sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Adriana

A primeira vez que vi Adriana no Ateliê de Artes, ela estava muito constipada e rouca. Estava a fazer uma caixa para dar à mãe, a partir de um fundo de garrafa de sumo. Tossia mas não desistia de construir a caixinha. Tirou da mochila  um saquinho de botões usados para pôr na tampa.

Perguntei-lhe se estava a escrever um conto sobre a palavra Amor para o concurso da escola. Que não, mas ia tentar. E sorria. E dizia que também gostava de histórias.

Com as mãos gordinhas, ia ajeitando o plástico com ternura. E com paciência. E com sorrisos. Queria dar também uma caixa à avó e outra ao pai. Já sabia que caixa ia dar a cada um. Perguntava opinião sobre os botões que devia colar para o presente ficar mais bonito.

Hoje, Adriana estava a fazer postais. Numa pequena cartolina, tinha colado corações a partir de bocadinhos de tecido. E pediu-me uma sugestão. A mim, que vou só uma vez por semana ao ateliê para fazer pequenos trabalhos de que também gosto. Eu fazia também postais muito simples com recortes de papel e de tecido. Como a professora de Educação Visual estava ocupada, ela perguntou-me: professora Dolores, acha que fica bem assim? 

Disse-lhe como eu achava melhor. Chamou-me de novo para ver o resultado. Muito bonito, Adriana.

Com a sua carinha risonha, voz meiga, mãozinhas generosas fez-me recuar no tempo. Que pena ser irreversível!

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