontem foi um domingo de muitas emoções.
Os números avassaladores da pandemia não diminuíram, infelizmente; a abstenção ao ato eleitoral foi mais reduzida do que o esperado, a organização das assembleias de voto foi muito elogiada.
A noite eleitoral foi de muitos números. De quem ganhava, de quem perdia, de quem subia ao segundo e terceiro degrau do podium...
E vimos
um presidente vencedor em todos os concelhos do país, um homem sui generis, que vive só, que comprou o jantar no restaurante, que foi ao volante do seu carro até ao local do seu discurso de vitória. Ouvimo-lo referir muitas solidões, muitas fraturas que é preciso resolver, muita exigência nos esforços para que a pandemia e a desunião não continuem a crescer,
uma mulher de meia idade, defensora de causas que não pode calar, embora se queixe de não ter sido ouvida por quem ela achava necessário,
um homem frenético e inquieto, que arruma as pessoas como em pastas de escritório, que põe perguntas às quais só ele quer dar resposta, que deixou sinais em montes e planícies onde se têm calado muitas solidões,
um homem bonito que não levanta a voz, embora a todos queira dar voz, mas que terá de encontrar outras formas para fazer ouvir a sua voz,
uma mulher jovem e serena que defende causas como a dos cuidadores informais e muitas outras das quais diz não desistir,
um homem jovem e desconhecido que alargou um pouco os resultados do seu partido e que afirma que ninguém pode desistir do que quer fazer, ainda que lhe digam que não é capaz,
um homem que diz conhecer as pedras da calçada, que tornou mais real a sua terra, dizendo que nunca nenhum rei nem nenhum presidente a visitou, mas que este último é cada vez mais desejado.
Ah! Ontem vi uma magnólia já em flor. Será um bom sinal?
domingo, 24 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Décimo dia
Hoje o meu dia começou com muitas dúvidas. E não são apenas minhas, com certeza.
Será este dia outro dia com máximos de óbitos e de pessoas infetadas?
Para quando a descida deste pico prolongado da pandemia?
A abstenção nas eleições de hoje será elevada como se espera ou haverá surpresas?
Será apenas cansaço ou falta de disciplina quando ainda há pessoas que saem para passear e não usam máscara?
A chuva continuará a dar tréguas como nesta manhã?
Ainda há muito dia para viver. E que bom que é poder dizê-lo.
sábado, 23 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Nono dia
Hoje, pouco depois das oito horas, o céu estava carregado e a chuva tinha força para ser ouvida enquanto caía.
Como tenho uma laranjeira (algumas laranjas têm caído com o vento), fiz um copo de sumo, o café que não dispenso logo de manhã e pus a minha compota de abóbora nas fatias de pão. Liguei a televisão, mas desliguei quase logo. Aquelas notícias reduziam-me o prazer do pequeno almoço.
Vi que esta semana ainda não precisarei de ir ao supermercado, ou melhor, à mercearia local. Uso-a como o antigo anúncio das páginas amarelas: 'vá pelos seus dedos...' Telefono e trazem-me as coisas a casa. Tudo num caixote, mas devidamente organizado.
À uma hora da tarde, é proibida a circulação entre concelhos. A minha mãe chama-lhe 'cadeado' e usamos, por graça, a expressão que achamos engraçada.
As variantes sul-africana e inglesa já andam por cá. O mundo é global e também o vírus.
Hoje é 'dia de reflexão', como se institucionalizou antes das eleições. Para o voto antecipado, não foi necessário e acho que não (me) fez falta, porque, nesta altura, já toda a gente sabe em quem vai votar. Ou, pelo menos, em quem não vai votar. Mas não faz nada mal ser dia de reflexão. Há um pouco mais de sossego. Para além de todos os desassossegos atuais.
E se as notícias amanhã também dessem mais sossego e não tirassem o prazer do pequeno almoço?
sexta-feira, 22 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Oitavo dia
Esta planta, cujo nome desconheço, veio 'bebé' para minha casa e tem crescido bastante. Gosto muito desta planta. Remete-me para a ideia de liberdade, de luz, de espaço, de resguardo...
Ontem à noite, o vento soprava tanto que parecia o ribombar de trovões. Vi que era 'apenas' vento, o que não já não era pouco. Desde criança que tenho medo da trovoada. Nessas alturas, era um alívio ouvir o meu avô, com os seus olhitos azuis, pequeninos e matreiros, dizer que a trovoada estava por cima de nós, mas logo ia passar. E não é que passava mesmo. Ou então era o medo que passava.
Fecharam as escolas. Parece que não havia alternativas, perante o galopar desenfreado do vírus. Chovem críticas, mesmo de muitos que não queriam vê-las abertas.
Muitos pais não sabem como entreter os filhos em casa. Porque são como as plantas que crescem em busca de liberdade, de luz, de espaço, de resguardo...
quinta-feira, 21 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Sétimo dia
Por estes dias, impossível não pensar no poder quase absoluto de um homem que desagua
na fragilidade e pequenez humana, como qualquer ser humano comum
na solidão ou vida ficcionada com traços de loucura
no contraste entre a vida faustosa de um palácio dourado e a prosaica necessidade de desinfeção anti-vírus de todo o seu recheio...
'A solidão é perfeita como um rasgo entre
as nuvens, ao último sonho. A solidão
que se cala em teu fundo e vai envelhecendo
na terra perdida do som descompassado.
Te guardas na intimidade dos armários,
onde a paz é negra e se desagrega a luz.
Nunca foste mais do que uma ficção, matriz
de riso e sombra, um poço verde, teorema
de ilusões, engrenagem de poentes roxos.
E, agora, frouxo, já nada designas ou
desenhas. És, apenas, testemunha efémera
e longínqua, trovão engolido de Deus,
fingidor ferido de doces cantos, mentira
precária nas cordas de uma harpa febril.'
Orlando Neves (1935/2005)
Ontem chorei a ver na televisão a cerimónia de tomada de posse do novo presidente dos Estados Unidos. Disse-o à minha filha que vive em Londres. Respondeu-me que também ela. O companheiro é americano, mas sei que a emoção não era por uma questão de nacionalidade.
Eram os valores humanos que estavam a ser defendidos, era ver gente normal a querer recuperar a boa normalidade da vida das pessoas, apesar de todas as instabilidades.
A pomba da paz - usada por Lady Gaga, que cantou o hino americano |
Não queria nada ser governo. As escolas, afinal, vão fechar. Dizem que é a mais provável solução. Entretanto, o vírus vai avançando vencendo todas as probabilidades. Muitos pais devem estar aflitos. A chuva continua.
Tenhamos esperança ativa em melhores dias.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Sexto dia
O meu clube ontem perdeu, nos últimos minutos do jogo. Outro clube viveu as alegrias da vitória.
Hoje o presidente do país mais poderoso do mundo cessa funções, com o índice mais baixo de popularidade. Mesmo assim, cantando vitórias pela 'vã glória de mandar'. O ser humano é surpreendente.
Outro presidente inicia o seu mandato numa capital preparada para uma guerra feroz que pode vir de dentro do país e não de fora. A festa da tomada de posse deu lugar a barricadas como se de uma guerra se tratasse. A ainda primeira dama fez um discurso apelando à paz, ao amor, à generosidade, à união. Oxalá seja seguido.
Não haverá público a aclamar o novo presidente nas ruas de Washington, ainda que legitimamente eleito. Os tempos são de estranheza e grandes desafios. E exaltantes também.
Em lugar de muita gente a aplaudir, estarão milhares de bandeiras a esvoaçar ao vento em homenagem aos mortos pela pandemia.
Vou tentar seguir a cerimónia pela televisão. Haverá diretos pelas televisões portuguesas. A CNN também de tudo dará conta. Tenho pena de não entender tudo o que dizem. O que vale há subtítulos que ajudam à compreensão.
Por falar em homenagem, não somos um país de grandes elogios. E são tão necessários. E são tão merecidos. Os profissionais de saúde, os professores, os trabalhadores dos mais variados setores abertos ao público, quem se protege e quem protege os outros, quem olha para os que estão próximos e estão a passar dificuldades e faz alguma coisa para os ajudar...
O céu, também por cá, está muito cinzento e carregado. O vento tem soprado com força. E prevê-se trovoada. Os céus também andam revoltos.
'Depois da tempestade vem a bonança'. Tenhamos esperança.
terça-feira, 19 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Quinto dia
Como flores que haviam sido plantadas, mas pouco olhadas ou sequer entendidas.
Pela força estrondosa e medonha dos números, ouviram-se muitos apelos pedindo atenção e recato.
Tinham chovido críticas pela indiferença, pelo esquecimento do cuidado que é preciso ter para preservar a vida de todos e de cada um.
E, entretanto, silenciosas, flores como as azáleas iam-se abrindo. Sem qualquer sobressalto. Esse foi pedido aos portugueses, porque a mudança era urgente. E o tempo é de sobressalto.
Sem esquecer nunca que existem flores.
segunda-feira, 18 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Quarto dia
Ontem, fui votar para as presidenciais, já o sol pouco aquecia. Gosto muito da luz de final de dia. Tenho uns amigos que partilham fotos fabulosas com as cores mais imprevisíveis do céu e as formas mais estranhas desenhadas no firmamento.
Tal como muitos portugueses, fiquei admirada pela adesão ao voto antecipado. À porta da EB2/3, duas senhoras mediam a temperatura a quem chegava. Uma delas avisou: 'há um atraso de duas horas'. Mesmo assim, arrisquei e dirigi-me à secção de voto, que me havia sido indicada.
Afinal,
tinha apenas uma pessoa à minha frente. Às vezes, é preciso ver para
crer e o que é verdade nalguns casos não o é noutros.
Antes de sair de casa, recebi uma mensagem de whatsapp, da minha filha que vive em Londres. A minha neta tinha dito: 'I love that rice', ao ver a foto do arroz que eu tinha feito ao almoço. E interrogo-me saudosa: quando poderei voltar a vê-la, fazer-lhe (a minha) comidinha de que gosta, dar-lhe um abracinho, dizer-lhe: querida, diz em português...
Eu gosto desse arroz, disse ela e fiquei contente por ainda não o ter esquecido. Há mais de um ano que os encontros são apenas virtuais. Como eu estão muitas mães e muitas avós cujos filhos ou netos emigraram.
Falei no feminino. Que me desculpem os homens porque também sentem saudades. Talvez ainda não o verbalizem tanto.
Enquanto isto, recebi fotos, tiradas nos arredores de Londres, à hora matinal de uma corrida higiénica. E, curioso, a uns dez minutos, de metro, ir ao centro da cidade para muitos parece miragem, porque há muitos perigos de vírus e variante(s).
Também já não vou ao Porto há bastante tempo, apesar de viver a uns 15 m. Recorro mais ao comércio local. O que não é urgente pode esperar. E há tantos caminhos próximos para percorrer. Para conhecer. Para viver. Assim como em casa.
Hoje haverá novas regras de confinamento.
Que bom seria que houvesse mais vida anunciada.
domingo, 17 de janeiro de 2021
Diário do meu confinamento
Terceiro dia
Hoje cabia-me a mim ficar com a minha mãe. Quando saí de casa, estava frio, havia geada e pouca gente circulava na rua.
Depois, lá em casa, foi o costume, felizmente. Digo assim, porque, agora mais do que nunca, quando a rotina se mantém e não há sobressaltos, é ótimo.
Preparei o nosso almocinho e, como era domingo, fiz assado.
Para a minha mãe, domingo sem assadinho é como não ouvir a missa, que não dispensa. Hoje era transmitida da ilha Terceira nos Açores, aonde eu gostava de um dia voltar. Quando se virem de novo os sorrisos, não revelados apenas pelos olhos. Fica a ideia. Ou o sonho?
Uma das notícias que ontem mais me chocou foi ver uma fila de ambulâncias à porta da Urgência de um hospital de Lisboa, com as aflitivas luzes intermitentes, a sinalizarem muitos doentes covid-19 em espera. Minutos antes, tinha visto outras imagens com muitas pessoas a passear descontraidamente junto ao mar, sem distância social e sem máscara.
Não, não acontece só aos outros.
Vejo agora, pela notícias, que muita gente aderiu ao voto antecipado. Um bom sinal, penso eu. Porém, é dito na mesma peça que as pessoas não se afastam como se deveriam afastar.
Também estou inscrita para o voto antecipado, mas não queria ir para a fila.
Enquanto espero, vou ver se tenho bâton vermelho!!!!