sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Morreu Manuel António Pina



É muito triste quando morre um escritor, sobretudo em idade em que muito podia ainda produzir.

Manuel António Pina nasceu em 1943, na Beira Alta e viveu no Porto desde os 17 anos.

Escreveu poesia, crónicas,  livros de ficção para diferentes faixas etárias...

No ano passado, em 2011, recebeu o prémio Camões.



As palavras, nestas circunstâncias, são sempre de circunstância e pobres.

Lembro-me de, há uns dois anos, ter ido à feira do Livro do Porto. Ele estava num dos stands a dar autógrafos. 

Nesse dia, comprei uns livros para crianças e dirigi-me ao escritor para que autografasse um que eu queria oferecer. Ele estava com o telemóvel na mão, pediu-me desculpa, mas tinha de atender uma chamada da família. Eu, mera e comum leitora; ele, um escritor consagrado, falava-me de forma afável e afetuosa. Como, pelos vistos, era seu hábito. 

Muitas das crónicas do Jornal de Notícias ter-se-ão perdido no turbilhão dos dias. Mas os ecos dos 1100 caracteres diários viverão em muitos leitores. Tal como os seus livros.


Recordemos um poema que escreveu:

A um Jovem Poeta  

Procura a rosa.
Onde ela estiver
estás tu fora
de ti. Procura-a em prosa, pode ser

que em prosa ela floresça
ainda, sob tanta
metáfora; pode ser, e que quando
nela te vires te reconheças

como diante de uma infância
inicial não embaciada
de nenhuma palavra
e nenhuma lembrança.

Talvez possas então
escrever sem porquê,
evidência de novo da Razão
e passagem para o que não se vê.

Manuel António Pina, in Nenhuma Palavra e Nenhuma Lembrança
 

4 comentários:

  1. Foi no sábado passado que um dos seus poemas veio ter connosco. Mal sabíamos que uma semana depois não haveria mais palavras suas a arrebatar o branco do papel...
    Ficámos mais pobres também sem o seu bom humor!

    É caso para dizer: até sempre!
    IA

    PS: coloquei igual comentário em Carruagem 23.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É verdade. Ainda bem que pude partilhar, aqui e nesse sábado, o poema que Cristina Mello trouxe para a ação sobre a Leitura.

      Felizmente ele ainda estava vivo porque, muitas vezes, só lembramos o valor de alguém após a sua morte!

      Beijinho

      M.

      Eliminar
  2. Honras ao autor de "Aquele Que Quer Morrer".
    Vida às palavras que nos deixou.
    Tudo por uma forma de felicidade, tal como ele o dizia.
    http://carruagem23.blogspot.pt/2012/10/uma-forma-de-felicidade.html

    ResponderEliminar
  3. Sim,as palavras também são Vida. E uma maneira boa de se encontrar também essa "forma de felicidade".

    Beijinho
    M.

    ResponderEliminar