domingo, 22 de setembro de 2019

Gosto do outono!

Canção de Outono
Perdoa-me, folha seca,
não posso cuidar de ti.
Vim para amar neste mundo,
e até do amor me perdi.
De que serviu tecer flores
pelas areias do chão
se havia gente dormindo
sobre o próprio coração?

E não pude levantá-la!
Choro pelo que não fiz.
E pela minha fraqueza
é que sou triste e infeliz.
Perdoa-me, folha seca!
Meus olhos sem força estão
velando e rogando aqueles
que não se levantarão...

Tu és folha de outono
voante pelo jardim.
Deixo-te a minha saudade
- a melhor parte de mim.
E vou por este caminho,
certa de que tudo é vão.
Que tudo é menos que o vento,
menos que as folhas do chão...
Cecília Meireles

OUTONO
Tarde pintada
Por não sei que pintor.
Nunca vi tanta cor
Tão colorida!
Se é de morte ou de vida,
Não é comigo.
Eu, simplesmente, digo
Que há tanta fantasia
Neste dia,
Que o mundo me parece
Vestido por ciganas adivinhas,
E que gosto de o ver, e me apetece
Ter folhas, como as vinhas.
Miguel Torga  

Conversa ao pé da porta

- Vejo que anda muito ocupada.
- Sim, aproveito os tempos livres para fazer arrumações.
- Curioso, também ando numa fase semelhante.
- Não entendi.
- Quero despojar-me das coisas que me afastam a mim.


sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Cultura Curto Espaço - na praia da Aguda

As tábuas parecem ter sido recolhidas na praia
A janela na parede dá as informações como o Clube de leitura de verão
Espreitando o interior do CCE em dia de encerramento
A arte de reutilizar destroços de plástico
Já tinha ouvido falar deste espaço - Cultura Curto Espaço.
Fica em frente ao mar da Aguda, é café, restaurante, lugar de convívio...
Periodicamente realizam-se lá Clubes de Leitura à volta de um livro.
 Em breve, quero também participar.
E sobretudo entrar no CCE e ficar lá um bocadinho.
Dizem que há almofadas e mantas quentes para quando está frio.


terça-feira, 17 de setembro de 2019

'Quero ser o teu amigo'


Andei na net à procura de textos para 
uma atividade de 'Leituras no hospital'.
Gostei deste poema de Fernando Pessoa por ser simples
e abordar um tema que pode ser significativo para todos.
Oxalá assim aconteça e a net esteja a ser fidedigna. 
Vai longe o tempo em que se tinha tempo de procurar nos livros!!!

Quero ser o teu amigo.
Nem de mais e nem de menos.
Nem tão longe e nem tão perto.
Na medida mais precisa que eu puder.
Mas amar-te sem medida e ficar na tua vida.
Da maneira mais discreta que eu souber. 
Sem tirar-te a liberdade, sem jamais te sufocar.
Sem forçar tua vontade.
Sem falar, quando for hora de calar.
E sem calar, quando for hora de falar.
Nem ausente, nem presente por demais.
Simplesmente, calmamente, ser-te paz.
É bonito ser amigo, mas confesso é tão difícil aprender!
E por isso eu te suplico paciência.
Vou encher este teu rosto de lembranças.
Dá-me tempo, de acertar nossas distâncias… 

Fernando Pessoa

domingo, 1 de setembro de 2019

Meu querido mês de setembro,


Este ano pude confirmar que não gosto do mês de agosto. Não, não gosto.
E não quero ser negativa, mas o mês de agosto traz(-me) sempre coisas horríveis.
Como não gosto de generalizar pelo lado mau, vou tentar explicar um pouco melhor.
Desculpa, setembro, por não ir ao fundo da questão, mas às vezes prefiro sentar-me à beira de um regato sem o atravessar para não escorregar nas pedras.
Sou medrosa? Serei, com certeza, mas cada um procura as suas defesas.
De facto, agosto ficou ontem parado no calendário, mas alguns dias ficarão marcados na minha memória.
Foi um mês de contrastes:
Ouvi o silêncio e tapei os ouvidos pelo excesso de ruído.
Senti o mar, aproximei-me da montanha e o pensamento fragmentava-se.
Fiz desenhos coloridos e pouco depois os dias ficaram negros. 
Contei histórias e senti a ausência de palavras de quem precisava de as dizer mas já não podia.
Tive a alegria de ver a casa cheia de brincados sorrisos infantis e quase logo a despedida de quem tinha gerado a família.
Caminhei ao sol luminoso na praia e senti o frio branco de uma cadeira de hospital.
Dancei, vi dançar e partilhei de lágrimas em saudosa e não anunciada despedida.
Viajei vendo paisagens verdes ou ressequidas e deparei com coroas de flores também cortadas à continuação da vida.
...
Desculpa, mês de agosto, pelo meu desamor. E, se calhar, ingratidão ou egoísmo, porque estou a esquecer que para muitas muitas pessoas o verão só teve o segundo lado da moeda.