Mariana
domingo, 8 de dezembro de 2024
sábado, 30 de novembro de 2024
quarta-feira, 27 de novembro de 2024
Um tema mesmo importante!
Vale a pena ouvir. Há rigor, sensatez e trabalho experiente e informado de ajuda!
‘Expresso da manhã
Paulo Baldaia
https://podcasts.apple.com/pt/podcast/expresso-da-manh%C3%A3/id1536782080 ‘
domingo, 24 de novembro de 2024
Já se ouve o vento!
Um dia, ao falar com uma vizinha, que agora raramente vejo porque a velhice desafortunada não a deixa descer nem subir escadas e só lhe permite espreitar cá para fora, eu disse-lhe que tinha medo da trovoada. Logo ela retorquiu: Eu só tenho medo do vento.
Pois bem, se habitualmente está recolhida dentro de casa, hoje mais estará com as previsões de muita chuva e rajadas de vento para a região do Porto.
Parece que se chama Bert a tempestade que se aproxima. Se o nome tivesse mais um ‘o’, seria como o do dono da mercearia perto de minha casa e que, simpaticamente, me traz as coisas de que preciso cá a casa e que sempre me diz: Se precisar de alguma coisa, diga; nem que seja só uma, eu venho cá trazer.
O pior é que, em vez de um pacote de feijão, põe dois; em vez de dois lombinhos de bacalhau, põe três!!!!
Voltando a Bert, o vento continua a soprar e, pelos vistos, ao fim da tarde, chega em força. Ou será que se desvia ou perde vigor? Nunca se sabe. Oxalá que sim, porque me assustam radicalismos, até no tempo que faz.
Seja como for, hoje não abro as janelas e vou carregar o telemóvel, não vá falhar a luz e a beleza de domingo também se apagar.
E beleza também encontro no podcast ‘A beleza das pequenas coisas’, o mais antigo do Expresso, de Bernardo Mendonça.
Se falhar a luz, espero poder ouvir, a menos que a chuva e o vento me façam parar tudo o resto. Espero que não, porque precisamos de quem nos lembre o valor da beleza com verdade e sem cinismo.
Bom domingo e que os Céus não escondam a sua beleza, sob forma de tempestade!
sábado, 23 de novembro de 2024
As tranças
Tenho poucas fotografias minhas da minha infância. Tenho pena, mas nas que tenho lá está o cabelo preto, liso, risco ao meio e duas tranças grossas que logo se desfaziam se não fossem presas por elástico. O cabelo, ao contrário de mim, era quase indomável.
E agora vejo como deviam ser bonitas as tranças, que sempre achava que não, porque as das outras raparigas ou eram mais finas ou eram mais claras ou tinham caracóis. Como as da minha irmã.
Porque será que só valorizamos as coisas passado algum ou muito tempo?! Ou quando já não as temos?
Chegada a adolescência, o grande desejo era cortar as tranças. Davam muito trabalho. Eram coisa de criança. Não condiziam com meias de vidro nem com sapatos de tacão fininho.
O pior era permissão para cortar o cabelo. Nem pensar! E não havia meio de convencer a mãe para a mãe convencer o pai.
Como solução, esperada como provisória, o risco do cabelo passou para o lado e o cabelo das duas tranças uniu-se numa só. Era bonita, mas, naquela altura, não sabia.
Porém, a insistência em cortar o cabelo continuou até que palavras desejadas se fizeram ouvir. Mas só em parte.
- Pronto, podes cortar, mas só um pouco para continuares a fazer a trança.
Como o desejo era grande e a trança também, sucedeu-se a insistência e o resultado foi de novo:
- Pronto, podes cortar o cabelo, mas só um bocado.
Passados alguns meses e alguns cortes, já não havia comprimento de cabelo que desse para a trança. Tinha valido a pena!
E o sorriso (vejo agora que era bonito) adolescente abria-se ao espelho que mostrava o escovar do cabelo tão negro que me perguntavam se o pintava. Eu ficava incrédula com a pergunta e encontrava consolo em histórias que falavam de ‘cabelo de ébano’ de uma personagem.
Se calhar, agora não achava piada a essas histórias, mas gosto muito de tranças, tenha o cabelo a cor que tiver.
Pode ser que as faça à minha neta quando cá vier pelo Natal. Quando lhe contei que, na idade dela, tinha cabelo longo, muito preto e duas tranças grossas, ela sorriu, ajustando a bandolete que ajuda a prender o cabelo forte e castanho-claro. Um lindo cabelo que não gosta de cortar.
quinta-feira, 21 de novembro de 2024
Bonanza no Café Paris ou o relax de sábado à noite
Quando eu era muito nova, os dias da semana eram cheios de trabalho. O meu pai trabalhava arduamente na oficina ao lado da nossa casa e a minha mãe ajudava-o no que podia ser feito dentro de casa. A vida doméstica era gerida por ela e levada a cabo, em grande parte, por mim e pela minha irmã.
Chegado o fim de semana, o afã semanal diminuía e, ao sábado à noite, ouvíamos o Serão para Trabalhadores. Julgo que era este o nome do programa de rádio da então Emissora Nacional. O meu pai era o mais entusiasta quando ouvia as canções que lhe tocavam o coração. Tornava-se um ser mais leve e feliz do que o trabalhador frenético dos dias da semana. O aparelho que tínhamos era Nordmend, se não me engano, e julgo que ainda existe. Vejo agora que era um bonito exemplar, como são muitos rádios antigos.
Entretanto, chegou a televisão. Podia-se, magicamente, ver a imagem e não apenas ouvir o som da rádio. Não se falava de outra coisa, mas poucos a traziam para casa. Nós só a tivemos mais tarde. Era um luxo e a vida não estava para luxos. Julgo que o meu pai gostaria de ver os artistas que apenas ouvíamos na rádio e que tanto lhe alegravam e amenizavam a expressão. Também a minha mãe gostaria de a ter para ver as cerimónias de Fátima no 13 de Maio. Eu e os meus irmãos também, mas a vontade dos mais novos ainda não tinha entrado no calendário.
Pois bem, muito se falava do Bonanza, da família desta série, das aventuras, dos saloons, do Joe, das diferenças entre os irmãos… Então, também queríamos ver. E, andando talvez um quilómetro, lá íamos nós ao sábado à noite com o meu pai ao café Paris ver o Bonanza. Chegávamos mais cedo, sentávamo-nos à mesa e esperávamos pelo episódio, como se fosse um filme premiado com muitos óscares. Ou o momento imperdível da semana para atenuar a dureza dos dias de trabalho.
Quando a música do genérico se fazia ouvir, tudo o resto se calava. Durante o filme, os olhares estavam todos postos no écran e as reações ao desenrolar da história eram emotivas e ruidosas como num jogo de futebol. Eu e a minha irmã mais presas ao televisor ficávamos quando aparecia o belo e simpático Joe. Quando o episódio terminava, regressávamos a casa, talvez a pensar já no sábado seguinte.
Passado algum tempo, os meus pais compraram um televisor. Podíamos, finalmente, ver o Bonanza em casa e também teatro e programas de variedades com o Jorge Alves, etc. Tudo tantas vezes entrecortado por um chafariz a atirar água em tempo interminável, com a legenda ‘O programa segue dentro de momentos’. E como era canal único, ficávamos à espera, mas bem diferente de quando aguardávamos mais um episódio do Bonanza no café Paris.
quarta-feira, 20 de novembro de 2024
As crianças
Ontem, vi o começo de uma notícia sobre a criança cuja ama foi filmada a dar-lhe banho de água fria. Pelos vistos, batia-lhe no rabo ao mesmo tempo. Quando ouvi o choro aflito e sem defesa do bebé, logo mudei de canal. Confesso que aquele choro me perturbou, ficou-me na cabeça e entristeceu-me a noite.
Haver coragem para filmar uma cena assim? Seria por vingança ou posterior acusação? Ter coragem para assistir a tal cenário, sabendo que um ser indefeso estava em sofrimento não justifica o ato, na minha opinião. Mais justo seria retirar de imediato a criança das mãos da mulher que a maltratava.
Por toda a parte, há crianças que sofrem. E que sofrem muito. E não devia ser assim.
São crianças quase andrajosas de Gaza cujas imagens nos entram em casa no dia a dia. E todas aquelas que não vemos, mas que sabemos que existem e que sofrem.
São as crianças que chegam em barcos cheios e periclitantes sobre as ondas e, como já aconteceu, morrem na praia.
São as que sofrem violações e outras formas tremendas de violência, expostas a situações de terror e morte perante a indiferença, tantas vezes, de governantes poderosos do mundo que, com todas as armas e bagagens, não se desviam nem um milímetro da ambição de salvar apenas a sua própria pele.
Felizmente, há crianças felizes, apesar do caos que vai grassando em muitas frentes, mas não podemos esquecer as que têm fome, sede e que vivem sem conhecer o direito mais que devido de ir à escola, de brincar, de viver em paz e sem bombas a rebentar-lhes a vida e a dos familiares que as deixam sós.
Fernando Pessoa disse que ‘o melhor do mundo são as crianças ‘. O pior é que milhões delas conhecem sobretudo o que o mundo tem de pior para lhes dar.