sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Diário do meu confinamento

 

Décimo quinto dia

 


Há muitos anos, tive galinhas. Punham ovos, tinham a crista vermelhinha e era engraçado vê-las no poleiro, a comer insetos e ervas no quintal, a cacarejar...

 Era muito bom, mas dava muito trabalho ter a capoeira cuidada. Moral da história: fomos comendo as galinhas, lavou-se o espaço, mas ficou um pouco triste e vazio.

E se pintasse a capoeira e lá pusesse uns vasos? - Pensei eu.  Sempre tinha mais graça.

Tornou-se assim uma capoeira com plantas. Apesar da estranheza da porta ainda de rede, parecem felizes porque têm luz e espaço. 

Porém, não fazem esquecer as galinhas. 

Tal como acontece com as pessoas. Podem não estar lá, mas lembramo-nos delas. 

 

Vejo agora os números de hoje da pandemia. 

Muito maus, mas um bocadinho menos maus do que ontem.  

Sem os esquecer.

 

Entretanto, recebo um comentário (obrigada, Vítor) sobre o dia de ontem. Procuro o poema sugerido. E releio-o devagar, enquanto a tarde se vai escrevendo:

'Segue o teu destino,

Rega as tuas plantas,

Ama as tuas rosas.

O resto é a sombra

De árvores alheias.

 

A realidade

Sempre é mais ou menos

Do que nós queremos.

Só nós somos sempre

Iguais a nós-próprios'.

(...)

Ricardo Reis


7 comentários:

  1. Que engraçado! Está muito giro!
    Sabe que vivi uma história parecida? A minha mãe criava galinhas e coelhos no capoeiro ao fundo do quintal da casa onde vivi a infância e até aos 35 anos. Alternadamente, tinha fases em que acabava com os animais, que como diz davam muito trabalho, para manter tudo limpo. Numa dessas vezes, ainda éramos pequenos, o meu irmão mais velho pintou tudo (com cal), colocou prateleiras nas paredes, abriu uma janela para o capoeiro das vizinhas, que também arranjaram o capoeiro delas e eram as nossas casinhas. Foi especial.

    Beijinhos :))

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  2. Que giro! A sua experiência é ainda mais criativa e engraçada. E as casinhas arranjadinhas deviam ser mesmo de encantar. É bom haver estas boas memórias.
    Beijinho e bom fim de tarde

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  3. Um post muito interessante. Gostei da casinha das galinhas transformada em estufa de plantes e do poema de Ricardo Reis.
    Abraço, saúde e bom fim de semana

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    1. Que bom, Elvira, fico contente.

      Outro abraço e um sábado com muitos momentos felizes.

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  4. Ficou um jardim bem bonito... Só não dá ovos nem as come. Lool Mas fazem bem à alma e liberta o stress cuidar delas!
    -
    A voz que me afaga e endoidece
    .
    Beijo, e bom fim de semana.

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  5. Concordo, Cidália. Para mim, ter plantas à minha volta é importante.
    Um beijinho e bom sábado.

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  6. E já ouviu esse poema cantado por Maria Bethânia? Fica lindo.

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