domingo, 29 de maio de 2022

Já sou fã deste polícia!

 

Tenho uma amiga que gosta muito de ler autores de língua espanhola. De vez em quando, envia excertos que são pérolas, como o que hoje partilho. Como também ando a ler o livro, já sou fã do polícia Melchor Marin, que foi convidado a fazer um discurso, coisa  a que não estava nada habituado!

Tenho pena é de não poder ler muito tempo seguido, porque há páginas cuja história não apetece mesmo nada interromper.

Obrigada, Idalina, por tão boas sugestões.

Oxalá gostem também.

 

 

"- Chamo-me Melchor Marín e sou polícia – apresenta-se. – Muitos de vocês já me conhecem. Fui jurado do prémio e por isso pediram-me que dissesse algumas palavras. Por isso e porque mais ninguém queria fazê-lo. – Melchor levanta um pouco os olhos na direção do auditório: quando preparava o discurso, pensou que seria bom começar com uma piada, para que os jovens se rissem; mas ninguém se riu. Talvez não tivesse graça ou ninguém o tenha ouvido. O alvoroço continua a ser considerável, mesmo que os professores percorram os corredores de cima a baixo tentando silenciá-lo. – E também porque gosto de ler romances – continua. – Isto não é muito comum, acho. O que quero dizer é que não é muito habitual os polícias lerem romances, certamente porque os meus colegas pensam que é mais útil e mais divertido ler sobre coisas reais do que sobre coisas inventadas. Talvez tenham razão e por isso percebo que alguns, às vezes, se riam de mim. Ao princípio, quando era mais novo, isso aborrecia-me; agora já não, porque me dei conta de que um homem que se aborrece porque os outros se riem dele não é um homem. – Melchor limpa a garganta, volta a olhar com apreensão para a plateia e repara que um silêncio quase perfeito se apoderou dela; por instantes pensa que aconteceu alguma coisa, ou que alguém importante acaba de irromper na sala. – Quando era miúdo não gostava de ler – prossegue. – Gostava de me armar em gandulo, como toda a gente. – Aqui ouvem-se alguns risos: coibidos, isolados, trocistas, inseguros. – Descobri os romances na cadeia, quando era mais ou menos como vocês, como os mais velhos de vocês, pelo menos, talvez um pouco mais velho. A cadeia é um lugar muito mau, não vos recomendo. – Agora a risota é geral, e, um pouco surpreendido, Melchor deixa de falar e aguarda que se faça silêncio novamente. Retoma a frase do princípio e termina-a: - Mas, às vezes, até num lugar tão mau acontecem coisas boas. Por exemplo, Cervantes teve a ideia para o Dom Quixote numa cadeia; bom, é o que dizem, eu não sei porque não li o Quixote. Se calhar fiz mal, ao fim e ao cabo toda a gente diz que é um romance muito bom. Mas, não sei porquê, sempre pensei que não me estava destinado, e outra coisa que aprendi com os anos é que uma pessoa só deve ler os romances que lhe estão destinados.

Mas voltemos à cadeia. Comecei a ler romances por causa de um homem que conheci ali. Chamava-se Gilles e os guardas chamavam-lhe Guille, mas, como era francês, os reclusos chamava-lhe o Francês. É uma das melhores pessoas que conheci na vida, apesar de estar na cadeia por ter matado à martelada a mulher e um amigo dela. Este verão tornei a vê-lo, em Barcelona, e estava apaixonado, que é o que de melhor nos pode acontecer. – Melchor faz uma pausa, sente a boca seca e compreende que foi o medo que a secou. Infelizmente, ninguém se lembrou de deixar um copo de água no atril e, entre o silêncio, tente infundir coragem a si próprio, dizendo que já falta pouco para acabar. – O caso é que o Francês era o bibliotecário da cadeia e passava o dia a ler. Eu queria ser como ele, de modo que me pus a ler romances. A verdade é que de início não me agradaram muito, mas depois li Os Miseráveis, o romance de Victor Hugo. É muito famoso, não sei se ouviram falar dele… Eu li-o porque um dia o vi na mesa do Francês e me lembrei da minha mãe, que se queixava sempre das minhas más notas na escola e me dizia: «Se queres ser um miserável como eu, não estudes.» - Os risos obrigam-no novamente a parar, mas ele não se atreve a olhar para a plateia e, assim que o silêncio se instala, continua a falar. – De modo que li Os Miseráveis e, nesse momento, tudo mudou. Gostaria muito de vos dizer como mudou, mas a verdade é que não sei, não sou capaz de explicar. Durante anos pensei que foi por esse romance falar de mim, mas mais tarde vim para a Terra Alta e conheci a minha mulher, que me disse que todos os romances bons falam de nós. Tinha razão, claro, quando se tratava de livros a minha mulher tinha sempre razão, chamava-se Olga e era bibliotecária aqui ao lado, na Biblioteca Municipal, alguns de vós ainda se devem lembrar dela; graças a Olga comecei a colaborar na biblioteca, a levar-vos livros para a piscina no verão e coisas do género… Bom, acho que me perdi. – Durante os dois ou três segundos em que Melchor permanece calado, na sala não se ouve nem uma mosca. – Ah, sim, estava a dizer-vos que, segundo a minha mulher, todos os bons romances falam de nós. E também dizia que Os Miseráveis não era diferente, que não falava especificamente para mim. Claro que só dizia isso ao princípio, depois de nos casarmos mudou de ideias, começou a pensar que, se calhar, eu tinha razão e que Os Miseráveis era realmente um romance especial, não porque falasse de mim, mas porque falava de nós, dela e de mim. É que eu e a minha mulher nos amávamos muito… Enfim, tudo isto é muito complicado, como veem, e eu não me dou muito bem com discursos. Felizmente, este já está a acabar. De modo que, para terminar, dir-vos-ei outra coisa que aprendi a ler romances. O que aprendi é que os romances não servem para nada. Nem sequer contam as coisas como elas são, mas como poderiam ter sido, ou como gostaríamos que fossem. Por isso nos salvam a vida. – Melchor cala-se, absorto, e o auditório fica expectante, duvidando se ele já terminou ou não; finalmente, ele acrescenta, quase como se o fizesse para si próprio: - Bom, isso é tudo o que vos queria dizer: que os romances não servem para nada, exceto para salvar vidas".

                                           Cercas, Javier, Independência, 2022, Porto Editora, pp. 318-320.

 

sábado, 21 de maio de 2022

Não queria nada que trovejasse, mas...

 

Hoje tinha planos diferentes, mas, vendo as previsões do tempo, altero-os. Prevê-se trovoada e o acender do céu e o rebentar dos trovões faz-me mudar logo de ideias. Se posso, é claro.

Também tenho coisas para organizar, como descascar favas, varrer folhas, plantar um girassol que uma amiga me deu, etc.

O mar fica para quando o céu se desanuviar. 

Aproveitarei para acabar de ler o livro de Isabel Alves Pereira, A força do Amor, dedicado também ao seu Amor de longos anos e que lhe deu filhos e netos. São textos em prosa e poesia que ela foi escrevendo ao longo da vida e que, reformada, organizou em livro. Não sei é se nalguns deles fala de trovoada. Os nossos medos, apesar de poderem ser semelhantes, são também diferentes.

Pois bem, vou ficar para organizar as coisas da casa, incluindo a cesta de favas para descascar. Pode ser que, na simplicidade boa do ato, me venha ideia melhor do que a que acabo de tecer. Mas isso não são favas contadas.

Um bom dia de sábado!

 

sexta-feira, 20 de maio de 2022

Escrevendo/revivendo memórias

 

Trabalhámos largos anos na mesma Instituição. Sabia que ele tinha ido para África, durante a guerra colonial, tal como a grande maioria dos jovens, para cumprir o serviço militar obrigatário. Escreveu agora um livro de memórias. Quero ler o que nestas páginas é contado. A leitura também me ajudará a compreender o título. Serão referências clubísticas para amenizar as agruras de tantos dias e de tantas noites em terras distantes que, para alguns governantes, tinham de ser portuguesas?



quinta-feira, 19 de maio de 2022

Há anjos e anjos, disse eu (e não é novidade)!

 

Para esta edição de Anjos, da Editora Lugar da Palavra, o editor convidou três autoras para escreverem um pequeno texto para figurar no interior do livro e contracapa. Li todos os textos (prosa e poesia) e surgiram-me as palavras que hoje partilho. 

Um bom dia e que os anjos da terra e do céu não desistam de brilhar.

 

Há anjos e anjos!

Nesta coletânea, cuja edição merece elogio, existem figuras celestiais que assumem várias funções: guiam, guardam, protegem, trazem a paz, recordam espaços e tempos felizes, celebram a vontade livre de voar...

Porém, mesmo etéreos, estes seres conhecem o sofrimento, a tristeza, a desilusão, a queda... em paralelo com a esperança, a ternura, a dedicação, a amizade, a alegria, o amor...

 Por outro lado, também são anjos as pessoas reais que amamos e nos amam, que ajudam, respeitam, animam, aliviam as dores, embelezam e melhoram a vida à sua volta...

Também nesta obra coletiva não falta o sentido de humor. Até os anjos, com ou sem asas, saberão que o sorriso abre caminhos de empatia.

Inerente ao título, Anjos da prosa e da poesia, a palavra "asas" vai pousando, naturalmente, em diferentes textos; com o atual ruído da "guerra" a fazer-se ouvir e a palavra "mar" a surgir com muita frequência. Não fosse esta coletânea um mergulho redentor em ondas de humanidade às quais mais de meia centena de autores soube dar forma, procurando a sua felicidade e a dos outros, de mão dada com o amor e respeito pelas palavras.

 Há anjos com grandes asas que não fariam melhor.

 



quarta-feira, 18 de maio de 2022

Felizmente há anjos!

 

Foi este o segundo volume da coletânea Anjos, 2022, da Editora Lugar da Palavra.

Partilho o texto que escrevi. Como me acontece quase sempre, há pormenores vividos e outros inventados.

Nota: a Dona Berta era professora primária nos anos 30 do século XX.


 

Anjo da infância e não só

Quando ela contava alguma deslocação mais longa de carro à mãe, sempre ouvia esta pergunta receosa: foste sozinha?  E logo se seguia, com um sorriso divertido e carinhoso, a habitual resposta:

- Fui com o meu anjo da guarda.

Quando o dizia, recordava-se da oração que a mãe lhe ensinara em pequena, a ela e aos irmãos: "Anjo da guarda, minha companhia, guardai a minha alma de noite e de dia".

Ao ouvir a resposta já esperada, a mãe entreabria o seu sorriso de costumada abnegação e, por algum tempo, tal como quando partilhava poesia, esquecia-se dos medos que a idade avançada lhe agudizava: medo da guerra, dos assaltos, da violência, da solidão, da morte, da falta de água...  

Para além da família e das orações, o que continuava a animá-la eram os versos que aprendera pela mão da Dona Berta, a professora primária, sempre por ela lembrada, apesar de mais de oito décadas já passadas. Ao dizer os versos que sabia de cor, ou aqueles que ela própria fazia, os seus olhos iluminavam-se de remoçada alegria.

E, apesar da velhice, nunca confundia as sílabas e as palavras dos versos que tantas vezes repetia, tal como as das orações. Para ela, versos e orações eram sagrados, por isso mereciam todo o respeito.

Mas voltemos à filha.

Pois bem, ela tinha uns anjos muito especiais. De carne e osso. Tinham nascido de si e, por sua vez, haviam-se reproduzido dando à luz outros anjos.

Quando estavam todos à volta da mesa, em hora de saboroso ritual das refeições, ela sentia que pedacinhos de céu se abriam em cada um desses momentos que voavam.

Silenciosamente, pedia ao seu anjo da guarda que a todos protegesse, embora soubesse que aos anjos não se pode nem deve pedir tudo e que a cada pessoa compete ir aprendendo a desenhar as suas asas.

Numa outra deslocação, a mãe voltou a perguntar-lhe se viajara sozinha, e a resposta, desta vez, foi que, para além do anjo da guarda, tinha tido a companhia da rádio. E falou, resumidamente, do conto 'Sempre é uma companhia', de Manuel da Fonseca, porque a leitura lhe revelava anjos que também a acompanhavam.

De tão religiosa que era, a mãe prestou mais atenção à primeira parte da resposta.

Para ela, havia seres que eram anjos, mas não gostava de o anunciar em voz alta. Não estava certa de que o anjo da oração diária - o anjo da guarda - admitisse seres terrenos no seu reino celestial. Podia até ser ofensa não lhe ter sido pedida permissão.

Sem certezas, a filha acreditava que o anjo, como anjo verdadeiro que era, ter-lhe-ia feito soar, com alegre convicção, que o nosso tempo - apesar de incompreensíveis e desumanas resistências - vai banindo tais distinções, havendo lugar para todos os anjos merecidos, sejam eles da terra ou do céu.

Porém, essa mensagem de voz angelical não chegou ao ouvido da mãe, porque o ouvido já não era o ouvido de antigamente.

A poesia, sim. Revelada pela Dona Berta - um anjo da sua infância e de toda uma vida.

 

segunda-feira, 16 de maio de 2022

Hoje...

 

 Hoje levantei-me cedo. Como quase sempre. 

Abri as janelas e fiz café. Como quase sempre.

Olhei os livros que quero ler. Como quase sempre.

Comi um restinho de doce com o café com leite. Adoça-me a manhã comer um pouco de doce de manhã.

Vi o meu neto descer as escadas pela mão da mãe. À luz da manhã, sorri-lhe e chamei-lhe 'meu sol'.

Ontem, ouvi os ais de minha mãe. As pernas não querem andar, a cabeça dói, os ouvidos não ouvem, os olhos não veem... 

Que desgosto já não ser quem era... Valha-me Nossa Senhora! 

Mãe, eu também já não ando como andava, já não oiço como ouvia...

Mãe, lembre-se de coisas bonitas. Que as há, mãe.

Pois, mas não tenho o teu pai e não posso ir regar as flores.

Mãe, a chuva já as regou.  

Mas há vasos que estão cobertos. Eu dantes aproveitava a água da chuva, mas agora ninguém se lembra.

Mãe, valha-me também Nossa Senhora.


sexta-feira, 13 de maio de 2022

Não te esqueças do que estavas a dizer...


Penso que não me acontece só a mim. E, se calhar, também já o fiz, porque, às vezes, somos mais distraídos quando somos nós que agimos.
Ora, não sei se já se depararam com esta situação: 
Começamos a contar alguma coisa a alguém. Por semelhança ou por diferença, a outra pessoa diz-nos, alheando-se do que estava a ouvir:
- Não te esqueças do que estavas a dizer... 
e passa para o seu assunto, ficando nele muito tempo enquanto assistimos ao desfile de pormenores. Fala, conta, explica…
Como quem estava a falar ficou pendurado, tenta interromper para reatar o que dizia, mas logo ouve:
- Espera! 
Muitas vezes acompanhado por um gesto brando de stop com a mão ou por uns toquezinhos no braço para que o que está a contar não seja interrompido.
Ora, terminado o quase monólogo, quem tinha começado o assunto, que lhe deu origem, já perdeu a vontade de continuar ou quase se esqueceu do que ia dizer.
Da próxima, se calhar, nem sequer começa. A menos que o assunto se resuma apenas a um par de frases! Para não ouvir de novo
- Não te esqueças do que estavas a dizer...
 e esperar muito tempo para poder continuar e concluir. Se tiver oportunidade, é claro.


quinta-feira, 12 de maio de 2022

"Os atores somos todos nós"

 

Ontem à tarde, assisti à inauguração desta bela exposição realizada pelo Agrupamento de Escolas de Valbom, do pré-escolar ao 12º ano. Para além dos múltiplos trabalhos expostos, houve poesia, música, magia, pintura, entusiasmo de professores e alunos...

O mestre Júlio Resende, que criou este Lugar do Desenho, ficaria contente ao ver a adesão amorosa à arte e aos valores importantes da existência, incluindo os da boa comunicação.

Ficam algumas imagens - que são apenas uma amostra da exposição que pode ser vista, no Lugar do Desenho/Fundação Júlio Resende em Gramido, Gondomar, até final do mês.

 












terça-feira, 10 de maio de 2022

Número da porta: 39

 (...)

Combinámos, então, tomar o chá às quatro. Assim, eu teria tempo para, depois, ir ao infantário buscar o bebé. Confesso que estive para não aceitar o convite. O que iria encontrar naquela casa? Era tudo tão estranho. Porém, a vizinha já não me inspirava receio: um pouco corpulenta, tinha o tique de encarocolar uma pequena madeixa de cabelo enquanto falava. Às quatro horas, desci as escadas e nem sequer precisei de bater à porta. Apareceu logo a mulher da voz meiga e disse-me, em tom muito baixo como a segredar, que desculpasse mas, afinal, não podia estar comigo e que o chá deveria ficar para outra tarde de sol. Sorriu com ternura e fechou a porta sem qualquer ruído. Vi o lado positivo da situação, aproveitando para ir buscar o bebé mais cedo e dar um passeio pelo parque.

Com o tempo sempre a passar veloz, no fim de semana regressei a Portugal sem ter voltado a ver a vizinha.

Quando, semanas depois, voltei a Londres, deparei, à porta do nº 39,  com uma pequena carrinha de mudanças. Não chegara a deslindar o mistério: o porquê daquele inusitado silêncio, o convite para o chá feito em tom normal e a desistência comunicada em surdina. E por que razão tinha dito ela que naquele dia não tinha limitações? Quem lhas imporia? O homem do violino? Que laços os uniriam? Se vinham outras pessoas morar para aquela casa, nunca mais teria resposta para estas questões. Como era uma situação que eu não dominava, subi e, olhando pela janela que dava para o jardim das traseiras, vi que já lá não estavam os vasos de flores.

Uns dias depois, tocaram à campainha logo de manhã cedo. Ainda estávamos todos em casa e o café, borbulhando, perfumava a pequena cozinha.

- Hello, disse eu, pegando no intercomunicador.

Era uma voz masculina.

- Vivo no nº 39, e gostava de vos fazer um pedido. Peço desculpa por vir tão cedo.

Entreolhámo-nos. Voluntariei-me para descer até à porta da rua, porque não tinha horários rígidos a cumprir. 

Estranho. Era o homem do violino que eu tinha visto semanas antes a tocar no jardim ao lado da mulher da voz meiga. Disse-me, semicerrando os olhos, como se a minha presença ou a minha voz o enfastiassem, que era músico e que passara a viver só, não deliberadamente, mas porque os ruídos próximos de outrem eram nefastos à sua necessária concentração.  Sem me olhar nunca nos olhos, fez o pedido:

- Seria possível não fazerem ruídos? Toco e estudo enquanto há a luz do dia. Só saio de casa quando tenho audições. Durante a noite, preciso igualmente de silêncio para ouvir os sons das raposas que também me inspiram para as minhas composições que deixarei à Humanidade. Atendendo à minha idade, não posso perder tempo.

Eu ia perguntar-lhe pela senhora da voz meiga, mas tive de subir as escadas depressa porque o meu filho e a minha nora estavam a descer com o bebé e a porta poderia, inesperadamente, fechar-se, apesar de não se ter pressentido qualquer sinal de vento.

 


Nota: 

Sempre que ia a Londres (espero lá voltar sem esperar tanto tempo), trazia algumas notas que ia registando no caderno ou na cabeça. Foi de lá que fui trazendo (esboços de) alguns contos e quase todas as histórias e rimas das Histórias da Clarinha.

Quando lá fui pela última vez, ainda não tinha havido a invasão da Ucrânia. Uma vez por semana, ia lá a casa uma senhora moldava - a D. Vitória. Julgo que também entrou numa história. Desta vez, apesar de o meu inglês não ser nada fluente e o dela ainda menos, acho que terá outras histórias a contar. Nem que seja pelos silêncios.