- Meninos, já sabem que devem abrir os cadernos e os livros.
- Calma, setora, ainda agora chegámos!
- E as mochilas, não as quero em cima da mesa, já sabem.
- Hmmmm
- Vamos lá, então, corrigir o trabalho da casa. Podes começar.
- Setora, não fiz.
- Diz tu, então.
- Não tive tempo de fazer, professora.
- E tu?
- Só respondi a uma questão, porque não percebi.
- Então, diz o teu colega.
- Também não fiz.
- Bem, passemos, então a quem fez.
A chuva tinha abrandado, apesar de o céu continuar carregado. A sala de aula estava quente. Dizem que os materiais utilizados nas paredes aquecem bastante. A porta, pesadíssima, só para fechada. Para entrar o ar, entreabri a janela. Passámos ao estudo pormenorizado do texto.
- Setora, agora já percebi melhor.
- Quantas vezes tinhas lido o poema?
- Duas.
- Se calhar, tinhas de ler outras duas.
Cheguei à sala de diretores de turma e estava-se a falar dos rankings das escolas. E dos lugares cimeiros dos estabelecimentos de ensino privado. E das aulas suplementares. E das sessões de preparação para exame. E dos avisos que fazem aos alunos e aos encarregados de educação se o rendimento decrescer ou o comportamento piorar. E do controle que é feito pelos pais porque lhes sai muito dinheiro do bolso ao fim do mês. E da supervisão atenta a todos os casos. E das expectativas dos alunos e das famílias.
O céu continuava com o peso de um frio outono.
E, apesar de tudo, íamos pensando que o inverno ia demorar a chegar.
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