sexta-feira, 25 de abril de 2025

A triste capa do medo


Vivi a minha infância e parte da juventude antes do 25 de Abril de 74 e o sentido da palavra medo estava presente por quase toda a parte.

Havia medo dos castigos de Deus, havia medo dos poderosos, havia medo de dizer não, havia medo de falar, havia medo de reagir, havia medo de fazer diferente, havia medo de discordar, havia medo de parar na rua em grupo, havia medo de ler livros que o poder condenava, havia medo de não aceitar a guerra colonial, havia medo de reivindicar, havia medo de mudar o ‘entre marido e mulher não metas a colher’ e muitos mais.

Agora, 51 anos passados do 25 de Abril de 1974, o medo continua a existir, sob formas antigas e outras mais sofisticadas. Como as guerras de toda a espécie.

Mas há uma diferença enorme: pode-se falar. Pode-se dizer a palavra Liberdade. 

Porém, muitos se interrogam até quando, porque o andar da carruagem não é muito promissor. Mas a esperança num mundo melhor ainda é possível. Não a percamos. De outro modo, a palavra Liberdade fica mais arruinada. 

E é triste ouvir dizer que, no nosso país, antigamente é que era bom. Não, não era. Havia mais respeito? Não, não havia; vestia era a triste capa do medo.

                  BOM 25 DE ABRIL!

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Páscoa Feliz para Todos!


Uma filha perguntou-me há dias: Mãe, o que vais fazer de manhã? Respondi-lhe: Nada de especial, filha, algumas pequenas coisas. Julgo que não disse, mas pensei: e que me são necessárias.

Embora não me possa queixar, tenho cada vez mais necessidade de dispor de algum tempo, sem obrigações, sem ter de fazer isto ou aquilo com horas marcadas. Ter tempo e programa por minha conta. Hoje, conto ter um dia assim e fico contente, embora goste de muitos afazeres do dia a dia e de sentir que posso ser útil sobretudo à família mais próxima.

Ao fim da tarde, vou ter a visita de uma ex-empregada, agora amiga. Trabalhou cá em casa uns quarenta anos. Ajudou-me e ajudou as minhas filhas a crescer. Como de costume, irá trazer-me hortaliças e ovos caseiros. E coisas para contar. E desabafos a fazer. E da vida que, com a sua força e vontade, vai fazendo renascer todos os dias. E da casa que alindou para receber o compasso e a Páscoa.


Há muitos muitos anos, passei alguns dias do final da Semana Santa numa paróquia de Vale de Cambra, onde um tio meu era padre - Senhor Prior, como os paroquianos diziam. Eu era adolescente e gostava de ouvir rádio. As estações que se ouviam eram a Emissora Nacional, a Rádio Renascença e o Rádio Clube Português. Lá em casa, o ambiente era austero e ainda mais em tempo de Quaresma. Porém, sempre que eu podia, ligava o meu rádio de pilhas para ouvir músicas de que gostava, com o transistor quase encostado ao ouvido, de tão baixinho que punha o som. Foi quando, na 6ª Feira Santa, ouvi a voz do locutor a anunciar, julgo que no Rádio Clube Português: A emissão será interrompida às três da tarde, hora da celebração da morte de Jesus Cristo. Será retomada amanhã, Sábado de Aleluia. 

O mesmo aconteceu nas outras rádios. Lembro-me que fiquei triste, mas nem disse nada à minha tia, que andava sempre ocupada com as tarefas da casa, e muito menos ao meu tio, recolhido que estava no escritório, talvez a reler textos bíblicos sobre a morte e ressurreição de Cristo. Falar-lhe da falta que fazia um rádio seria demasiado pagão.

PÁSCOA FELIZ PARA TODOS!

segunda-feira, 14 de abril de 2025

‘O ruído que há em nós’

 

‘Bom Dia!’

‘Começo por propor um pequeno desafio: no momento de começar a ler este Curto, feche os olhos, respire fundo e pare sete segundos só para ouvir o que se passa à sua volta. Se por acaso conseguir escutar o silêncio sinta-se feliz, mas o mais provável é ter ouvido carros a passar na rua, uma buzina, um avião, o toque de um telemóvel, a televisão na sala ao lado, gaivotas, uma máquina qualquer a trabalhar, vozes ou até um zumbido dentro de si. (…)’

Começa assim o Expresso Curto de hoje, ao qual Margarida Cardoso deu o título que utilizei. A jornalista refere experiências de profissionais e estudos feitos que comprovam os prejuízos do ruído na nossa saúde e que podem levar a que a vida seja bem mais curta.

Fiz o exercício proposto no início e ouvi o exaustor na cozinha, carros a circular na rua, chilreios de pássaros na japoneira do jardim, vozes de pessoas a passar. Nada mau, mas estou em casa e vivo entre aldeia e vila.

Porém, há lojas, sobretudo em Centros Comerciais citadinos, onde os decibéis da música são altíssimos. Trabalhar assim muitas horas não deve ser fácil; talvez por isso só são contratados os  muito jovens. E inúmeras situações existem em que as pessoas estão expostas continuamente ao ruído.

O mesmo acontece no lazer. Algumas esplanadas à beira-mar têm a música tão alta que as pessoas tendem a falar igualmente alto. O som do mar é completamente anulado e até a vista é desviada.

Se o silêncio é pesado, custa muito, mas criar para si próprio momentos de silêncio e proporcionar aos outros esse prazer, muitas vezes não custa nada. E a Vida de cada um agradece.


domingo, 13 de abril de 2025

Domingo com ramos


No Domingo de Ramos, há muitos muitos anos, a minha irmã e eu íamos à missa das nove e meia e levávamos um raminho para benzer. Era a minha mãe que o fazia. No ramo, havia sempre alecrim, oliveira e flores do nosso jardim. Lembro-me sobretudo dos goivos. Muito perfumados.

Benzido o ramo, a minha mãe conservava-o para ajudar a proteger-nos das trovoadas.

Hoje, logo de manhã, levei-lhe um raminho de flores variadas que colhi no meu jardim e pu-las na jarra, bem perto da foto em que está sorridente ao lado do meu pai.

Porém, no ramo que deixei, não havia oliveira, porque não tenho; nem alecrim porque me esqueci; nem goivos porque falta-nos sempre alguma coisa. Ou é alguém?


terça-feira, 8 de abril de 2025

A funcionária faladora


Chequei ao hospital para fazer análises. Não havia fila. Fiquei admirada e contente. Vi que a funcionária, que estava junto à máquina das senhas, era simpática e faladora.

A seguir a mim, chegou uma senhora com um belo ramo de flores. A funcionária faladora, enquanto retirava a minha senha, disse, olhando para ela:

- Hoje não faço anos!

Eu, já que o clima bem disposto estava criado, disse também uma graça, sorrindo:

- São para mim!

Foi então que ouvi da funcionária faladora:

- Sou  sincera, não gosto de flores!

- Não gosta? 

Perguntámos as duas quase ao mesmo tempo.

- Não gosto mesmo; prefiro uma carteira, uns brincos…

E outra pessoa chegou. A linha a seguir era a rosa. 

Que estranho e que estranha coincidência, pensava eu, enquanto esperava a chamada que em breve chegou: Senha 243, posto 1!


sábado, 5 de abril de 2025

Sentidos


Plantei rosas e floriram. E como gosto de só as ver no jardim!

Plantei alhos franceses. E com eles faço sopa e refogados que me deliciam.

Plantei tulipas há uns anos. No inverno, fecham-se na terra e abrem-se, belas, na primavera.

Cortei as ervas daninhas do quintal e, mesmo assim, florzinhas amarelas, também daninhas, aparecem e pintam o terreno. Com beleza e sem  dano.

Podei as trepadeiras do muro e voltaram a crescer. Não querem ver apenas um dos lados.

Tudo isto me dá alegria.


Liguei a televisão para ver notícias. 

Tudo isso me deu tristeza.


sexta-feira, 4 de abril de 2025

Adiamento

 


Afinal, a apresentação do livro, prevista para a tarde de amanhã, sábado, na Biblioteca Municipal de Gondomar, vai ser adiada por motivos de doença muito grave de familiares muito próximos da minha companheira de escrita - Maria Clara Miguel (pseudónimo de Isaura Afonseca) - pelo que  tomámos essa decisão.

Quando for marcada nova data e novo local, comunico. Oxalá possa ser na Biblioteca Municipal que é um lugar com muita luz e de que gosto muito. Vamos ver.