quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Rumo

Manet

E ele disse:
Nunca mando a minha filha fazer nada. Eu digo-lhe: queres vir dar uma ajuda no quintal ou estudar? Ela diz sempre que prefere estudar. Vai para o quarto e fica lá horas. Depois, pergunto-lhe se estudou e ela diz-me que sim. É claro que não vou ver, porque ela já sabe mais do que eu. Quando chega a casa da escola, pergunto-lhe sempre: correu tudo bem?  Ela responde-me sempre que sim. É verdade que não lhe faço mais perguntas. Ela não gosta e diz que não responde a interrogatórios.
Por isso, achava que estava tudo bem e que nem era preciso vir à escola. Para mais, ela disse-me que a senhora tem sempre vários pais para atender e o tempo é pouco! Eu não gosto de incomodar. Nunca gostei. E afinal, só cá estou eu! E veja-me bem isto: negativas, faltas de material, faltas às aulas… Que desgosto. E logo agora que estou desempregado e a minha sogra veio lá para casa porque não podia pagar a renda da casa.
Quando chegar a casa, vou ter uma conversa com ela. Ela nem sabe o que lhe vai acontecer. Fique descansada, senhora professora, porque as coisas vão mudar. Ela vai ver com quantos paus se faz uma canoa.
Desculpe, está o telefone a tocar. Posso atender? Obrigada.
Diz, filha, onde estás? Está bem, está bem, eu digo. Pronto, não te enerves. Sim, claro que acredito em ti.
Senhora professora, desculpe, mas a minha filha diz que a senhora não gosta dela. E eu sei que ela não mente. São as companhias que estragam tudo. A senhora tem de reparar melhor no que se passa na sala de aula. E não acha que tem de ser mais compreensiva? A minha filha é uma adolescente. A senhora está a esquecer-se disso. Os professores também não erram? E também não têm filhos?
Oh, outra vez o telefone.
Sim, sim, filha, vou já. Tem calma. Não demoro nada.
Esta minha filha é terrível. Quer ver os Morangos com açúcar. Desculpe, senhora professora, tenho de ir, senão ela fica chateada e eu é que tenho de a aturar; já me basta a minha sogra a dar-me cabo da cabeça por tudo e por nada.
Mas, peço-lhe, tente ajudá-la. Tenho tanto medo que ela vá por maus caminhos. A gente ouve tantas coisas. Desculpe, tenho de ir; o telefone está a tocar outra vez. Eu vou e assim faço-lhe a vontade, mas não pense que a minha filha manda em mim…

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