As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas
O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra
"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."
Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito
Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.
Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)
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Ontem, numa turma, falámos de galinhas.
Lembrei-me, então, deste poema de Sophia.
Apesar de ter umas dezenas de anos,
as palavras continuam atuais!
Eu acho que sou uma pessoa sensível, mas confesso que muito gostaria de comer uma destas galinhitas! Então em cabidela... ui, ainda mais!
ResponderEliminarA Sophia que me perdoe!
Enfim, ela também só usou as ditas cujas como estratégia discursiva.
bjinhos
IA