26
de dezembro 2011
Querido
diário,
Nos
últimos dias, foi tão grande a correria: prendas que faltavam, arranjos da
casa, preparação do jantar de Natal e do
almoço do dia seguinte…
Nestes casos, já sei que não paro:
Mariana, para aqui; Mariana, para acolá…
E se fossem só os afazeres domésticos, mas
é também: Mariana, aproveita este bocadinho livre e vai estudar… Mariana, não
te esqueças do teu contrato de leitura… Às vezes, nem sei para que lado me hei
de virar.
A minha mãe não ficou chateada com as notas
que tirei (eu acho que ela faz de conta que tem confiança em mim, mas está
sempre com receio que não me safe). Não foram altamente como as da Bia, mas
foram mais ou menos. A minha mãe até disse: Mariana, se conseguiste chegar até
aqui, podes ir muito mais além (quando a minha mãe me diz isto, eu rio-me e
pergunto-lhe se vou viajar!).
Mas passamos tanto tempo a desejar bom
Natal e resume-se a um dia ou dois com mais convívio, tipo familiares mais
chegados, mas não sei muito bem se as pessoas se reúnem porque querem mesmo ou é só por tradição. Pelo que vou observando, acho até que muitas
pessoas fazem o frete, porque têm mais trabalho, não podem sair tão à vontade,
não podem ver os programas preferidos sem serem interrompidas, têm mais despesa… A avó da Cláudia fica tão stressada com a
reunião de toda a família que já se sentiu mal várias vezes na noite do Natal.
E fica toda a gente triste a a perguntar se valeu a pena aquela trabalheira.
Eu acho que as pessoas têm a sua rotina e
nem sempre gostam de variar o esquema. Eu por acaso até gosto, não acho muita
piada é estarem sempre a chamar por mim. Penso até que abusam, porque como não
sou tão estudiosa como as minhas irmãs, toda a família acha que o que não me
falta é tempo.
Hoje estava a responder a uma mensagem do
Gi e logo a minha mãe: Mariana, penteia o cabelo para ires comigo ao supermercado.
Pronto, já sabia que ia apanhar com um carrinho nas canelas e, ainda por cima,
ouvi: Mariana, não sejas distraída!
Cá em casa, ao sábado, vejo sempre um
semanário. Esta semana, li um título que dizia que há muitos velhos que ficam
nos hospitais porque não têm quem os receba em casa. Eu acho péssimo isso. Se
calhar, os familiares desses velhotes andam cheios de sorrisinhos a desejar bom
Natal a muita gente. Quando li o título (vou ver se tenho tempo para ler a
notícia toda), imaginei essas pessoas a
olhar tristes e paradas para as portas a verem se alguém chegava… Claro que às vezes é complicado quando eles
não ouvem, quando repetem muitas vezes a mesma coisa, quando pensam que todos
também têm muito tempo livre… mas daí a deixá-los sozinhos nos hospitais e nos
lares! Que horror! É indecente.
E não digo isto só por ser Natal. A minha
avó até me disse: espero, Mariana, que no futuro não faças isso e que tenhas
trabalho em condições. Pois. Oxalá.
Muitos abracinhos, querido diário.
Mariana
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