Ela saiu de casa logo pela manhã, em véspera do Ano Novo. Chegou ao Porto ainda não eram nove horas. A cidade estava sonolenta, cinzenta, húmida, solitária.
No café Guarani, viam-se, pela vidraça, as mesas já postas para o almoço, sobretudo de muitos turistas. Uma mulher jovem limpava o chão. Mais acima, um barbeiro ensaboava a cara do cliente. O café Aviz foi a paragem para o pequeno almoço. Ela tinha lá estudado algumas vezes, há muitos anos. Pela janela, viu uma gaivota a pousar por momentos sobre um carro, uma mulher de saltos muito altos a passar pesando os passos, uma jovem à janela à procura de rede para o telemóvel...
Saiu, aconchegando-se com a gola do casaco que aquecia e sempre protegia da chuva miúda. Subiu em direção à Praça dos Leões. Mais uns passos e entrou na igreja do Carmo. Recordou visitas de estudo ao Porto Barroco. Esta igreja era quase sempre referência. Lá dentro, umas dez pessoas rezavam - quase todas de cabelos brancos.
Em frente à Universidade, passou por lojas antigas, que ela se habituou a ver desde que tinha consciência de ver. Entrou numa delas, pequenina, com peças de pano de múltiplas cores, novelos de linha...
Nesta loja, haveria chita de certeza. Sim, temos. Pode escolher. Deste lado é popeline mas faço o mesmo preço. Oh, sim, este artigo agora vende-se muito bem. Há muita gente desempregada que faz muitos trabalhos para vender.
Entra uma senhora muito idosa na loja. Parece presença habitual, mas o tempo parece pouco para conversas. D. Maria de Jesus, agora estou muito ocupado. Não, este jornal não é de hoje. Boas entradas, D. Maria de Jesus. Venha para a semana e eu já terei mais tempo para falar.
Desce os Clérigos. Repara nas montras. Numa, com roupa de cama, pode ler-se num pequeno letreiro junto a uma mantinha: "Extremamente confortável". Uma mulher varre o passeio em frente a uma loja e limpa o visor da caixa Multibanco (talvez só a tenha tocado com esta função). Aproxima-se um homem de cabelos brancos e compridos. Falam. Tem de ser. Lá por ser final do ano, tem de se trabalhar na mesma, ora e(i)ssa!
É quase meio-dia. E se fosse almoçar à Império? Os rissóis são "extremamente saborosos".
Senta-se a uma mesa. Vem a empregada. Olham-se e surpreendem-se. Já foi minha professora de Francês. Bem me parecia que a estava a conhecer. Então, está tudo bem? Há quanto tempo!
Ela, saindo, entra de novo nas ruas da cidade de que tanta gosta e que raramente percorre assim devagar. Lembra-se com tristeza do que ouviu há dias: "às vezes, tenho saudades do Porto. Quem me dera poder ir lá outra vez".
Chega a casa. Faz rabanadas. E gostaria de a todos desejar: Feliz Ano Novo!
Feliz ano novo, amiga.
ResponderEliminarBeijo e xi-coração.
Obrigada, amigo.
ResponderEliminarFeliz Ano Novo também.
Um abraço