domingo, 29 de julho de 2012

O solitário da rua

Wanderley Santana

Em manhã de domingo, queria ter saído logo pela manhã, mas foi ficando em casa. Apetecia-lhe ler jornais. E arrumar uns papéis que há muito estavam amontoados num canto da sala. Os semanários também ficavam, muitas vezes, de uns dias para os outros.

Num dos jornais que ficaram por ler, havia um artigo sobre Fernando Pessoa.

Não seria por acaso que o texto lhe vinha ter às mãos. Considerava este poeta um ser em que viviam (quase) todas as íntimas dimensões que povoam a vida humana: a solidão, o sonho, o amor, o sofrimento, o prazer, a saudade...

Como pôde um homem tão introvertido ter captado o pulsar tão diverso da alma humana? Se calhar, por isso mesmo.

Raio de talento que tantas vezes sobra e outras tantas tanta falta faz! E, em ambos os casos, tanta felicidade e infelicidade transporta!

Queria separar os jornais para os pôr no contentor da reciclagem, mas alguns ainda ficaram.

Mas por quê sentir necessidade de parar diante de páginas de um jornal atrasado?! E logo em manhã clara de domingo.

Era a sua forma de alcançar "um pouco mais de azul"?


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