terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Diário de Mariana


 8 de janeiro 2013

Querido diário,

Não imaginas o que vi numa aula, hoje de manhã: uma sardanisca a passear pelo chão. Desde que entrei para a escola, nunca tinha visto semelhante coisa. Credo! Tinha para aí o tamanho de uma caneta. Eu não a vi logo, porque estava do lado da parede e ela apareceu junto à janela. O Gi foi dos primeiros a vê-la e disse-me: "olha, um crocodilo pequenino entrou na sala". Eu julguei que ele estava a gozar e continuei a ouvir a professora. Até lhe fiz sinal para estar calado. Por acaso, a aula estava a ser fixe. De repente, a Cris deu um grito e a Cat pôs-se de pé. O que foi, perguntou a setora. "É uma sardanisca, setora, ai que eu tenho medo". A Bia é que nem se mexeu. Eu até lhe disse: "a escola pode cair que tu continuas sempre atenta. É por isso que tens altas notas". Ela começou a rir-se, como é habitual.
Mas voltando à sardanisca, um dos rapazes disse logo: quer que a mate, setora? 
"Não, deixem o ser vivo à vontade. Coitado do bicho. Não faz mal a ninguém". A profe, que às vezes parece muito séria, mas que gosta também de brincar, disse assim para a Za que tem os cabelos compridos e estava perto do sítio onde apareceu a sardanisca: "atenção, Za, porque pode subir para os teus cabelos". O Cardoso, que é dado a coisas do transcendente, disse que a Za assim ficava como a Medusa. E como a sardanisca passou junto dele, ele tentou prendê-la pela cauda para a devolver à vida, mas ela escorregou-lhe nos dedos e fugiu ligeira. A escola está como nova; olha se era velha!
Passado um bocado, já ninguém via a sardanisca e a setora retomou a aula. Às vezes, dá-nos cabo da cabeça, mas hoje estava altamente e até nos disse que nós estávamos 5 estrelas até aparecer a intrusa.
Eu acho que de vez em quando devia aparecer assim alguma coisa estranha - por acaso e não provocada, é claro - porque assim descomprimimos e os setores riem-se e falam com mais naturalidade.
Ai, é verdade, eu não reparei se a setora teve medo, mas acho que a ouvi dizer: "ai que impressão!" Amanhã, vou estar a olhar para o sítio onde apareceu a sardanisca. Espero que o Gi não me diga outra vez: olha o crocodilo pequenino outra vez!

Muitos abracinhos, querido diário

Mariana

PS - Por causa da sardanisca, cheguei a casa e, antes de fazer os trabalhos de casa, escrevi esta pequena história. Amanhã, vou levá-la para a setora de português ler.



A sardanisca Faísca

Era uma vez uma pequena sardanisca que vivia  no jardim de uma escola. Os vizinhos achavam-na esquisita. Não é que não fosse simpática. Era-o e muito, mas, enquanto as outras sardanicas se entretinham a correr, na brincadeira, atrás de dois grandes vasos antigos e por uma fenda dos canteiros, a sardanisca Faísca  ficava a olhar para os meninos a entrar e a sair da escola. O que se passaria lá dentro? Ficavam lá durante horas! Todos levavam mochilas e pousavam-nas muitas vezes junto aos canteiros onde a comunidade de sardaniscas morava. 
A curiosidade aumentava. Não podia continuar cá fora sem saber o que se dizia e fazia lá dentro. Será que os meninos entravam  e saíam sempre com o mesmo peso na mochila? Sem nada acrescentar? Alguns meninos andavam carregadinhos; outros entravam levezinhos e saíam ainda mais à vontade.
Pois, um dia, a sardanisca Faísca, vendo uma destas mochilas quase vazias, pousada junto ao canteiro, saltou para um bolso que estava aberto, truz, catrapuz, e lá foi ela para a escola, às costas de um aluno que nem sonhava sequer que a transportava. Ia seguindo e espreitando por uma pequena abertura. Fixe, pensou, tem quadros nas paredes, muitos corações pendurados, pequenas árvores de Natal, muita gente a subir as escadas…
Já na sala de aula, saiu da mochila sem ninguém reparar, encostou-se à parede, que por acaso tinha uma frincha, e pôs-se a ouvir. Tantas coisas que os meninos aprendiam. Uns estavam muito atentos ao que a professora e os alunos diziam, outros preferiam conversar, embora fosse baixinho. Gostou tanto da oportunidade que  saiu da pequena toca para ouvir melhor. Não queria ser vista e pensou voltar à sua mochila, mas oh! já não sabia o caminho. Para mais, só estava habituada a andar onde havia terra e plantas e ali havia apenas a poeira dos sapatos.
E foi então, que alguém a viu. A sardanisca Faísca sentiu-se perdida e desatou a correr, a fugir e não compreendia porque ouvia gritinhos. Disfarçou-se bem rente à parede e só passadas algumas horas é que conseguiu voltar ao canteiro. Tinha valido a pena, mas foi um stress. O que vale é que tinha visto uma mochila aberta com um telemóvel a vibrar. Nem mais. O dono da mochila nem olhou para a professora não ver nem ouvir.
A sardanisca Faísca quer continuar a ir à escola. E já escolheu a próxima mochila onde vai entrar.
Essa mesmo, aquela que fica pousada no chão, enquanto o dono se esquece dela no tempo em que está a namorar.






4 comentários:

  1. Nada como uma sardanisca para quebrar a monotonia! Seja a da escola seja a da vida...

    bjinho e continuo à espera de mais aventuras da sardanisca Faísca!
    IA

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  2. Olá, prima Za

    Hoje foi mesmo uma aventura. Pode ser que tenha nascido a sardanisca Faísca.

    Um abracinho
    Mariana

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  3. A sardanisca Faísca saiu-me cá uma arisca!
    Arrisca e, qualquer dia, uma aguazita ainda lhe chuvisca para a tirarem da sala de aula; ou, então, alguém a entalisca. Vai ser aí que ela se desenvisca e remanisca até a uma talisca, para que não haja nenhuma trisca com humanos.
    É melhor ficar por aqui, antes que esta história dê faísca.
    (ih ih ih)

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  4. Ai a tanta e boa rima
    Não sabe sardanisca responder
    E ainda por cima
    Não aprendeu ainda a escrever!

    Bj
    Mariana

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