quarta-feira, 4 de abril de 2012

O Ovo

(Imagem retirada da net)
Nasruddin ganhava a vida a vender ovos.
Um belo dia passou alguém pela sua loja e disse: «Adivinhe o que trago na mão».
«Dê-me uma pista, pelo menos», disse Nasruddin.
«Pois dou-lhe várias e até muitas», disse o outro. «Tem forma de ovo, tamanho de ovo, aparência de ovo; tem cheiro de ovo, tem gosto de ovo e, por dentro, é branco e amarelo. É líquido antes de cozido… E é a galinha que o põe!»
«Ahaaa! Já sei!», exclamou Nasruddin: «É uma espécie de bolo!»
Quantas vezes também nós não entendemos o óbvio!
Falta-nos talvez a simplicidade e a atenção plena ao presente.
Anthony de Mello
O canto do pássaro
Lisboa, Ed. Paulinas, 1998
(Adaptação)
Texto enviado por: 
 http://contadoresdestorias.wordpress.com







Por falar em ovo…
Quando eu era pequena, a minha mãe criava galinhas e coelhos. Quando não tinha ovos que chegassem, eu ou a minha irmã íamos a duas casas de lavoura, na nossa aldeia, comprar os ovos. Ensinaram-nos a dizer: ovos para botar. Aqui, o sentido de botar era chocar e deles saírem novos pintos.
De ambas as casas tenho recordações.
As casas de lavoura tinham habitualmente os currais, a que chamávamos aidos, por baixo e no piso de cima ficava a parte da habitação.
Ora, quando chegávamos a uma das casas, chamávamos pela dona – era uma senhora muito alta, muito magra  que usava sempre saias compridas e um avental – e ela vinha à janela. Nós dizíamos que queríamos ovos. Ela desaparecia da janela e daí a nada tinha nas mãos uma cestinha com os ovos que fazia descer, cuidadosamente, por uma corda fina. Nós, em baixo, recolhíamos os ovos, colocávamos o dinheiro na cestinha que era de novo içada.
Da outra casa recordo a graciosidade da senhora que nos vendia os ovos, em contraste com a palha seca, o estrume, as hortaliças cheias de terra, os bois a chegar, pesados e tristonhos…
Dos ovos nasciam pintos que cresciam e se reproduziam, através de novos ovos. Também davam uma bela canja, arroz de frango, um bom assado a perfumar muitos domingos…
É curioso que deles no prato não me lembro, mas dos ovos e da capoeira nunca esqueci.


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