domingo, 15 de abril de 2012

Um bom (pre)texto para avivar a memória

Texto original - Marta Freitas
Interpretação - Mário Santos
Direção de produção - Margarida Carronda
Assistente de produção - Inês Nogueira

Teatro Carlos Alberto, no Porto, hoje, dia 15 de abril (este trabalho teve estreia em Guimarâes, Capital Europeia da Cultura).

A peça, uma belíssima obra de arte, sintetiza, numa hora, a permanência, durante quinze anos, de Carlos Costa na prisão, por motivos políticos, durante o Estado Novo.
 Foi escrita a partir de relatos, de cartas, de diálogos sobre os anos 50 e 60 do século XX.

No final da representação, Carlos Costa, atualmente com 84 anos, participou de um debate sobre a peça.
No diálogo lúcido e afetuoso com o público não referiu apenas o seu caso de ex-preso político, mas remeteu para a situação de tantos outros, que tal como ele, foram torturados e retidos na prisão durante tantos anos. Uns cumpriam à risca o propósito: "não falarei nem que me matem", outros, menos resistentes, acabavam por falar.

Foi referida a necessidade de mostrar às gerações mais jovens que a liberdade foi conquistada graças ao sofrimento e coragem de muita gente que lutou para que a longa ditadura teminasse.
Muitos jovens nem se dão conta dessa conquista porque, felizmente, já nasceram em democracia.

Caberá a todos avivar a memória não apenas para regressar ao passado, mas sobretudo para prevenir o futuro.

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O poema seguinte, interpretado por Amália Rodrigues, foi uma das escolhas musicais para a peça.
Vale a pena lê-lo em silêncio e ouvi-lo na voz de Amália.

Abandono
 
Por teu livre pensamento
Foram-te longe encerrar
Tão longe que o meu lamento
Não te consegue alcançar
E apenas ouves o vento
E apenas ouves o mar
Levaram-te a meio da noite
A treva tudo cobria
Foi de noite numa noite
De todas a mais sombria
Foi de noite, foi de noite
E nunca mais se fez dia.

Ai! Dessa noite o veneno
Persiste em me envenenar
Oiço apenas o silêncio
Que ficou em teu lugar
E ao menos ouves o vento
E ao menos ouves o mar.


David Mourão Ferreira

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