Era
uma vez um lavrador. Embora trabalhasse noite e dia, nunca conseguia
deixar de ser pobre. De cada vez que começava a sentir que estava a
tirar o melhor partido de uma situação, tudo acabava sempre por falhar.
Se num ano havia seca, no outro havia cheia. Se num ano os rebanhos
adoeciam, no ano seguinte os lobos dizimavam-nos. Se num ano o preço do
cereal descia, no ano seguinte o rei subia os impostos.
Certo
dia, o lavrador estava sentado num tronco, cabisbaixo e desesperado.
De repente, apareceu uma estranha e grotesca criatura a dançar, a
cantar e a rir à volta do lavrador. Os pelos que lhe cobriam o corpo
estavam emaranhados, os olhos selvagens faiscavam e tinha os dentes
pretos. O cheiro que exalava quase fez o lavrador chorar.
— Quem és tu?
— Eu, bom homem, sou o teu problema. Só passei por aqui para ter a certeza de que eras o mais infeliz possível!
— Monstro! Então é por tua causa que nunca coisa alguma me corre bem?
— Pois é! Eu sou o teu azar, a tua desgraça. Sem mim, serias um homem com sorte.
Rápido
como o vento, o pobre homem agarrou o seu problema pelo pescoço e
amarrou-o com cordas fortes. Em seguida, abriu uma cova bem funda e
atirou a sua desgraça lá para dentro. Tapou-a com pedras e regressou a
casa.
No
dia seguinte, a sorte começou a mudar. As ovelhas deram à luz gémeos,
as vacas começaram a dar duas vezes mais leite, as culturas cresciam
mais depressa e mais alto do que nunca, e as árvores estavam carregadas
de frutos. Todos os comerciantes queriam comprar os seus produtos e
toda a gente vinha adquirir os seus legumes, frutos e animais. Em
poucas semanas, o homem, que fora tão pobre, estava rico.
O
lavrador tinha um vizinho que habitualmente era bem-sucedido. Este
homem rico sempre olhara com desdém para o lavrador e ridicularizara o
seu trabalho. Agora via que o lavrador estava quase tão rico como ele
e, ainda por cima, em tão pouco tempo. Um dia, não conseguiu aguentar
mais a curiosidade e foi visitá-lo.
—
Parabéns, vizinho, pela sua recente boa sorte. Devo dizer que estou
admirado com a rapidez com que conseguiu fazer prosperar esta quinta.
Qual é o segredo?
—
É simples. Encontrei a raiz do meu infortúnio. O meu problema veio
vangloriar-‑se da minha má-sorte e eu apanhei-o. Enfiei-o num buraco
fundo, que cobri com pedras, um buraco que fica na minha pastagem. Essa
é, sem dúvida, a razão pela qual finalmente tive sorte, depois destes
anos todos de trabalho e fracasso.
O
lavrador rico não gostou que o vizinho tivesse finalmente triunfado na
vida. Naquela mesma noite, rastejou até ao buraco onde o problema do
vizinho estava enterrado. Durante toda a noite levantou as pesadas
pedras e cavou a terra até encontrar o problema. Desamarrou-o e pô-lo
em liberdade.
— Muitíssimo obrigado — gritou o problema. — O senhor é um verdadeiro amigo.
— Agora — disse o homem rico — podes voltar a atormentar o teu antigo dono outra vez.
—
Não, não, não! — gritou o problema. — Aquele homem tratou-me muito mal
e atirou-me para dentro deste buraco. Mas o senhor foi tão amável em
libertar-me! Vai ser um amo muito melhor. Vou ficar consigo para
sempre.
Assim foi e devia ser.
Dan Keding
Stories of Hope and Spirit
Little Rock, August House Publishers, 2004
(Tradução e adaptação)
es@contadoresdehistorias.com
Nota pessoal: Gostei desta história, embora a preferisse sem a última frase.
Pois eu bem gostaria de encontrar um buraco e meter lá alguns problemas. Começaria pela crise!
ResponderEliminarbjinhos
IA
Pois, mas como logo podem ser destapados!...
ResponderEliminarUm abraço
M.
Vítor Oliveira deixou um novo comentário na sua mensagem "O problema":
ResponderEliminarAi... eu sabia quem punha no buraco e o tapava com tábuas e pregos, mais um ferros de tonelada com pedregulhos em cima!
Não puxem por mim!
(Ih ih ih ih)