terça-feira, 30 de julho de 2019

É verão e dia dos amigos. Um dia feliz!


domingo, 28 de julho de 2019

Fi-lo e não gosto que mo façam!

Há bastante tempo, fui à ESG falar sobre o meu diário A Velha Casa e outros dias.
Havia alunos adultos que cada vez valorizo mais porque, muitas vezes, não tiveram oportunidade de estudar na devida altura e têm força e ânimo para o fazerem mais tarde.
No diálogo a propósito de assuntos abordados no livro, alguns alunos intervieram e falaram das suas próprias experiências. Um deles, no final, imprimiu uns poemas que me ofereceu para eu ler e lhe dar a minha opinião. As três folhas ficaram ao lado do computador ao longo do tempo.
Hoje, finalmente, vou mandar-lhe um mail, pedir-lhe desculpa pelo atraso e dizer-lhe que gostei dos poemas, tentando explicar as razões.
Sim, vou fazê-lo - por gosto pessoal, em primeiro lugar, e depois porque não gosto nada de fazer aos outros o que não gosto que me façam a mim.
Oxalá não se tenha esquecido. Com certeza que não.

Uma experiência de que estou a gostar

Faço parte de um grupo que, rotativamente, vai a um hospital ler pequenos textos e conversar um pouco com os doentes que se disponibilizam a estar presentes.
Na primeira sessão, levámos este poema de Miguel Torga:


Sei de um ninho
Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pino
A voar...
      Miguel Torga

No diálogo que se seguiu, houve recordações da infância, marotices de garotos, 
mudanças na educação das crianças, cuidados para proteção do ambiente...
E uma senhora cantou cantigas da sua memória.
Quando nos despedimos, estávamos todos um pouco mais próximos dos ninhos que são as vidas comuns.
               

       

Leituras no Hospital


Felicidade
Pássaros nos beirais
aquarelam o azul  
em melodias cor-de-sol
redondas e cristalinas...
E na transparência
da sinfonia
vejo a infância perdida:

manhãs de agosto
sentada à porta da cozinha
aberta ao horizonte
a minha avó aconchega-me
no colo
perfumado de pão fresco
fecho os olhos
e deixo-me embalar
no canto morno
que nasce nos ninhos
que escorre dos beirais
aconchegados de pássaros...

Maria Clara Miguel
(Pseudónimo de Isaura Afonseca) 


Este foi um dos textos que lemos na segunda sessão das nossas Leituras no Hospital para pessoas, quase todas idosas, em cuidados continuados.
E houve quem quisesse ler o poema em voz alta e expressiva. E quem falasse de uma avó a quem chamou sempre avozinha. E quem perguntasse se podia dar o poema à neta porque de certeza que ia gostar. E quem se recordasse do pão fresco da sua infância. E quem comunicasse que sempre gostou de ver pássaros nos beirais, apesar de sujarem o chão. E quem contasse que a praia no verão é como um colo quente de avó e que tinha visto o mar no domingo passado e tinha adorado...
E também quem dissesse que sentia cansaço, que aquele dia não era dos melhores dias, que ouvia muito mal, que só queria reler o poema mais tarde porque tinha ouvido algumas palavras e tinha-as achado bonitas...
Quando nos despedimos até setembro, dissemos todos palavras meigas, com vontade de um feliz reencontro.

Um problema crescente



Enviado pelo Clube das Histórias
(O título é meu)

terça-feira, 23 de julho de 2019

O parque oriental da cidade do Porto

Ontem fui caminhar com uma amiga no parque oriental da cidade e gostei muito daquele espaço verde.
Está ainda em construção, mas ainda bem que foi repensado para ser percorrido e desfrutado pelas pessoas. 
O piso é bom para caminhar ou correr, há muitas árvores, muitas sombras e muitas pedras que, para além de embelezar o local, funcionam como bancos ou mesas.
Mostro apenas uma pequena parte, porque há zonas mais largas onde, possivelmente, haverá relvado. Estava lá a ser montada uma estrutura metálica enorme porque no próximo sábado vai haver um espetáculo de música eletrónica.
Como quase nada é perfeito, sente-se de vez em quando o cheiro da ETAR e do rio Torto que por lá circula ainda com alguma poluição, embora noutras partes do percurso se sinta o perfume das árvores. 
Também não vi  zonas específicas para crianças, mas, como disse, está ainda em construção. E a Roma ou a Pavia não se vai num dia!!!
O que é preciso é pôr mãos à obra e esta parece ser uma boa obra!

terça-feira, 16 de julho de 2019

Tantas cores, Natureza!


Há belas músicas que se conhecem por feliz acaso

Pequenas histórias de uma ida a Londres

história 1
Na ida, coube-me o lugar junto à janela do avião. Ao meu lado, iam duas mulheres que viajavam em trabalho que era comum. Não se conheciam. Começaram a falar e a conversa durou as duas horas de viagem. Uma era mais faladora do que a outra. Repetiu várias vezes que gostava de falar. E falou longamente. E contou amores e desamores, partidas e regressos, gostos e desgostos...
Eu ia olhando pela janela do avião, fechava os olhos de vez em quando, mas, mesmo que não quisesse, ia ouvindo as histórias de vida que estavam a ser contadas.
No final, trocaram contactos, depois de toda uma vida ter voado enquanto durou o voo até Londres.

história 2
Quando estou em Londres, vou muitas vezes ao Waitrose local fazer as compras do dia. Há uma senhora na caixa que fala com os clientes, enquanto faz os seus registos. Ele é o tempo, ele é qualquer fait-divers do dia... Ah, e também sorri bastante. Já tem uma certa idade e as palavras são ágeis como as mãos que, ao longo do dia,  põem centenas e centenas de embalagens, com outros tantos sorrisos, do lado da recolha pelos clientes.
Interrogo-me sempre se continua a sorrir depois de um dia de trabalho.

história 3
Fui com a família ao Museu dos Transportes, que abre ao público apenas algumas vezes no ano. Aceitei a ideia de bom grado, embora tivesse pensado, para os meus botões, que teria um interesse relativo, porque estou mais habituada a ir aos museus de arte.
Enganei-me. Passámos lá várias e boas horas. Havia comboios e autocarros desde os primórdios dos transportes públicos e muitas atividades para as crianças que os adultos acompanhavam com agrado.
De facto, a evolução dos transportes públicos com vista à qualidade de vida das pessoas é também uma importante forma de arte. 

história 4
Quando chegámos ao Museu dos Transportes de manhã, logo parámos numa atividade. Um homem e uma mulher estavam sentados em frente a uma mesa e, com a ajuda de cada criança, era mostrado o movimento elétrico do comboio. A nós coube ser a senhora a fazer a demonstração, sempre com a colaboração da criança.
À tarde, voltámos a passar nesse lugar.  A Clarinha quis participar de novo. Enquanto esperávamos pela nossa vez, assisti aos mesmos movimentos da senhora para que as crianças compreendessem o funcionamento do comboio na sua linha. A atitude positiva e interativa com as crianças era a mesma da manhã. Embora tivesse repetido inúmeras vezes a operação, parecia ser sempre a primeira vez a fazê-lo.

história 5
Na viagem de regresso, encetei diálogo com a senhora que vinha ao meu lado no avião. Vivia em Londres há dezenas de anos. Nas traseiras da casa, tinha uma pequenina horta e algumas flores. Na horta tinha dois pés de couve galega para fazer caldo verde de vez em quando e um arroz de feijão com couve a fugir do prato. Disse-o com algum regalo no sorriso.


segunda-feira, 8 de julho de 2019

João Gilberto - 1931/2019

Viu e cantou as 'coisas mais lindas'. 
Possa ter deixado sementes para construir um país e mundo melhor.
Há dias, vi uma foto dele fazendo festas nos cabelos de uma neta - que coisa mais linda também.
Teve uma vida longa e deixou uma bela obra. Que coisa mais linda!

sábado, 6 de julho de 2019

Jorge Palma | Frágil

Sting - Fragile

Conversa à espera de vez

- Ó menina, vou-me embora.
- Mas ainda não foi à consulta. Está marcada.
- Estou cheia de nervos por estar à espera há tanto tempo. Fico pior do coração.
- Se for à consulta, pode ficar bem melhor.
- Pronto, eu fico mas não acho nada bem estar aqui tanto tempo.
- Há outros doentes que vieram mais cedo, tem de compreender.
- Eu compreendo, mas espero pelo autocarro, espero pelo meu marido, espero pelos meus filhos, espero pela patroa, espero no hospital...
- Pois, acredito!
- E por mim ninguém espera!


terça-feira, 2 de julho de 2019

Ligar/ desligar...

Tenho dificuldade em passar dias seguidos sem alguns silêncios. De preferência ficar só nem que seja por pouco tempo.
Tudo parece sossegar e distinguir melhor os sons que me rodeiam.
Há muitos muitos anos, num campo de férias, estava uma rapariga que nunca falava às refeições e parecia desligar de todo o ruído envolvente. Dizia que precisava daquele tempo de silêncio para alimentar o corpo e o espírito. Nós, as outras raparigas, que tínhamos comportamentos mais comuns, achávamos estranho, mas julgo que respeitávamos essa opção por ser genuína.
Outro caso de que me recordo é de uma investigadora que, quando participava em congressos que duravam o dia inteiro, almoçava sempre sozinha, porque precisava de recolhimento e de refletir sobre o que tinha ouvido.
Recordo estes e outros casos porque, apesar de ter necessidade de silêncios, não teria a mesma coragem.
E há lugares de continuada vozearia. Quem lá está ou trabalha, muitas vezes, chega a casa e tudo é alto: o som da televisão, do telemóvel, da gritaria...
Um dia, fiz uma viagem de comboio Lisboa-Porto. Na carruagem, vinha pouca gente e eu pensei com prazer que recostaria a cabeça, olhando a paisagem e ouvindo silêncios prolongados. Poderia pensar na vida e talvez tivesse até algumas ideias úteis. Qual quê. Duas ou três pessoas aproveitaram a viagem para porem as conversas de telemóvel em dia. Enviavam, recebiam mensagens e chamadas... Explicavam onde estavam, o que fariam à noite, a que horas, com quem...
Quando cheguei a Campanhã, estava enjoada, mas não era da viagem.
Quando cheguei ao carro, a primeira coisa que fiz foi desligar o rádio.