Trigésimo quarto dia
Nota 1. Durante a manhã, andei a 'recadar', como uma das minhas filhas costuma dizer. A comida da cadela estava no fim, e também as batatas e as cebolas, queria ver se a minha mãe tinha tido reação à vacina covid-19, apetecia-me pão fresco, precisava de broa para fazer uma receita de polvo que vi na televisão... Quando cheguei a casa, pensei: vou almoçar e depois escrever umas notas para o meu diário. Porém, abri o computador e ideias - pouco mais que nenhumas. Só me vinham à cabeça as magnólias que tinha visto e uma tulipa que começou a irromper numa taça do pátio.
Nota 2. Liguei então a televisão. Falava-se de Cármen Dolores, que faleceu ontem aos 96 anos, deixando uma bela obra sobretudo de atriz e de grande leitora (diseuse) de poesia. Muitos elogios tem também merecido o seu lado humano. Rui de Carvalho, um colega de profissão e amigo da atriz, também ele com mais de noventa anos e de grande talento, interveio via skype e aconselhou: 'Gozem a vida. Vivam a vida'.
Nota 3. Poucos minutos depois, o resumo das notícias da uma da tarde: Covid-19, jogo FCP-Juventus de logo à noite, julgamento do pai e madrasta de Valentina. Desliguei o televisor. É que hoje, peço desculpa, quanto a estes temas, sinto-me negacionista. Sobre covid-19, vejo logo os números, um ou outro especialista e já chega; sobre o FCP, os prognósticos do fim e do início devem ser os mesmos; violência sobre crianças, não, por favor!
Nota 4. Depois do café, ficou um pouco de chocolate. Pronto, lá vou eu cair em tentação.
'(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates (...)'. Álvaro de Campos