sexta-feira, 9 de outubro de 2020

"O Poder de Circe" - Louise Gluck - Nobel 2020

Louise Glück | Lannan Foundation

 

"Nunca transformei ninguém em porco.
Algumas pessoas são porcos; faço-os
parecerem-se a porcos.

Estou farta do vosso mundo
que permite que o exterior disfarce o interior.

Os teus homens não eram maus;
uma vida indisciplinada
fez-lhes isso. Como porcos,

sob o meu cuidado
e das minhas ajudantes,
tornaram-se mais dóceis.

Depois reverti o encanto,
mostrando-te a minha boa vontade
e o meu poder. Eu vi

que poderíamos ser aqui felizes,
como o são os homens e as mulheres
de exigências simples. Ao mesmo tempo,

previ a tua partida,
os teus homens, com a minha ajuda, sujeitando
o mar ruidoso e sobressaltado. Pensas

que algumas lágrimas me perturbam? Meu amigo,
toda a feiticeira tem
um coração pragmático; ninguém

vê o essencial que não possa
enfrentar os limites. Se apenas te quisesse ter
podia ter-te aprisionado".

 

Louise Gluck - Prémio Nobel da Literatura 2020

(Tradução de José Alberto Oliveira)

 

Nasceu em Nova Yorque, EUA, em 1943

Frequentou a Escola de Artes da Universidade de Columbia


6 comentários:

  1. Obrigada pela informação - tenho o livro e li primeiro o poema lá, agora voltei a lê-lo aqui e programei um post no dona-redonda para Domingo com link para aqui
    um beijinho e bom fim-de-semana

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    Respostas
    1. Que bom, Gábi, poder haver estas interações.
      Vou tentar ler mais poemas desta autora.
      Quando compreendi o que Circe significa (feiticeira, etc), também entendi melhor este poema.
      Um beijinho e bom fim de semana
      M.

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  2. Um texto simplesmente fantástico!:))
    -
    Entreguei um sonho à lua
    -
    Beijos e um excelente fim de semana.:)

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  3. Bom dia!
    Foi bom, logo pela manhã, ler este poema, que tanto me lembrou a Odisseia (aliás o poema só funciona plenamente como intertexto da epopeia de Homero)como este soneto de Camões:

    "Um mover d’olhos brando e piadoso,
    Sem ver de quê ; um sorriso brando e honesto,
    quási forçado; um doce e humilde gesto,
    de qualquer alegria duvidoso;

    Um desejo quieto e vergonhoso;
    um repouso gravíssimo e modesto;
    ũa pura bondade, manifesto
    indício da alma, limpo gracioso;

    Um escolhido ousar; ũa brandura;
    um medo sem ter culpa; um ar sereno;
    um longo e obediente sofrimento:

    Esta foi a celeste formosura
    da minha Circe, e o mágico veneno
    que pôde transformar meu pensamento."

    Beijinho grande e profícuos feitiços!
    IA

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  4. Bom dia!
    Profícuos são sempre os teus belos e úteis comentários, Isaura.
    Vamos sempre procurando uma Circe transformadora. Para o bem, é claro.
    Um abraço
    M.

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