Cores de haikus:
Registo de pequenos momentos do quotidiano
- uns pela observação do presente,
outros pela lembrança do passado.
A menina a correr
Ganhava asas no cabelo
O menino segurava na mão o poema que tinha escrito
E as palavras faziam-lhe festas nos dedos
A trepadeira do muro enleou-se no silvado
E os picos estranharam a maciez das outras folhas
A ameixoeira caiu.
Não aguentou tantos frutos.
O tronco estava frágil e o vento foi mais forte
A romãzeira tem flores laranja
Que dão romãs rosa
A flor de laranjeira
É neve perfumada suspensa nas folhas em concha
O meu avô sabia compreender a razão das nuvens.
E tinha tempo para explicar o que sabia.
Descobri a olaia
Quando um menino a pôs num poema.
Olhai-a, dizia ele
As boninas são florzinhas
Que enfeitavam os muros da minha infância.
A mãe sorriu e a família
repercutiu o eco
A rosa vermelha trepava no muro cinzento
Em busca de luz mais clara
O pai deu a cara
Mas o filho deu-lhe um beijo
As buganvílias parecem flores enormes
Pela junção das pequeninas
A menina pegou no búzio
E hoje, mulher, ainda ouve o som.
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