quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

As pessoas sensíveis



As pessoas sensíveis não são capazes
De matar galinhas
Porém são capazes
De comer galinhas


O dinheiro cheira a pobre e cheira
À roupa do seu corpo
Aquela roupa
Que depois da chuva secou sobre o corpo
Porque não tinham outra
O dinheiro cheira a pobre e cheira
A roupa
Que depois do suor não foi lavada
Porque não tinham outra


"Ganharás o pão com o suor do teu rosto"
Assim nos foi imposto
E não:
"Com o suor dos outros ganharás o pão."


Ó vendilhões do templo
Ó construtores
Das grandes estátuas balofas e pesadas
Ó cheios de devoção e de proveito


Perdoai-lhes Senhor
Porque eles sabem o que fazem.



Sophia de Mello Breyner Andresen
(Livro sexto)
Ontem, numa turma, falámos de galinhas.
Lembrei-me, então, deste poema de Sophia. 
Apesar de ter umas dezenas de anos,
as palavras continuam atuais! 

1 comentário:

  1. Eu acho que sou uma pessoa sensível, mas confesso que muito gostaria de comer uma destas galinhitas! Então em cabidela... ui, ainda mais!

    A Sophia que me perdoe!

    Enfim, ela também só usou as ditas cujas como estratégia discursiva.

    bjinhos

    IA

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