quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

À espera de melhores dias

 

 Quadragésimo segundo dia

 

Nota 1. Há pouco, ouvi um homem velho, que vivia num lar, a propósito das vacinas que já todos tinham tomado. Dizia-se feliz por isso, mas muito triste quando recebia visitas da família. Então, porquê? Quiseram saber. E ele logo respondeu: - Porque não os posso abraçar.


Nota 2. Está confinada em casa, como milhares e milhares de outras pessoas. Não recebe ninguém. O filho vem só de vez em quando, desde que se separou da mulher, e nada de aproximações para manter a distância física recomendada. Os netos deixaram de vir, porque, dizem, convivem com amigos e podem espalhar bicharada. Pensa como dantes era feliz sem saber, dando e recebendo abracinhos. Agora, o corpo parece gelar-lhe de solidão. De vez em quando, fala disto ao marido, ele olha-a com apressada compaixão, porque há sempre um jogo de futebol que vai começar e que ele quer ver. Um dia, sozinha, cruzou os braços, apoiou as mãos nos ombros e aconchegou-se num abraço.


Nota 3. Num grupo do whatsapp, alguém escreveu ao saber que as notícias sobre covid-19 tinham melhorado: 'Quando puder, vou abraçar à maluca'. Logo surgiu outra mensagem ainda mais divertida: 'Comigo, muita gente vai ficar pisadinha'.

 

Nota 4. Felizes os seres vivos que se podem abraçar, ao sabor do sol, da chuva e do vento.


10 comentários:

  1. Não vale a pena chover no molhado, não é tempo de abraços. Mas será que todos os tinham antes, será que a saudade de abraços não vem, sei lá, da infância ou da juventude e já a memória lhes falha o sentir; e não será que há gente que ninguém abraçou com vontade de abraçar. Eu acredito nessas hipóteses e elas sim, são deveras tristes. Porque tardar em abraçar é criar saudade que se pode matar. Não ter quem abraçar, ou haver outras razões que tornam os abraços impossíveis, é de facto uma tristeza. E, no entanto, vive-se sem abraços.

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  2. Boa tarde, acho que dias melhores, são os sonhos de todas as pessoas espalhadas pelo mundo.

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    1. Olá, Luíz. Sim, a vida é tão complexa e, ao mesmo tempo, tão bela. Uns dias bons, Luíz.

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  3. Olá, Bea, obrigada pelo comentário que levanta questões muito interessantes. Eu, que pertenço a uma geração e a um meio em que não eram muito frequentes os beijinhos e abraços, sinto a falta de dar um abracinho a algumas pessoas muito queridas e muito próximas, com quem não estou diariamente. Porém, também acho que o mais triste é haver tanta gente que não é/foi abraçada, na infância e na juventude, e a vida também não acarinhou. Falar-se tanto da falta de abraços talvez lembre essas ausências e esses desejos. Veremos se há mudanças quando houver o desconfinamento.
    Uma noite descansada, Bea.


















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  4. Estou com esperança que estamos no bom caminho. Todos por um...
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    "Uma janela para a vida"
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    Uma excelente noite. Beijo :)

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    1. Os dados dizem que sim. Felizmente, Cidália. Sim, não podemos é esquecer o esforço de todos.
      Um beijinho e um bom dia de sol

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  5. Quem como eu gosta de abraços, sente-lhes a falta. Eu mesmo assim não me posso queixar. Abraço o marido, e as netas. A pequenina, ano e meio está sempre ao colo, a dar abraços e beijos e a dizer. "vovó amo" Engraçado que a mim me chama vovó e ao avô "Bu, amo". A mais velha é mais contida mas também nos abraça.
    Abraço e saúde

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    1. Ai que ternura são as suas palavras, Elvira. Não é que eu ande aos abraços a torto e a direito, mas há certos abracinhos que me fazem muita falta, como os da Clarinha, a minha neta. Há um ano e um mês (até sei de cor) que não estou em presença com ela. Neste caso, é mesmo muito tempo.
      Um beijinho e um dia feliz

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  6. O tempo ainda não é de abraços. Mas já só faltam alguns meses...
    Bom fim de semana, querida amiga Maria Dolores.
    Beijo.

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  7. Obrigada, amigo Jaime. Sim, a vida mudou bastante com esta pandemia e, se calhar, temos mesmo de nos habituar a estas e outras mudanças.
    Para já, venha o pós-Páscoa, então.
    Um abraço

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