segunda-feira, 22 de abril de 2024

Aqui se fala de uma menina cujo pai tinha um carro e da Berta que nunca nele entraria

 

A minha escola primária ficava a mais de um km de casa. Eu ia a pé, como a grande maioria das crianças, fizesse sol ou estivesse a chover. E os poucos transportes públicos não entravam sequer na equação. Lembro-me de uma menina cujo pai tinha carro e tempo de a levar e trazer. Só a menina entrava no carro e, mesmo quem morava muito perto nunca tinha a sorte de ter boleia. Havia meninas vizinhas que sonhavam chegar a casa de carro. Nem que fosse só uma vez.

Um dia, vinham duas meninas a pé da escola. Uma delas era a menina cujo pai tinha carro, mas, nesse dia só muito dificilmente chegaria a horas, daí o atraso.  Nisto, o carro do pai da menina parou e ela entrou logo de seguida. A outra menina, sorrindo ingenuamente, dirigiu-se com ela também à porta. Seria naquele dia que chegaria de carro a casa. Porém, a porta logo se fechou e o carro arrancou. A menina viu-o desaparecer e continuou em desconsolo o seu percurso a pé. 

Dentro da escola, as aulas decorriam como sempre. As duas filas da frente eram ocupadas pelas meninas que iam fazer o exame de admissão ao liceu, tal como a menina que tinha entrado no carro do pai e fechado logo a porta sem quaisquer palavras de despedida para a menina que ficará em terra. O grupo  sobressaía pelas batas branquíssimas de entremeios de rendas. 

Nas filas a seguir, ficavam as meninas remediadas, de rostos bastante bem alimentados, mas que não iam continuar a estudar. Seguiriam o caminho das avós e das mães. Nas filas de trás, estavam as meninas mais pobres, algumas delas descalças, mal vestidas e muito magras. Eram as que menos sabiam as matérias e as que mais apanhavam com a régua porque não faziam os deveres e não aprendiam a fazer as contas. Eu estava no grupo das remediadas e numa das filas atrás de mim estava a Berta. Nunca mais a vi depois desses tempos de escola primária antes do 25 de Abril de 1974. Não sei se a reconheceria se a visse agora. Quase de certeza que não. Nem ela a mim. Seria mais fácil o reconhecimento se houvesse o espírito de entreajuda, e não degraus a fechar ou a descer cada vez mais.



domingo, 21 de abril de 2024

O regedor Amado

 

Uma das figuras da minha aldeia, na minha infância, era o regedor. Nesse tempo, nunca lhe conheci o nome. Nem quase ninguém, acho eu. Era o regedor e bastava. Para o baixo mas entroncado, a sua voz forte ouvia-se à distância. Só a calava se queria chegar a qualquer lugar pela calada e assim surpreender o infrator.

 Quase toda a gente tinha medo do regedor, porque ele tinha o poder de dar voz de prisão. Por isso, quem roubava alguma galinha, ou hortaliças dos campos, ou fruta das árvores, ou chamava nomes a alguém, etc. logo se dizia que ia ser chamado ao regedor.

O regedor era casado e tinha filhos. A mulher andava por casa e de avental; os filhos escondiam-se no meio do milho e atiravam pedras. Sabia-se que eram eles mas, como eram filhos do regedor, ninguém os acusava. O melhor era não fazer queixa, porque ele podia ficar zangado, saber de coisas que ninguém sabia, inventar outras e, assim, tramar os queixosos, sobretudo os mais fracos.

O tempo foi passando, chegou o 25 de Abril e o regedor perdeu, naturalmente, a função. Recolheu a casa e quem o via a tratar do quintal dizia que parecia mais pequenino e que a terra lhe tinha colhido a voz.

Poucos anos depois, morreu. Desde que tinha deixado de ser regedor, as pessoas da aldeia chamavam-no pelo nome e, no dia da sua morte, diziam umas às outras: Morreu o Amado. 

Dizem que alguém acrescentou num desses momentos: Morreu o Amado. Morreu aquele que nunca o foi.


sexta-feira, 19 de abril de 2024

Mais cego é quem não quer ver...

 

Ouvi o sr primeiro ministro dizer que será ‘clarissimo’ hoje à tarde na AR, como, aliás, sempre foi.

Referia-se ao tema do IRS que o governo diz reduzir muito e que a oposição e os media dizem ser só um pouquinho para a maioria dos portugueses. E, apesar das contas, da argumentação, da justificação, da baralhação, etc, as vozes do poder levantam-se, apontando para uma corrente ‘cristalina’ que os outros querem manchar.

E nem o benefício da dúvida é dado. E nem a possibilidade de reconhecer algum erro parece estar em cima da mesa. E nem a referência às contas do governo anterior é admitida. 

A bela casa de Espinho do sr primeiro ministro fica junto ao mar. Pudesse ele parar um bocadinho e olhá-lo.  Não resolvia todas as ambiguidades, mas tornaria com certeza tudo um pouco mais cristalino.


quarta-feira, 17 de abril de 2024

Marque já! Faça já a sua reserva! Não falte!

 

Não sei se por cansaços acumulados, quando recebo mails que parecem acelerar o tempo e empurrar o destinatário para uma resposta rápida - e afirmativa, é claro - o que faço quase sempre é apagar, ainda que a proposta até tenha interesse. Nem me apetece continuar a esmiuçar muito. É como se ouvisse o que gosto cada vez menos de ouvir: Faz! E agora! E tem de ser depressa!

Cada vez gosto menos de agir sob pressão. Já bastaram e bastam as obrigações e deveres a cumprir em muitos dias.

Hoje, quando abri o mail, logo vi o apelo de uma ‘ativista literária’, a quem reconheço muito mérito pelo trabalho realizado, mas ler numa proposta de atividades e quase logo ‘Não falte’ tira-me a vontade de aderir, seja gratuito ou seja a pagar.

Compreendo que estas técnicas publicitárias surtam efeito na maioria dos casos. E eu, embora faça zapping nos intervalos publicitários, reconheço valor e criatividade sobretudo a frases  - quase sempre curtas  e eficazes - que vendem um produto e ficam na memória.

Mas não, não me digam para marcar já, reservar agora, encomendar no momento, não faltar ao convite… é que fico logo sem vontade de ler ou ver o anúncio. Serei a única pessoa a fazê-lo? De certeza que não. Não sei se também por cansaços acumulados.


segunda-feira, 15 de abril de 2024

‘Milicanquices’

 

Nunca vi esta palavra escrita, mas ouvi-a muitas vezes quando era criança e adolescente. Hoje procurei-a num dicionário online, mas também não estava lá.

Pois bem, a minha mãe usava-a muito quando nos via, a mim e à minha irmã, a fazer coisas que para ela não tinham importância, em vez de fazermos o que ela entendia que devíamos fazer.

Por exemplo, mandava-nos regar os vasos  - as plantas sempre foram essenciais para a minha mãe - e se demorávamos a recortar, por exemplo, fotos de atores e atrizes de cinema do JN, que o meu pai comprava todos os dias, logo ouvíamos. ‘Acabem com essas milicanquices’.

Ontem, domingo, estive em casa. Gosto muito de ficar em casa ao domingo. Organizo a mente, ao mesmo tempo que organizo a mesa da sala agora com trabalhos para apresentar numa escola, a propósito de um livro infantil. A minha mãe diria que eram milicanquices. Ou talvez não. As pessoas mudam com o tempo. Tenho pena de já não poder falar com ela sobre o assunto. E de lhe perguntar se foi ela que inventou a palavra Milicanquices. Cá para mim, foi porque as palavras para ela também eram essenciais, embora não tanto como as plantas.


domingo, 14 de abril de 2024

Afinal, a mentira tem perna comprida!

 

Hoje, as notícias focam-se nos ataques do Irão a Israel. Ontem, prevalecia o tema da baixa do IRS para muitos portugueses e que foi promessa afirmada e reafirmada pela AD em campanha eleitoral. A verba de 1500 milhões de euros era tentadora e cativou muitos votos. Quem não gosta que mais algum dinheiro lhe entre na conta?!

Mas, afinal, havia outra verdade maior que não entrou nesta verdade pequenina do governo e que fez passar por verdade grande e sedutora: 1300 milhões  já vinham do anterior governo e já eram um dado adquirido. Para o ‘choque fiscal’ ficariam apenas 200 milhões de euros.

Ainda assim, o líder parlamentar veio (que remédio!) reafirmar que as pessoas é que não tinham percebido, não tinham estudado, não tinham lido com atenção o seu programa. Todos tinham estado distraídos, menos o governo. 

Esta situação fez-me lembrar a história de um homem que todos os meses dava uma quantia aos netos. Chegado o Natal, deu-lhes a mesma quantia, num envelope bonito e diferente, dizendo que era o seu presente de Natal.

Como acho piada às palavras, verifiquei que o líder parlamentar, na defesa do governo e sobretudo do primeiro ministro, usou a palavra ‘cristalino’, no mínimo cinco vezes, para atestar que o governo estava certo e que todos os outros estavam errados, apesar das imagens e das afirmações registadas.

É pena quando ao poder vem colada tanta sobranceria e vaidade. E a mentira, que se diz ter perna curta, em política, e como mais uma vez e neste caso bem  se comprova, entra de perna comprida.



quarta-feira, 10 de abril de 2024

Fica, ambiente de trabalho!


Há dias que estou sem computador. E, embora haja dias em que não abro o computador, acho que a vida é bem melhor com computador e a funcionar bem. Para mim, é claro.

No fim de semana, ao abri-lo, desmaiou-me. Apagou-se, tentei reanimá-lo, desligando e ligando o cabo, carregando delicada ou apressadamente no botão, mas nada. Fui à loja onde costumo ir. Com novo cabo, de repente, vi o que eu queria: o computador a ganhar vida e a acender-se. Fiquei feliz e vim logo para casa. Logo que pudesse, poderia utilizá-lo, acedendo ao ambiente de trabalho, onde guardo textos que me são queridos e importantes.

Ontem, ao fim da tarde, teria o prazer de voltar a abrir o computador e abrir-me ao meu mundo que também lá mora. Mas, qual quê. Os sinais de vida haviam de novo desaparecido. Não podia crer. E agora? E os textos urgentes para rever? E a história para continuar? Por que raio não faço cópias de coisas que moram no ambiente de trabalho e que podem desaparecer de repente?! Apetecia-me dizer palavrões para aliviar.

Neste momento, o dito - desculpa chamar-te assim, meu necessário e amigo computador - vai ser substituído,  

A vida das pessoas e das coisas é finita, mas, querido e velhinho computador, não leves contigo o meu ambiente de trabalho. 

À hora do almoço, vou ligar para a loja e vou saber como estás. Desculpa, se estou a ser egoísta, mas o que me preocupa mais são os trabalhos do ambiente de trabalho. Ao longo destes anos, ajudaste-me muito. Obrigada. Mas, deixa-me confiar que à hora do almoço vou saber que o que está no ambiente de trabalho continua a alimentar a minha vida.


domingo, 7 de abril de 2024

Ontem, respondi a uma personagem!

 

Faço parte de um grupo de amigos que gosta de ler e de escrever e que costuma participar em coletâneas, nomeadamente, da editora Lugar da Palavra. É uma prática já com mais de uma dezena de anos. Por exemplo, em dezembro, é publicada uma coletânea sobre o Natal; houve já uma edição de doze volumes com o título Mimos de…, dedicados a todos os meses do ano; no momento continua a realizar-se Anjos da prosa e da poesia, etc.

Pois bem, nós escrevemos os nossos textos e partilhamo-los entre nós e são momentos bons a que já nos habituámos.  Quase sempre há elogios, mas também sugestões, deteção de gralhas, etc. 

E é curioso que, apesar de ser uma coisa restrita, há quem faça uma análise ao pormenor, de consolar a alma. 

Como atualmente estamos a escrever para a coletânea Anjos da prosa e da poesia, um dos elementos do grupo falou do momento que estava a viver, através de uma personagem que criou e cujo nome achei sugestivo. Ora, não sei se por causa do nome, dei a minha opinião sobre o texto, escrevendo à personagem e não à autora do texto. Deu-me muito prazer fazê-lo. A personagem também já me respondeu e parece que gostou, assim como ‘a outra metade’, isto é, a autora do texto.

São pequenas coisas que, se lhes acharmos piada, alegram a vida. E, ao fim e ao cabo, todos nós temos um bocadinho de personagem, apesar da realidade que nos convoca a toda a hora. Não acham?


Bom fim de tarde de domingo,


P.S. Em breve, envio o regulamento para a coletânea Anjos da Prosa e da Poesia. 



segunda-feira, 1 de abril de 2024

Se eu tivesse um diário...

 

 ... dispensaria o 'Querido diário' e hoje escreveria:

Nesta Páscoa, tenho a família cá em casa. Antes da sua vinda, fiz uma lista para o supermercado para que não me esquecesse de nada. A folhinha foi deixada em cima da mesa da cozinha e fiz muitos acrescentos, sempre que me lembrava do que cada um gosta.

Na Sexta-Feira Santa, o mais pequenino fez anos e a família de Londres chegou ao aeroporto F. Sá Carneiro, cheiinho de emigrantes de visita à terra e de muitos turistas em busca de novas terras.

Levei um raminho de camélias do jardim para a minha neta e pus na cadeirinha do carro. Ela gostou da ideia e queixou-se da cadeira não ser de pessoa normal, segundo ela, na graça dos seus oito anos.

Chegados à festa de aniversário, eis a correria feliz no reencontro dos primos e amiguinhos. A minha neta vivia momentos sempre desejados: brincar com os primos portugueses, o que só acontece de vez em quando,  como com os primos americanos. Às vezes, fica triste por não ter família mais perto.

E ver crianças contentes e felizes é, por si só, uma festa.

Mas as festas, para mim, não são o meu forte. Sobretudo no antes. Aprecio muito mais o durante e ainda mais o depois. Sobretudo se estou ligada à preparação. Quando sou apenas convidada, o constrangimento é menor.

Mas foi uma festinha bonita e ainda mais bonito foi ver o meu neto, que fazia três anos, a correr feliz.

Ontem, dia de Páscoa, veio o compasso logo de manhã. Não contava com a sua vinda tão cedo. Ficámos no hall da entrada, ainda com sacos de presentes da véspera. Eram simpáticos os elementos da visita pascal. Perguntaram aos meninos se queriam tocar o sino-campainha. Claro que sim. Achei bem o pequeno gesto e lembrei-me de igrejas bastante vazias e ainda mais de jovens.

À tarde, foram a uma caça ao ovo, em Gaia. Vinham divertidos e os meninos com desenho de um coelhinho nas carinhas larocas.

Preferi ficar em casa. Gosto de intervalos em que organizo a casa e a mente. Quando chegaram, havia arroz de polvo e pataniscas. Gostaram e fiquei contente.

Hoje, foram a outro lugar de diversão com priminhos. Para memória desta Páscoa ainda a decorrer e até agora feliz. Felizmente.

Com a casa silenciosa durante horas, escrevi mais uma página de uma história que estou a escrever com uma amiga e parceira de escrita.

Em breve, terei de novo a casa cheia e vou querer ouvir aventuras da tarde.

Já sei o que vou fazer para o jantar. Para já, vou tirar a loiça da máquina e descascar cebolas e cenouras.

PÁSCOA FELIZ!

sábado, 23 de março de 2024

A princesa está doente

 

Nas histórias de encantar, que eu saiba, as princesas nunca adoecem nem perdem a beleza e elegância. Kate, no Reino Unido atual, parecia também uma princesa de uma história de encantar. Capa de jornais e revistas, sempre foi imitada pelo mundo fora. Jovem, bela, elegante, teria e tem acesso a todos os bens possíveis e imaginários em palácios de todas as riquezas, belezas e ajudas. Nada de mal  poderia acontecer a tão amada princesa, futura rainha e só depois vista como mulher.

A sua figura era procurada por todas as câmaras que a fixavam ao pormenor: as joias, a roupa, os sorrisos, os adereços, o cabelo, os gestos, a cintura finíssima...

Nada destoava naquele ser quase divino de perfeição. 

Porém, a doença visitou-a e instalou-se no seu corpo, que parecia imune a tudo o que o pudesse danificar.

Os filhos da princesa, apesar da imensidão de cuidados a que terão acesso, sentirão de certeza o desencanto triste de ver a mãe mais frágil do que a viam antes de ter ficado doente. Tal como uma imensidão de crianças anónimas pelo mundo fora, em vidas tão diferentes mas nos sentimentos tão iguais.

E a fragilidade da princesa doente, como a vimos ontem, sentada sozinha num banco de um jardim palaciano, vestida de forma simples e comum, era bem diferente dos momentos festivos da realeza em que os fotógrafos nada queriam perder para vender toda a força encantatória daquela figura.

Nesse banco de jardim, que já correu o mundo, tendo atrás de si flores pequeninas e singelas, a princesa comunicou a fé nas suas melhoras, pediu recato, pôs-se ao lado de quem foi atingido pela mesma doença, referiu a atenção ao corpo, à mente e ao espírito... Vimo-la aqui como mulher e só depois princesa ou futura rainha.

As vidas humanas, de facto, são tão diferentes em tanta coisa mas nas fragilidades, que a todos acontecem, tão iguais.



quinta-feira, 21 de março de 2024

Não sei se vos acontece, mas há dias em que não gostamos de nós!

 

Se calhar, não era o título mais esperado em início de primavera, mas acontece. A muitos, para não dizer a todos porque não gosto de generalizar. 

Às vezes não gostamos de nós, não só porque o corpo não é ágil nem esbelto como se desejaria, mas, sobretudo, por palavras não ditas, por gestos que foram contidos, isto é, sobretudo por escassez e não por excesso. Embora os excessos também não tragam muitas alegrias, habitualmente.

E, se o desamor acontece, sobretudo por nós próprios, vêm à cabeça coisas que custou ouvir há muito muito tempo, e que ficaram demasiado coladas à alma. Como o caso da menina a quem uma tia chamava palonça com muita frequência. A menina cresceu, viveu muito, mas nunca apagou a mágoa dessa palavra.

Que as palavras de hoje sejam mais elogiosas. Ditas e ouvidas - em modo de gostarmos mais de nós. E dos outros, é claro.

Boa primavera!


quarta-feira, 20 de março de 2024

Ai, os telemóveis!

 

Vi há poucos minutos uma reportagem de uma escola de Gondomar, onde à chegada os alunos deixam os telemóveis numa caixa, não os tendo com eles, nem nas aulas nem nos intervalos.

Um professor justificou os benefícios da medida, nomeadamente nos intervalos das aulas: as crianças e os jovens falarem mais uns com ou outros, correrem mais, libertarem energias, etc. Referiu até que se veem jogos tradicionais, o que há muito não acontecia.

Eu concordo com esta medida e impossível não me lembrar de situações na sala de aula que causavam constrangimentos. Por exemplo, havia alunos que teimavam em pôr as mochilas sobre a mesa para assim esconderem o telemóvel e estar à mão para uso silencioso. E não era nada fácil convencer alguns de que o lugar das mochilas não era sobre a mesa, e, muito menos, o que pretendiam usar sem mostrar.

Mas também os adultos nem sempre são exemplares. Basta ouvir os toques altos e prolongados em momentos em que não são nada desejados.

Também há o oposto, como é habitualmente o meu caso: ando quase sempre com o telemóvel sem som e nem sempre oiço as chamadas. No entanto, ligo depois, sobretudo para os números que conheço. Tenho é de pagar as chamadas, o que é um inconveniente.

Voltando ao tema dos telemóveis nas escolas, oxalá que sirva também para não se ver tanto o que agora é muito frequente, por exemplo, em qualquer restaurante: pais e filhos cada um com o seu telemóvel ou ipad, mesmo enquanto comem. 

 

domingo, 17 de março de 2024

Felizmente continuam sinais de primavera!


 


sexta-feira, 15 de março de 2024

Em Londres, é primavera, disse ela!

  





Já chega!

 

Há muitos anos que leio o semanário Expresso com bastante regularidade, em papel e agora por assinatura eletrónica. Porém, venho a notar que o jornal dá um grande relevo ao partido de A.Ventura. Não os contei, mas uma grande parte dos grandes títulos  de primeira página é sobre esse partido, o que acontece há muito tempo. Para não falar de grandes fotos do líder partidário a ocupar muito espaço de páginas interiores. Ora, quando tal acontece, há a intenção de chamar a atenção para o que se põe em destaque e não apenas com o objetivo de informar. A menos que prevaleçam os jogos de audiências ou a moda populista que vai grassando dentro e de fora da Europa.

Como de costume, hoje, 6ª f., recebi o Expresso online e, mais uma vez, o partido de extremadireita surge logo no primeiro e grande título da capa, o mesmo acontecendo com o Expresso curto. Como se fosse esse o único motivo de interesse e o único tema de conversa.

Ora, irritada, liguei para  o jornal a manifestar o meu desagrado e a solicitar que deixassem de me enviar o semanário, porque não queria encher a minha caixa de correio com notícias, para mim, demasiado tendenciosas. E acrescentei que, na SIC, são frequentes debates com pessoas de uma só cor partidária, a do seu fundador, o que também me desagrada.

A ouvir-me estava uma funcionária, educada e políticamente correta, que me disse que o fim da minha assinatura do jornal não estava para breve, mas, perante a minha insistência, que deixaria de ser avisada previamente da emissão.

Pedi também que desse a conhecer a quem de direito as discordâncias que referi, como leitora e assinante.

Tenho consciência de que isto é apenas uma pequeníssima gota no oceano, mas nós, cidadãos comuns, temos o direito de manifestar a nossa vontade e não aceitar apenas a vontade de outrem. Para mais, por um serviço pago e tão importante como é um jornal.

 


quarta-feira, 13 de março de 2024

Verde mais verde haverá, mas há muita beleza por lá!

 

Ontem, fui pela primeira vez ao Parque de S. Roque - perto das Antas, no Porto.

É bonito, está bem tratado e vemos flores por toda a parte - sejam elas plantadas ou espontâneas.

 Havia alguns visitantes e quem se sentasse ou estendesse na relva a gozar o claro calor do sol.

As subidas e descidas do terreno são compensadas pelos bancos frequentes. Dão para contemplar os múltiplos recantos, para conversar com quem está connosco, para descansar um pouco - na boa preguiça destes espaços bonitos e calmos!!!!






terça-feira, 12 de março de 2024

Gosto dos sinais de primavera

 


Quando vejo estes arbustos - não sei o nome, mas conheço bem as flores - sinto animada e simples alegria. São um sinal de primavera e ainda bem que vêm no tempo certo.

Já vieram as magnólias, os narcisos, as frésias... Para não falar das belas e efémeras camélias. Ah, e também as andorinhas - flores e aves.

 




domingo, 10 de março de 2024

Hoje há lugar para muitos encontros

 

A mesa de voto, onde hoje votei, fica num centro escolar. Bonito, airoso e com muitos trabalhos coloridos feitos pelas crianças. Como era cedo, ainda havia pouca gente. No passeio de acesso, cruzei-me com uma pessoa desconhecida que me disse bom dia. Bom sinal - pensei.

Já na mesa da entrada do local das votações, logo reconheci duas raparigas que conheço desde muito miúdas, mas que já não via há muito tempo. Uma delas colega de escola de uma das minhas filhas, a outra, colega de brincadeira de ambas. O tempo ainda não era de telemóveis nem de jogos eletrónicos e os medos não estavam tão presentes, por isso, a rua era lugar onde a grande maioria de crianças brincava.

Na sala onde votei, encontrei ex-alunas que logo me reconheceram. Fiquei contente e pensei: as rugas e os quilos a mais não me tornaram, pelo menos, irreconhecível. 

Depois da cruzinha no quadradinho que para mim foi o mais certo, saí e pelo corredor fora mais ex-alunos encontrei e também alguns vizinhos - pessoas que, morando perto ou longe, raramente vejo, porque cada um tem a sua vida.

As eleições também têm esta vantagem: vermo-nos uns aos outros e pensar que cada um tem o valor de ajudar a sustentar a democracia. Oxalá que assim continue. 

E gostei dos reencontros de hoje. E dos sorrisos. E das palavras simples e boas. E de sermos todos chamados. Logo à noite, veremos quem são os escolhidos.

 


sábado, 9 de março de 2024

As andorinhas


Hoje, num grupo do whatsapp, falámos de flores. Não das compradas, mas das que nascem pertinho de nós em vasos, canteiros ou no jardim. Algumas aparentemente espontâneas. E vieram à baila as andorinhas - a flor branca e pequenina, que tem nome de ave, e que agora se vê muito menos do que eu via na minha infância.


Peguei no telemóvel e fui fotografar uma andorinha que me tinha nascido num canteiro, sem eu a ter semeado, trazida talvez no bico de algum melro. Como floriu há bastantes dias e a chuva tem sido muita, lá vai murchando e envelhecendo, mas gostei de a ver aqui renascida, lembrando-me momentos puros da minha infância.

Não sou muito saudosa do passado, mas venham mais andorinhas, trazendo com elas a primavera. Falo das flores e também das aves.


sexta-feira, 8 de março de 2024

Hoje, dia 8 de Março, não faltam

 

 ...  flores para distribuir a mulheres.

Não faltam apelos gentis para que votem no partido que hoje se lembra delas. Como se sempre assim tivesse sido. Como se fosse para sempre.


Oxalá a homenagem e gentileza não durem apenas algumas horas como as flores oferecidas,

como os apelos que logo dão lugar a outros e outros para que tudo fique prometido

até às badaladas que fecham este dia.

 

Que não adormeça, pelo menos, algum perfume dos dias.



«Já sei ler e leio bem!»

 


Tenho ido com a Cristina Pinto a escolas do 1º ciclo, pertencentes ao mesmo agrupamento de Valbom, Gondomar, para falarmos do livro que escrevi e que a Cristina ilustrou.


Tem sido uma belíssima experiência, porque as crianças fazem perguntas, interessam-se, entusiasmam-se, dão a sua opinião, veem que as árvores que recortámos e pendurámos, como um bosque, são feitas de papel reutilizado, escutam a leitura de excertos da história com atenção, aderem à proposta de desenhar uma fadinha para juntar ao bosque, logo fazendo perguntas sobre o tamanho, sobre as cores, etc. E, como já tem acontecido noutras escolas, antes do desenho, lá vem a pergunta engraçada de algum menino: posso desenhar um fado em vez de fada?

São espontâneos. Ontem, um menino de óculos de duas cores bem vivas disse-nos com alegre convicção: ando no primeiro ano e já sei ler muito bem. 

E era verdade, mesmo. Enquanto alguns meninos apreciavam a árvore das fadas e da amizade, feita pela Cristina Pinto, a professora sentou-se numa cadeira e o menino bom leitor sentou-se-lhe no colo e leu um pequeno excerto do livro para quem o quis ouvir. O menino estava feliz e a professora também.

É muito bonito ver a ligação afetuosa dos meninos às professoras. E também para nós  - autoras do livro - houve muitos abracinhos. 

Continuamos na próxima semana.  Vai continuar a ser bom, com certeza. Oxalá que também  para as crianças.


quinta-feira, 7 de março de 2024

Apetecia-me fazer como a avestruz, mas ...

 

Como já tenho dito, vi quase todos os debates com os candidatos e candidatas às legislativas e bastantes debates que se seguiam aos referidos debates, embora,  desde o início, já soubesse em quem ia votar. 

Sei que, com tanta sondagem feita, o meu telefone nunca tocou para me perguntarem em quem vou votar ou se faço parte daquele grande grupo dos indecisos que poderão alterar, ou não, todas as previsões. Também não conheço ninguém que tenha sido contactado, mas também é natural porque o espaço em que me movo não é muito alargado. E não faço parte de bolhas (palavra agora muito na moda) mais contactáveis e sondadas.

Confesso que já sinto algum cansaço da campanha eleitoral, que foi muito longa. De promessas que, mesmo os leigos em macrocontas, como eu, que fazem arregalar os olhos de espanto. Como é possível prometer tal coisa? Onde está o respeito pela inteligência do povo?

E a campanha também se foi fazendo nas televisões, mesmo sem os protagonistas. E de que maneira. Basta ver painéis diários formados, na sua grande maioria, por pessoas afetas ao partido do dono da televisão, a ditar o seu sobe e desce e a ter mais olhos para os candidatos da sua cor política.

Por isso, às vezes, digo para mim própria: vou deixar de ver. Tenho tanta coisa para fazer, tantos livros bons para ler, algumas histórias que quero escrever, mas, nem sempre resisto e lá vou eu ver as sondagens, reportagens, etc.

Amanhã, termina a campanha, julgo que ao bater das doze badaladas, quando o sol se tiver posto há muito. No domingo, ver-se-á quem contou melhor a história. Oxalá que todos a possam ler, sem perder a esperança que ainda nos resta.

 

terça-feira, 5 de março de 2024

"Uma gota no meio do oceano"

 

Gosto quase sempre dos textos que Eunice Lourenço escreve no Expresso, assim como costumo concordar com as suas opiniões em debates na SIC.

Hoje, o Expresso na Estrada começa com o excerto que transcrevo. Mais uma vez concordo com a jornalista. Inteiramente.

 

O voto é sempre útil, mesmo quando parece desperdiçado

EXCLUSIVO ASSINANTES | 05 março 2024

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«“O que eu faço é uma gota no meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor” - a frase é da Madre Teresa de Calcutá. E, salvo as devidas distâncias, pode ser aplicada a cada voto: “O meu voto é uma gota no meio do oceano, Mas, sem ele, a democracia será menor.” Não é só o resultado do partido A ou B que será menor, é a democracia. Sempre votei. Ainda sou do tempo em que nos íamos recensear à Junta de Freguesia e lembro-me bem da importância que senti no momento. Sempre votei, mesmo quando não consegui escolher e decidi votar em branco. Haverá voto mais inútil do que um voto em branco?» 

 

Em diálogo numa biblioteca

 


Ontem, numa escola primária (um dia destes, mostro mais fotos do evento de que gostei tanto):

- Tenho uma neta da vossa idade.

- Tem oito anos?

- Sim, e vive em Londres.

- Oh! E ela fala português ou londrês?


domingo, 3 de março de 2024

'Passos e braços' de Clementina de Sousa

 

Ontem à tarde, na bonita e luminosa Biblioteca Municipal de Gondomar, Clementina de Sousa apresentou o livro


O desenho da capa é da sua neta Mafalda.

Somos amigas há muitos muitos anos e conheço bem o seu amor pelas palavras ditas e escritas. E também o conhecem a família, os amigos e os que com ela trabalham ou trabalharam. Para além de escritora, é uma boa comunicadora. Que o digam também os ex-alunos a quem contava histórias. Uma delas era a Branca-Flor, que há uns anos reescreveu e publicou.

Professora aposentada, tem dedicado agora mais tempo à escrita, à leitura, etc.

Manuel Maria - professor também durante longos anos e autor de vários livros - fez a apresentação: uma bela análise e bela aula de Literatura (texto que generosamente já partilhou) à volta do novo livro da Clementina, agora publicado e que considerou uma novela.

O editor - Lugar da Palavra - na sua intervenção, comparou a escrita profunda da autora a Virgílio Ferreira. Merecido elogio.

A autora, na sua intervenção, referiu palavras/questões partilhadas - citadas por Lídia Jorge e vindas do poeta Ramos Rosa - nas Correntes d'Escritas, que decorreram há dias na Póvoa de Varzim: 'Se tanta gente escreve, para que devo escrever também?' E a resposta surgiu inspiradora: 'Mas faltam os meus passos e os meus braços'. 

Este livro - que refere vidas diferentes, nomeadamente de dois irmãos - apresentado numa tarde de chuva mas de muito calor humano, motivará, com certeza, outras leituras e escritas. 

Que não parem 'passos e braços' para expandirem a maravilha da criação e comunicação.

 







sábado, 2 de março de 2024

E se as televisões começassem a falar de um pequeno partido que quase ninguém conhece?

 

Julgo não estar enganada ter ouvido o comentador da SIC José Miguel Júdice, na passada terça-feira, a louvar a prática de países, também considerados democráticos, que defendem o seu próprio candidato às eleições.  Discordo completamente, na minha modestíssima opinião.  No entanto, se estivermos atentos, vemos facilmente a tendência de certos canais no meio tão poderoso como é a televisão. E nem é preciso explicitá-la, basta ver como são constituídos os painéis de opinião - com a grande maioria de jornalistas e comentadores ligados, de uma forma ou de outra, a um determinado partido político. 

Ainda tenho a visão - talvez ingénua nos tempos que correm - que as televisões devem tentar ser imparciais, chamando  comentadores com diferentes visões e pareceres para que cada um forme a sua opinião. Sabemos que muitos jovens nem sequer ouvem ou veem a televisão, mas, para a grande maioria das pessoas, ainda continua a ser o meio de comunicação privilegiado e que exerce uma grande influência.

E pergunto agora:  E se as televisões começassem a falar de um pequeno partido que quase ninguém conhece? Acompanhando-o. Mostrando imagens. Falando dele. Repetindo o que disse, o que não disse, o que podia ter dito. Iniciando o telejornal com notícias sobre ele. Prolongando ou repetindo um pequeno acontecimento, etc.

Desculpem se é parvoíce, mas não duvido que, se assim fosse, esse pequeno partido que ninguém conhece subiria nas sondagens.

De facto, há canais de televisão portuguesa que exercem o seu poder de fazerem crescer votações de candidatos, embora não o digam explicitamente. Ainda. 

 

sexta-feira, 1 de março de 2024

Hoje está bom para estar em casa e ler e escrever...

 

Bom dia!

Está a chover, embora os pingos da chuva se vejam mais nas folhas das árvores onde caem do que a tombar das nuvens. O vento sopra, mas perdeu a força de ontem. Se calhar, o vento também se cansa. Como nós.

E os dias vão sendo do nós e eles na campanha eleitoral. Seja qual for a cor, a tendência, o programa, a visão do mundo, todos os partidos usam esses pronomes. No nós, está o bem; no eles, está o mal. E disso dão conta os comentadores que, com mais ou menos subjetividade, avaliam quem anda nas arruadas, nos comícios, nos mercados, nos cafés, etc.

E, a propósito do partido mais ruidoso, andei zangada com o Expresso Curto que recebo todos os dias online e que, há uns tempos, começava muitas vezes com notícias do Chega em letras bem gordas. Vi uma vez, vi outra vez, e mais alguma vez ainda, começou a irritar-me e mandei um mail pedindo que me retirassem da lista dos envios, uma vez que não estava interessada em ver logo à cabeça do jornal coisas que até fazem mal à cabeça. E sugeri que não levassem tanto ao colo esse partido, porque poderia tornar-se demasiado pesado. Responderam-me, muito delicadamente, que teria de dirigir o pedido a outra secção. Não encontrei o endereço certo e continuo a receber o expresso curto diário. Não tenho visto, porém, esse partido logo no título das primeiras notícias. Não foi por mim, de certeza, mas pode ter havido outras pessoas que também o tenham feito. Oxalá.

A manhã continua cinzenta, colorindo-se com as camélias que vejo da janela. Hoje está um bom dia para estar em casa e ler e escrever. 'Para quem pode' - pensar-se-á. E com razão.

 

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

Tenho de trabalhar!

 

Ela tinha três filhos. Três rapazes. Lindos e saudáveis. Foram crescendo, estudaram, saíram de casa  e fizeram-se à vida. Eram o orgulho da mãe. 

O tempo foi passando, eles tornaram-se homens, ela foi envelhecendo, mas sem percalços de maior, e fazendo coisas de que gostava, sempre incluindo os filhos - do que precisavam, do que gostavam, no que poderia ajudar, etc.

Sendo de uma geração em que os mimos não abundavam, ela foi compreendendo e aceitando o seu lado lunar, embora tivesse provas de que o lado solar também nela existia. 

Sempre que havia disponibilidade, ela gostava de contar aos filhos o que se ia passando com ela. Por coincidência ou por natureza, os três filhos, embora tivessem cada vez menos tempo, achavam graça às coisas que tinham graça ou que ela dizia com graça. Mas, como a graça raramente vem só, às vezes, o lado lunar da mãe era lembrado ou metia-se na conversa. E, também por coincidência ou natureza, nesses momentos, cada um dos três filhos dizia: Mãe, tenho de trabalhar! 

 


 

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

O cabide

 

Havia uma homem que vivia numa aldeia. Trabalhava de manhã à noite e raramente sorria. Só quando recebia visitas em casa, mas isso era raro. Nesses dias em que vinha algum amigo jogar cartas - quase sempre ao sábado à noite -, parecia um homem diferente: falava, ria, tinha sentido de humor e a casa ficava mais alegre. Os filhos olhavam para ele e, como ainda eram crianças, acreditavam que o pai se tinha transformado e também para eles sorriria.

Porém, quando as pessoas iam embora, voltava a ficar muito sério, as palavras esgotavam-se e todos ficavam mais sós.

Passavam os dias e o homem continuava a trabalhar, a trabalhar, mas sempre de rosto fechado e assim era em casa.

Nos domingos em que havia festa na aldeia, a família vestia a roupa melhor e ia até lá. Enquanto se dirigiam à festa, onde se encontravam com pessoas conhecidas e comiam doces - todos pareciam contentes.

Só que os filhos já tinham aprendido uma coisa: quando regressassem a casa, as palavras do pai ficariam penduradas no cabide do casaco domingueiro. E, por isso, já na festa entristeciam.


 

domingo, 25 de fevereiro de 2024

Dizem que não há domingo sem sol, mas há sem programa!

 

Que o poeta Fernando Pessoa me perdoe, mas ocorre-me parafraseá-lo: Ai que prazer ter um domingo para viver e sem nada marcado para fazer!

Não sei se é preguiça, algum cansaço acumulado, a idade que não perdoa, etc, mas gosto muito dos domingos em que posso gerir o meu tempo, quase sempre ficando em casa e fazendo o que quero e o que o momento me vai pedindo.

Teria bastante dificuldade em sair de casa de manhã todos os dias para o trabalho, chegar à noite e não parar um pouco, pelo menos, no fim de semana, embora saiba que não temos de ser todos iguais nem gostar das mesmas coisas. Deus me livre. Porém, para mim, trabalhar fora as horas normais e continuar a trabalhar em casa ao fim do dia pode ser muito duro. E a dureza aumenta se houver indiferença, desamor ou não reconhecimento.

No tempo em que as minhas filhas eram pequenas, poucos homens faziam trabalhos de casa e o que era feito pela maioria era encarado como ajuda, quase favor e não obrigação, ainda que as mulheres também trabalhassem fora.  Muitas zangas e momentos infelizes esta prática provocou. Felizmente, as coisas vão mudando. Para melhor, neste caso.

E, neste domingo por minha conta sem ter de pensar até no que vou fazer para o almoço, tenho a portada da janela aberta e vejo algumas camélias que caem empurradas pelo vento. Muitas outras mantêm-se nas suas hastes, ainda que frágeis.

De vez em quando, o vento sopra mais forte. Oh, fechou até uma portada e a luz natural da sala diminuiu. Porém, como estamos a meio do dia, pode ainda vir sol. Espero é que o meu domingo continue sem programa.

Bom domingo para todos!

 

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Pequenos diálogos improváveis ou, se calhar, não!

 

1. O melhor será ir pela positiva

- Meu amor, come, não deites fora a comida. Estás a ficar todo sujo. 

- Eu não quero comer.

- Assim a avó fica triste.

- T(r)iste, não, avó, (f)eliz! 


2. O telemóvel com rede

- Mãe, quando posso ter telemóvel com net?

- Ainda não precisas, querida. Tens net no teu ipad para usares em casa.

- Não é a mesma coisa, mamã. 

- Para além de não precisares, o telemóvel com net pode trazer muitos perigos às crianças. Podemos até falar sobre isso.

- Eu sei, mamã, e já me estou preparar para esta conversa há anos!



sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Já sei em quem vou votar, mas...

 

Tenho visto quase todos os debates para as eleições de 10 de março. Já me têm dito que é preciso ter paciência para tal. Sim, tenho tido. No entanto, há coisas que oiço com as quais concordo, outras com que discordo completamente, outras que não entendo sequer, como as contas que são apresentadas devagar ou a correr ou então sugeridas ou escondidas. O que detesto mesmo são as interrupções que sobretudo o candidato mais estridente põe em prática constantemente. O que faço, nestes casos, é mudar de canal ou fazer outra coisa. Penso: não tenho de aturar isto.

E, logo a seguir aos debates, e sempre que posso, oiço os comentadores que opinam sobre o que foi dito pelos candidatos ou que não foi dito e devia ter sido dito ou que não disseram porque não podiam dizer, etc. Sendo eu uma comum dos mortais, às vezes concordo com o que dizem, outras vezes irrito-me e mudo de canal, porque há comentadores que mostram demasiado a tendência política que é a sua e quase já se adivinha o que vão dizer.

Logo à noite, lá estarei, acho eu, no sofá, com o crochet em mãos, a ver o debate com os candidatos com assento parlamentar, seguido dos múltiplos debates. Só espero é que a gritaria não supere a expressão das ideias.

Seja como for, ainda que bastantes vezes insatisfeita com o partido em que conto votar, para mim, é o que me parece ser mais útil para o país e que, sobretudo, reúne pessoas com quem mais me identifico. Essa poderá continuar a ser a razão da minha escolha de há uns anos a esta parte.

Peço desculpa a quem chegou até aqui e que deve estar a pensar: então, e qual é o partido? Talvez tenham razão, porque, se me meti nelas...

O que não deixo de dizer é que quero votar, como tenho feito desde o 25 de Abril. Julgo que só uma vez não votei. Enquanto puder, manifesto-me pondo a cruzinha onde julgo que é melhor, esperando que a cruz que o país e o mundo vão carregando possa diminuir.


sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Dois momentos da manhã de hoje

 

1. Atualmente, um dos meus prazeres é ouvir um podcast de que goste, enquanto me desloco de carro. Ainda hoje de manhã isso me aconteceu, na viagem até à 'minha' cidade com o mar ao fundo - Espinho.

Como não ia com pressa, ia sendo ultrapassada por outros carros, camionetas e camiões, embora tenha o cuidado de não estorvar quem não quer ou não pode perder tempo enquanto conduz.

E ia pensando que a vida com pequenos prazeres tem muito mais piada. É um direito tão importante como qualquer dever.

 

2. Na mesma manhã, soube de uma jovem mãe que anda à procura de casa porque teria de sair da atual à qual o senhorio destinara novas funções.  Procurou e, finalmente, encontrou uma casa cuja renda não excedia as suas posses. A família alegrou-se. O senhorio deu-lhe a chave. Ela fez uma limpeza ao apartamento e foi lá pondo alguns dos seus pertences. Estava feliz.

Chegou o dia combinado para a assinatura do contrato. Finalmente, poderia trazer o resto das coisas e a família ter mais descanso.

Logo de manhã, a jovem recebeu um telefonema apressado do novo senhorio. Tinha mudado de ideias. A reunião ficava sem efeito.