P.A. Renoir
Olhou-se ao espelho e gostou do que viu: os cabelos branquíssimos, acabados de lavar. Mas o que lhe agradou mais foi o ondulado dos cabelos. Quase tal e qual como quando eram bem negros. E mais fortes. E mais longos, E mais jovens. E mais brilhantes.
Tinha oitenta e seis anos. Não gostava muito de se ver ao espelho. Sobretudo de se aproximar da verdade das rugas, da perda do brilho do amendoado dos olhos. Sabia que era uma velhinha, mas o espelho, apesar de tudo, mostrava-lhe ainda o ondeado do cabelo. O tempo não lho tinha tirado. Como fez com a audição, com o andar...
Quem a via dizia: que velhinha bem arranjada. Porém, o tempo, esse atento "escultor", ia fazendo das dele. Não tinha, porém, apagado toas as histórias e versos que ela sabia de cor há quase oitenta anos. Desde o tempo da instrução primária. Que dizia ter feito com distinção.
"O temporal é grande, as pernas não me ajudam, há muito que não vou ao cabeleireiro. E sabes, filha, hoje gostei de ver que ainda tinha ondas no cabelo!"
Belíssimo texto!
ResponderEliminarCS
Olá, amiga
ResponderEliminarSe calhar, são as tuas próprias lembranças que também o embelezam.
Um abraço
M.