"Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.
Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.
Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,
sob o meu cuidado
e das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.
Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi
que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,
previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas
que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém
vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado".
Louise Gluck - Prémio Nobel da Literatura 2020
(Tradução de José Alberto Oliveira)
Nasceu em Nova Yorque, EUA, em 1943
Frequentou a Escola de Artes da Universidade de Columbia
Obrigada pela informação - tenho o livro e li primeiro o poema lá, agora voltei a lê-lo aqui e programei um post no dona-redonda para Domingo com link para aqui
ResponderEliminarum beijinho e bom fim-de-semana
Que bom, Gábi, poder haver estas interações.
EliminarVou tentar ler mais poemas desta autora.
Quando compreendi o que Circe significa (feiticeira, etc), também entendi melhor este poema.
Um beijinho e bom fim de semana
M.
Um texto simplesmente fantástico!:))
ResponderEliminar-
Entreguei um sonho à lua
-
Beijos e um excelente fim de semana.:)
Também gostei muito.
EliminarUm beijinho e bom fim de semana.
M.
Bom dia!
ResponderEliminarFoi bom, logo pela manhã, ler este poema, que tanto me lembrou a Odisseia (aliás o poema só funciona plenamente como intertexto da epopeia de Homero)como este soneto de Camões:
"Um mover d’olhos brando e piadoso,
Sem ver de quê ; um sorriso brando e honesto,
quási forçado; um doce e humilde gesto,
de qualquer alegria duvidoso;
Um desejo quieto e vergonhoso;
um repouso gravíssimo e modesto;
ũa pura bondade, manifesto
indício da alma, limpo gracioso;
Um escolhido ousar; ũa brandura;
um medo sem ter culpa; um ar sereno;
um longo e obediente sofrimento:
Esta foi a celeste formosura
da minha Circe, e o mágico veneno
que pôde transformar meu pensamento."
Beijinho grande e profícuos feitiços!
IA
Bom dia!
ResponderEliminarProfícuos são sempre os teus belos e úteis comentários, Isaura.
Vamos sempre procurando uma Circe transformadora. Para o bem, é claro.
Um abraço
M.