sexta-feira, 19 de abril de 2024

Mais cego é quem não quer ver...

 

Ouvi o sr primeiro ministro dizer que será ‘clarissimo’ hoje à tarde na AR, como, aliás, sempre foi.

Referia-se ao tema do IRS que o governo diz reduzir muito e que a oposição e os media dizem ser só um pouquinho para a maioria dos portugueses. E, apesar das contas, da argumentação, da justificação, da baralhação, etc, as vozes do poder levantam-se, apontando para uma corrente ‘cristalina’ que os outros querem manchar.

E nem o benefício da dúvida é dado. E nem a possibilidade de reconhecer algum erro parece estar em cima da mesa. E nem a referência às contas do governo anterior é admitida. 

A bela casa de Espinho do sr primeiro ministro fica junto ao mar. Pudesse ele parar um bocadinho e olhá-lo.  Não resolvia todas as ambiguidades, mas tornaria com certeza tudo um pouco mais cristalino.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Marque já! Faça já a sua reserva! Não falte!

 

Não sei se por cansaços acumulados, quando recebo mails que parecem acelerar o tempo e empurrar o destinatário para uma resposta rápida - e afirmativa, é claro - o que faço quase sempre é apagar, ainda que a proposta até tenha interesse. Nem me apetece continuar a esmiuçar muito. É como se ouvisse o que gosto cada vez menos de ouvir: Faz! E agora! E tem de ser depressa!

Cada vez gosto menos de agir sob pressão. Já bastaram e bastam as obrigações e deveres a cumprir em muitos dias.

Hoje, quando abri o mail, logo vi o apelo de uma ‘ativista literária’, a quem reconheço muito mérito pelo trabalho realizado, mas ler numa proposta de atividades e quase logo ‘Não falte’ tira-me a vontade de aderir, seja gratuito ou seja a pagar.

Compreendo que estas técnicas publicitárias surtam efeito na maioria dos casos. E eu, embora faça zapping nos intervalos publicitários, reconheço valor e criatividade sobretudo a frases  - quase sempre curtas  e eficazes - que vendem um produto e ficam na memória.

Mas não, não me digam para marcar já, reservar agora, encomendar no momento, não faltar ao convite… é que fico logo sem vontade de ler ou ver o anúncio. Serei a única pessoa a fazê-lo? De certeza que não. Não sei se também por cansaços acumulados.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

‘Milicanquices’

 

Nunca vi esta palavra escrita, mas ouvi-a muitas vezes quando era criança e adolescente. Hoje procurei-a num dicionário online, mas também não estava lá.

Pois bem, a minha mãe usava-a muito quando nos via, a mim e à minha irmã, a fazer coisas que para ela não tinham importância, em vez de fazermos o que ela entendia que devíamos fazer.

Por exemplo, mandava-nos regar os vasos  - as plantas sempre foram essenciais para a minha mãe - e se demorávamos a recortar, por exemplo, fotos de atores e atrizes de cinema do JN, que o meu pai comprava todos os dias, logo ouvíamos. ‘Acabem com essas milicanquices’.

Ontem, domingo, estive em casa. Gosto muito de ficar em casa ao domingo. Organizo a mente, ao mesmo tempo que organizo a mesa da sala agora com trabalhos para apresentar numa escola, a propósito de um livro infantil. A minha mãe diria que eram milicanquices. Ou talvez não. As pessoas mudam com o tempo. Tenho pena de já não poder falar com ela sobre o assunto. E de lhe perguntar se foi ela que inventou a palavra Milicanquices. Cá para mim, foi porque as palavras para ela também eram essenciais, embora não tanto como as plantas.


domingo, 14 de abril de 2024

Afinal, a mentira tem perna comprida!

 

Hoje, as notícias focam-se nos ataques do Irão a Israel. Ontem, prevalecia o tema da baixa do IRS para muitos portugueses e que foi promessa afirmada e reafirmada pela AD em campanha eleitoral. A verba de 1500 milhões de euros era tentadora e cativou muitos votos. Quem não gosta que mais algum dinheiro lhe entre na conta?!

Mas, afinal, havia outra verdade maior que não entrou nesta verdade pequenina do governo e que fez passar por verdade grande e sedutora: 1300 milhões  já vinham do anterior governo e já eram um dado adquirido. Para o ‘choque fiscal’ ficariam apenas 200 milhões de euros.

Ainda assim, o líder parlamentar veio (que remédio!) reafirmar que as pessoas é que não tinham percebido, não tinham estudado, não tinham lido com atenção o seu programa. Todos tinham estado distraídos, menos o governo. 

Esta situação fez-me lembrar a história de um homem que todos os meses dava uma quantia aos netos. Chegado o Natal, deu-lhes a mesma quantia, num envelope bonito e diferente, dizendo que era o seu presente de Natal.

Como acho piada às palavras, verifiquei que o líder parlamentar, na defesa do governo e sobretudo do primeiro ministro, usou a palavra ‘cristalino’, no mínimo cinco vezes, para atestar que o governo estava certo e que todos os outros estavam errados, apesar das imagens e das afirmações registadas.

É pena quando ao poder vem colada tanta sobranceria e vaidade. E a mentira, que se diz ter perna curta, em política, e como mais uma vez e neste caso bem  se comprova, entra de perna comprida.



quarta-feira, 10 de abril de 2024

Fica, ambiente de trabalho!


Há dias que estou sem computador. E, embora haja dias em que não abro o computador, acho que a vida é bem melhor com computador e a funcionar bem. Para mim, é claro.

No fim de semana, ao abri-lo, desmaiou-me. Apagou-se, tentei reanimá-lo, desligando e ligando o cabo, carregando delicada ou apressadamente no botão, mas nada. Fui à loja onde costumo ir. Com novo cabo, de repente, vi o que eu queria: o computador a ganhar vida e a acender-se. Fiquei feliz e vim logo para casa. Logo que pudesse, poderia utilizá-lo, acedendo ao ambiente de trabalho, onde guardo textos que me são queridos e importantes.

Ontem, ao fim da tarde, teria o prazer de voltar a abrir o computador e abrir-me ao meu mundo que também lá mora. Mas, qual quê. Os sinais de vida haviam de novo desaparecido. Não podia crer. E agora? E os textos urgentes para rever? E a história para continuar? Por que raio não faço cópias de coisas que moram no ambiente de trabalho e que podem desaparecer de repente?! Apetecia-me dizer palavrões para aliviar.

Neste momento, o dito - desculpa chamar-te assim, meu necessário e amigo computador - vai ser substituído,  

A vida das pessoas e das coisas é finita, mas, querido e velhinho computador, não leves contigo o meu ambiente de trabalho. 

À hora do almoço, vou ligar para a loja e vou saber como estás. Desculpa, se estou a ser egoísta, mas o que me preocupa mais são os trabalhos do ambiente de trabalho. Ao longo destes anos, ajudaste-me muito. Obrigada. Mas, deixa-me confiar que à hora do almoço vou saber que o que está no ambiente de trabalho continua a alimentar a minha vida.


domingo, 7 de abril de 2024

Ontem, respondi a uma personagem!

 

Faço parte de um grupo de amigos que gosta de ler e de escrever e que costuma participar em coletâneas, nomeadamente, da editora Lugar da Palavra. É uma prática já com mais de uma dezena de anos. Por exemplo, em dezembro, é publicada uma coletânea sobre o Natal; houve já uma edição de doze volumes com o título Mimos de…, dedicados a todos os meses do ano; no momento continua a realizar-se Anjos da prosa e da poesia, etc.

Pois bem, nós escrevemos os nossos textos e partilhamo-los entre nós e são momentos bons a que já nos habituámos.  Quase sempre há elogios, mas também sugestões, deteção de gralhas, etc. 

E é curioso que, apesar de ser uma coisa restrita, há quem faça uma análise ao pormenor, de consolar a alma. 

Como atualmente estamos a escrever para a coletânea Anjos da prosa e da poesia, um dos elementos do grupo falou do momento que estava a viver, através de uma personagem que criou e cujo nome achei sugestivo. Ora, não sei se por causa do nome, dei a minha opinião sobre o texto, escrevendo à personagem e não à autora do texto. Deu-me muito prazer fazê-lo. A personagem também já me respondeu e parece que gostou, assim como ‘a outra metade’, isto é, a autora do texto.

São pequenas coisas que, se lhes acharmos piada, alegram a vida. E, ao fim e ao cabo, todos nós temos um bocadinho de personagem, apesar da realidade que nos convoca a toda a hora. Não acham?


Bom fim de tarde de domingo,


P.S. Em breve, envio o regulamento para a coletânea Anjos da Prosa e da Poesia. 



segunda-feira, 1 de abril de 2024

Se eu tivesse um diário...

 

 ... dispensaria o 'Querido diário' e hoje escreveria:

Nesta Páscoa, tenho a família cá em casa. Antes da sua vinda, fiz uma lista para o supermercado para que não me esquecesse de nada. A folhinha foi deixada em cima da mesa da cozinha e fiz muitos acrescentos, sempre que me lembrava do que cada um gosta.

Na Sexta-Feira Santa, o mais pequenino fez anos e a família de Londres chegou ao aeroporto F. Sá Carneiro, cheiinho de emigrantes de visita à terra e de muitos turistas em busca de novas terras.

Levei um raminho de camélias do jardim para a minha neta e pus na cadeirinha do carro. Ela gostou da ideia e queixou-se da cadeira não ser de pessoa normal, segundo ela, na graça dos seus oito anos.

Chegados à festa de aniversário, eis a correria feliz no reencontro dos primos e amiguinhos. A minha neta vivia momentos sempre desejados: brincar com os primos portugueses, o que só acontece de vez em quando,  como com os primos americanos. Às vezes, fica triste por não ter família mais perto.

E ver crianças contentes e felizes é, por si só, uma festa.

Mas as festas, para mim, não são o meu forte. Sobretudo no antes. Aprecio muito mais o durante e ainda mais o depois. Sobretudo se estou ligada à preparação. Quando sou apenas convidada, o constrangimento é menor.

Mas foi uma festinha bonita e ainda mais bonito foi ver o meu neto, que fazia três anos, a correr feliz.

Ontem, dia de Páscoa, veio o compasso logo de manhã. Não contava com a sua vinda tão cedo. Ficámos no hall da entrada, ainda com sacos de presentes da véspera. Eram simpáticos os elementos da visita pascal. Perguntaram aos meninos se queriam tocar o sino-campainha. Claro que sim. Achei bem o pequeno gesto e lembrei-me de igrejas bastante vazias e ainda mais de jovens.

À tarde, foram a uma caça ao ovo, em Gaia. Vinham divertidos e os meninos com desenho de um coelhinho nas carinhas larocas.

Preferi ficar em casa. Gosto de intervalos em que organizo a casa e a mente. Quando chegaram, havia arroz de polvo e pataniscas. Gostaram e fiquei contente.

Hoje, foram a outro lugar de diversão com priminhos. Para memória desta Páscoa ainda a decorrer e até agora feliz. Felizmente.

Com a casa silenciosa durante horas, escrevi mais uma página de uma história que estou a escrever com uma amiga e parceira de escrita.

Em breve, terei de novo a casa cheia e vou querer ouvir aventuras da tarde.

Já sei o que vou fazer para o jantar. Para já, vou tirar a loiça da máquina e descascar cebolas e cenouras.

PÁSCOA FELIZ!