terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Quadragésimo dia

 

Hoje passei toda a manhã com a minha mãe e, mais uma vez, apreciei o quadro. Ela tem vários gatos que vão nascendo, aparecendo e ficando. Os que tem agora são quase todos irmãos e a mãe também lá mora. O pai é que não deve ser o mesmo, porque, de vez em quando, a gata esquiva-se sem dizer água vai. Só não sei se vai e vem em noites de lua cheia. Ora, a minha mãe também tem um canário que foi dado por dois bisnetos no Natal. O canário é muito bonito, muito cantador, de cor rosada e vive numa gaiola que está no parapeito da janela da cozinha que dá para o pátio. Os gatos andam sempre por ali porque é também no pátio que têm o abrigo. Quando está sol - como esteve hoje - saltam para o parapeito exterior da janela, levantam ufanamente a cabeça e não arredam pé, ou melhor, as patitas, num cenário de paraíso à janela. O canário baloiça, o gato esfrega a pata no vidro, o sol vai entrando, o cantar do pássaro vai-se ouvindo...

Enquanto fazia o almoço e a minha mãe dormitava, eu ia apreciando aquela aproximação quase de primeiro namoro.  Até poderia dar-lhe um título: idílio ao sol!

Ou, como o tempo está incerto, talvez outro que o olhar e os dentes afiados do felino me sugeriram: o sol é que nos une, mas ainda bem que há o vidro da janela que nos separa!

 

 

9 comentários:

  1. Pois, apesar do quadro estar bem pintado, ser bonito e até conter certo calor benéfico que os leitores imaginam (eu, neste caso), acredito no último parágrafo do seu texto. Não se foge à condição com que se nasce, sobretudo quando se trata de animais irracionais. Felizmente que há o vidro:)
    Nunca esquecerei os esforços que fiz para salvar um passarito preso no cano da salamandra e, mal abri a rede da cozinha para que voasse até à liberdade, a gata que estava apenas em espera, saltou e comeu-o de pronto. Tão pouco lhe durou o ser feliz. Assim nós às vezes. É a vida.
    Mas gostei desse fresco colorido em tons quentes. Imaginei até sua mãe dormitando em seu descanso de ter a filha perto a fazer-lhe o almoço.

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  2. Obrigada, Bea. Fico contente por ter gostado do quadro que esbocei logo que cheguei a casa e que me vinha na cabeça.
    Sim, a realidade é o que é e quase ninguém pode fugir dela. A minha cadela é muito meiga e querida, mas se apanhar algum pássaro de voo mais frágil ou desprevenido, logo o apanha e o resto facilmente se imagina.
    Que a tarde esteja a ser boa.

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  3. Que beleza. Os animais e o sol. Tudo fica mais alegre. Adoro ouvir os canários ou outros pássaros cantar! :)
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    Abro a janela e deixo a brisa entrar
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    Beijo e um excelente dia :)

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  4. Olá, Cidália. Sim, a natureza oferece-nos quadros muito bonitos. Só é pena os canários estarem presos, não é verdade? Mas, se forem felizes, ajuda bastante.
    Um beijinho

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  5. Gostei muito do texto!

    Há pouco tempo, o meu sobrinho trouxe aqui a casa o gato que têm. Chegou-o junto da gaiola do passarinho. O gato tentava chegar-lhe com a patita, mas o canário ficava impávido e sereno...até estranhei. Mas na verdade, creio que ele nunca tinha visto nenhum gato; não conhece o inimigo!

    Saúde para a sua mãe!

    Beijinhos:))

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    1. Era um pássaro com calma. Fez ele muito bem, porque assim até acalmava o gato.
      Um beijinho, Isabel

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    2. Obrigada, Isabel, muita saúde também para a sua mãe.
      Um beijinho

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  6. Um quadro muito bonito, e muito bem descrito, mas vou mais pela segunda hipótese.
    Abraço e saúde

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  7. Bom dia, Elvira. Claro, a vida vai-nos ensinando que a realidade é o que é.
    Um beijinho

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