terça-feira, 30 de março de 2021

O autocarro e o postal grande

 

Quando as minhas filhas estavam no início da adolescência, fizemos, em família, uma viagem à Bretanha e fomos por uma Agência de Viagens. Quando cresceram mais, convenceram-nos a viajar com roteiro e horário feitos por nós. E tinham muita razão, mas não foi isso que me levou a escrever este texto.

Ora, nessa viagem, seguimos de Paris de autocarro até à Bretanha, região francesa de cidadezinhas maravilhosas e de mar tão encrespado quanto belo. O autocarro tinha lugares marcados e à minha filha mais nova coube uma bonita senhora já idosa como companheira de lugar durante esses dias. Viajava sozinha, era muito discreta e muito simpática com toda a gente. Nunca falava da vida pessoal, só de viagens e se o tema vinha a propósito. Havia muitas vezes espetáculos ao jantar, mas ela nunca estava presente. Uma vez, disse que ficava no quarto a fazer puzzles, que era um dos seus passatempos favoritos, e que gostava de fazer sobre os sítios por onde viajava.

Porém, com a minha filha, sobretudo nos tempos de viagem no autocarro, havia sempre assunto. Conversavam sobre leituras, sobre a região, sobre filmes, sobre a escola, etc. Eu digo conversavam, embora a minha filha fosse mais ouvinte, ainda que sempre interessada (nesse tempo, ainda não havia telemóveis). Quando saíamos do autocarro para uma visita, a minha filha juntava-se a nós e a senhora integrava-se no grande grupo, sem nunca perder a discrição e o ar solitário.

Durante esses dias, foi-se criando uma grande empatia entre ambas, embora só falassem enquanto viajavam lado a lado no autocarro. No último dia e na despedida, pediu o nome e morada à minha filha para lhe mandar um postal. E assim foi. Passados alguns dias, recebemos em casa um postal enorme em que a senhora dizia que lhe queria agradecer a boa companhia durante a viagem. Julgo que guardámos o postal durante muito tempo, mas não sei se a minha filha chegou a responder-lhe. Sei, contudo, que nunca se esqueceu de D. Clotilde, sua companheira de autocarro através da Bretanha.


14 comentários:

  1. Às vezes encontram-se companhias simpáticas nas viagens longas.
    Abraço e saúde

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  2. Sim, muito simpáticas. Há muito tempo que não faço este tipo de viagens, mas o lado prático às vezes dá jeito. Há, contudo, muitas desvantagens, quando o programa é ver muita coisa em pouco tempo. Quando se chega ao fim, pouco ficou da correria e gastou-se muito dinheiro.
    Abraço e uma noite descansada, Elvira.

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  3. É sempre bom encontrar pessoas diferentes para conversar. Acontece muito nas viagens :)
    -
    Beijos e uma excelente noite!

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  4. Muito bom e faz parte das boas recordações.
    Um beijinho e um dia bom.

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  5. Bom dia, saudades dessa experiência minha amiga.

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    1. É mesmo, Luiz, como acontece quando as coisas correm bem e a experiência é boa.

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  6. Há assim pessoas empáticas que encontramos, com quem conversamos e que gostamos de conhecer. Não as esquecemos, marcam-nos por qualquer motivo. E separamo-nos com o mesmo espírito com que as encontrámos, sem esforço.
    Também fiz com um dos meus filhos uma viagem semelhante; percorremos, a partir de Paris e de autocarro, várias zonas do norte de França. Que lugares frios e varridos de vento, uma névoa que mal nos deixava distinguir o encrespado do mar. Não gostei senão de uma cidadezinha pequena de que já não recordo o nome e onde por milagre, não havia nevoeiro. Foi ali que meu filho foi desenhado a sépia.
    Também adorei a companhia:).
    Boa tarde, Maria.

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  7. Obrigada, Bea. Fizemos várias viagens assim, mas essa senhora ficou na nossa memória. Às vezes ainda falamos dela. Foi um encontro muito bom.
    Eu adorei essas cidades pequenas da Bretanha e tivemos, então, a sorte de nunca apanhar nevoeiro. Nessa viagem, fomos ao Mont S. Michel que também me encantou. Às vezes penso que gostava de voltar a essa região, mas, o que é natural, as impressões já seriam diferentes.
    Bom fim de tarde, Bea.

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    1. Também fomos a S. Michel, pareceu-me irreal, coisa de sonho e fantasia. Mas as pessoas que por ali se atropelam logo me desfizeram dúvidas. E havia sol. Um dia inteiro em S.Michel foi bastante agradável.

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    2. Um dos problemas são as enchentes. Agora custa ver ruas desertas e lojas fechadas, mas querer circular e não o poder fazer; querer ver qualquer coisa, mas haver sempre camadas de pessoas à frente... logo desfazem muitos sonhos. Mas, se calhar, as outras pessoas pensam o mesmo.
      Bom fim de tarde, Bea.

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  8. Foi pena não ter respondido...

    Sabe uma coisa engraçada? Acabei de descobrir que começámos os blogues exatamente no mesmo dia: 14 de Julho de 2011. Andei a espreitar lá para trás...

    Beijinhos e continuação de boa semana:))

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  9. Que feliz coincidência, Isabel! Mesmo engraçado. Então, mais um motivo para as nossas visitas, para mim muito boas.
    Beijinhos e que semana continue com coisas boas e boas coincidências.

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  10. Gostei de ler esta narrativa escrita, de uma viagem que deixou gratas recordações. Foi pena a filha não ter respondido e, quem sabe, mantido uma correspondêcia regular com a senhora idosa e solitária.

    Um beijinho e que a Páscoa seja Feliz.

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  11. Obrigada. É verdade. E, de certeza, teriam assunto porque, apesar da diferença grande de idades, interessavam-se por muitas coisas em comum.
    Um beijinho, Janita, e uma Páscoa também muito feliz.

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