quinta-feira, 29 de agosto de 2024

Eu não, obrigada!

 

Não sei se está a ser aceite ou não a proposta do governo de os professores reformados poderem continuar a dar aulas. Pode até ser uma medida que ajude a resolver o grande problema da falta de professores, mas parece-me que revela desconhecimento da vida das escolas, por parte dos decisores, 

Quase todos os professores em final de carreira e, sentindo grande cansaço, anseiam por vir para casa e fazer outras coisas para as quais não tinham tido tempo enquanto lecionavam. 

Ora, querer continuar na escola ou a ela voltar implica que os professores em fim de carreira gostem muito da escola, que o seu trabalho seja reconhecido pela direção e pela comunidade; o salário seja estimulante e saibam claramente o que vão fazer.

Para juntar a este leque, existirão, por certo, alunos, que, logo no primeiro contacto, dirão: mais um velhote.

Também os colegas mais jovens olharão (desculpem se tal não acontece) a generalidade dos já reformados como seres muito dependentes da escola, mas que pouco sabem de coisas fundamentais nos nossos dias como são as novas tecnologias.

A classe docente está bastante envelhecida e os que amam a Escola e a Educação gostariam de ver mais jovens a ingressar na profissão docente, mas será que fazer mais sacrifícios e ter mais constrangimentos depois de tantos anos de trabalho vale a pena?

Não conheço ninguém que vá continuar na escola após a reforma, mas, se houver professores que o façam, parabéns pela força e coragem.

No entanto, conheço docentes que continuam na escola, não para dar aulas, mas em funções ligadas, nomeadamente, à arte, à ciência, às bibliotecas…. Nesse caso, poderá ser estimulante, mas, mesmo assim, só se for compensador e uma mais-valia pessoal.

Vou repetir uma ideia já por demais dita e redita:

Deixem-nos descansar, deixem-nos viver sem cumprir tantas obrigações. Sem o tic-tac do relógio, que torna a vida ainda mais breve. 

A menos que a vida seja, assim, mais feliz, mas, nas circunstâncias atuais, não me parece.

segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Ouvir falar muito também cansa!


O post anterior era um diálogo entre duas pessoas - uma não sabia ouvir os outros e preferia falar, faltando-lhe empatia para ver que estava a ser incómoda pela situação frágil de quem estava do outro lado, recém-operada, e que precisava de descanso e não  de ouvir longas peripécias.

Todos conhecemos pessoas assim: esquecem-se - mesmo sem querer e sem ser por mal - das necessitadas da pessoa com quem estão a interagir e não descolam de si. Muitos de nós somos assim, em diferentes doses. Também me acontece, infelizmente,  e  fico triste quando caio em mim.

O amigo JR até pensou que era piada e fez-me voltar ao texto. Podia ser graça, mas existem situações idênticas. Alguém está doente, mas o interlocutor acha que esteve ou está ainda pior, contando todos os pormenores como se fossem únicos.

Faz lembrar o ‘Não se esqueça do que vai dizer’, intercalando um longo relato de algo que se passou e que, facilmente, faz cair o que ia ser dito pela outra pessoa.

Ouvimo-nos muito mais a nós do que às outras pessoas. Muitas vezes falamos mais do que ouvimos. Nalguns casos, até nem é grave; noutros, é uma seca que só com muito controle não seca a paciência!!! Ou provoca ainda mais cansaço a quem precisa de o vencer.


sábado, 24 de agosto de 2024

Está melhorzinha?


Ex-doente  - Então, está melhorzinha?

Doente - Obrigada. Para já, está a correr bem, mas continuo cansada, sobretudo quando falo.

Ex - Foi como eu quando fui operada há uns anos. A recuperação foi tão complicada! Nem imagina. Ainda agora o sinto só de pensar nisso, Até me custava falar. Eu bem queria, mas tinha muita dificuldade!. Sabe o que eu fazia? Às vezes, recorria aos gestos. Imagine como eu estava.

D. - A mim, o cansaço ainda não me largou.

Ex. - Eu sei. Oh, se sei, porque já passei por elas. E de que maneira! E, agora, as coisas estão mais facilitadas; no meu tempo, sofria-se mais. O que me valeu foi o meu médico. Ele é um grande especialista. O consultório dele é em Gaia e com vista para o rio. Um luxo de consultório e um luxo de médico. Só me zanguei um bocadinho com ele uma vez. Eu estava tão mal, tão mal que o chamei a casa, já depois da operação, e ele disse-me que não podia vir. Nem imagina como fiquei.

D. -, Em breve, vou ficar sem bateria.

Ex. - Eu também não demoro. É só mais um bocadinho. Voltando ao médico, eu disse-lhe que quem segue esta profissão tem de estar disponível para quem chama porque está  a sofrer. Sabe que não me respondeu! É porque enfiou a carapuça, não acha? Diz-se que quem cala consente, não é verdade?

D. - Desculpe, a minha bateria vai mesmo terminar e, para além disso, estou mesmo cansada. Ade…

Ex - Para os seus botões: 

Tirei uma  boa parte da tarde para falar com ela, até me encostei às almofadas para conversar durante mais tempo e para não me cansar, e, afinal, nem sequer se dignou levantar-se para pôr o telefone a carregar. As pessoas são cada vez menos generosas e mais egoístas. Só pensam em si! Que mundo este!


terça-feira, 20 de agosto de 2024

Eu amo-o, senhora enfermeira!


Do que Alcina menos gostava no hospital era das noites Custava-lhe a luz forte e comprida da parede em frente, que ficava acesa até muito tarde. Também a vozearia das enfermeiras e das auxiliares a perturbava.  Porém, não fazia críticas, porque, desde pequena, a isso não fora habituada e a reação implicava sempre ralhetes e o pior era fazerem-lhe crer que ela não tinha direito a opinião.

Nesses momentos, fechava os olhos, parecia dormir, mas estava bem acordada. Deixava fluir o pensamento, com muitos avanços e recuos. Era então que muitos dias do passado lhe afloravam ao pensamento. E lá se desenhavam momentos sem nenhuma cor de qualquer carinho. Vinham também monólogos antigos que não deixavam tempo nem permissão para qualquer resposta ou defesa.

E a falta que lhe faziam mimos, beijos e abraços. Se ao menos tivesse  tido uma tia ou uma avó que a acarinhassem, mas nem isso!

Só o médico que a acompanhava no hospital parecia compreendê-la. Mais vale tarde do que nunca - pensava ela. Ele tratava-a pelo nome, ouvia-a e olhava-a com atenção e ela sentia que era bom ter nascido.

Numa noite, em que as insónias a faziam virar e revirar na cama vezes sem conta, já com dores no corpo e no pensamento, a mão premiu, repentinamente, a campainha de chamada.

A enfermeira de serviço entrou, acendeu a luz e perguntou:

- Quem tocou?

- Fui eu - disse D. Alcina,  com voz fraca e quebrada. 

- O que se passa? De que precisa? 

- Peço  desculpa, senhora enfermeira, mas eu amo-o.

- Não entendi - respondeu a enfermeira, conchegando-lhe a roupa da cama, enquanto perguntava apressada e perplexa:

- Você gosta de quem?

D. Alcina, olhando-a, pensou: ‘você’ não entenderia e disse, fechando os olhos:

- Desculpe, senhora enfermeira, estava a sonhar!! 


domingo, 18 de agosto de 2024

Senhor doutor, mande-me embora!

 

O médico, simpático como sempre, chegou à enfermaria para falar com a doente da cama 10, perto da porta. Pergunta daqui, resposta dali, chegou a boa notícia: Como estava tudo a correr como esperado, a doente ia ter alta nesse dia.

A cama já estava feita de lavado, mas outra pessoa a ocuparia.

Após a boa notícia, aumentaram os sorrisos de alegria, mas, da cama próxima da janela, veio um pedido, de resiliência calma mas não calada:

- Senhor doutor, mande-me embora!

O médico, olhando-lhe o rosto magríssimo e meigo,  disse:

- Já imaginou que podia não estar aqui?

A senhora, de corpo quase sumido, esboçou um sorriso e foi olhando para o programa que estava a dar na televisão. Também ia olhando pela janela. Como se procurasse prazeres imaginários de agosto que desgostos lhe tinha trazido. Felizmente ainda estava ali para os desafiar.


sexta-feira, 16 de agosto de 2024

A enfermeira

 

Quando a enfermeira chegou à enfermaria, logo pareceu empática. Sem falar alto, sem chamar minha querida, meu amor… sem infantilizações, sugeriu um  passeiinho pelo corredor, não sem antes ensinar exercícios de respiração - inspiração seguida de expiração.

Ajudou-a a levantar do cadeirão, deu-lhe o braço e daí a muito pouco, estavam a caminhar pelo corredor e a conversar. Na conversa, entrou o mar que se via das janelas do outro lado do corredor,  sem muita nitidez, por causa do nevoeiro.

Voltou dois dias depois e repetiu alguns dos exercícios da sua especialidade: enfermeira de reabilitação.

De novo no cadeirão, para descansar um pouco, a doente ia pensando que o SNS tem serviços muito úteis, muitos deles criados há anos, mas pouco conhecidos. E deles pouco se fala. Porém, em todos os tempos se apregoa muita coisa que, de utilidade, só fica o eco, 


quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Estou (quase) de volta, e o tempo é de compra de beijinhos e abracinhos!


Os últimos dias foram diferentes para mim. Nem sei se hei de dizer ‘felizmente ‘ ou ‘infelizmente’. Em breve, vou explicando através de peripécias quotidianas destes dias.

Antes de recomeçar, deixem-me só falar um bocadinho de imagens que vejo de rentrées políticas, comícios, campanhas, etc.


Aqui vão algumas impressões, que são fruta da época:


Deixai vir a mim as criancinhas, os abraços e os beijinhos

Não há campanha, comício ou rentrée política em que não haja crianças pegadas ao colo, entre muitos sorrisos e muitos desejos de prolongado poder, pelos políticos que assim angariam simpatias e votos. Grão a grão… 

A família, vendo o gesto, mesmo que não pense no assunto de imediato, na hora do voto,   procura o quadradinho certo para pôr a cruzinha no partido que mimou a sua criança.

E os abraços correspondidos são também garantia de votos a entrar na urna. O mesmo se passa com os beijinhos.

Estou a imaginar esses políticos, no final do dia, a chegar a casa ou ao quarto do hotel a despir-se da roupa supostamente cheia de micróbios e impregnada de maus cheiros. É natural que o dr Montenegro demore mais um bocadinho nessa tarefa, porque as calças são quase sempre muito apertadinhas! A fase seguinte é o banho, nesses dias mais prolongado do que o habitual.

E, olhando os palanques, vejo mulheres extasiadas, homens folgazões, velhos sem perceber a razão de estarem ali, jovens a bocejar, políticos a repetir ‘sinceramente’, ‘humildade’, ‘vergonha’, etc e etc.

E já que estamos no querido mês de agosto, vêm-me à memória canções que se cantam porque, com elas, muitos males se espantam e, assim, não se pensa em tanta promessa incumprida em muito comício desta vida!


Aqui vai uma, mas há outras mais pimba e igualmente engraçadas e que, implícita ou explicitamente, cumprem a função.


‘Ora dá cá outro, toma lá um beijinho….’



quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Até breve!

 

Queridos amigos,

Durante uns dias, não virei aqui partilhar algumas coisas do dia a dia, como tanto gosto.

Obrigada pelas visitas e pelas mensagens. 

Feliz verão!

Um abraço e até breve! 


quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Onde está o meu Sal?

 

O carro entrou no pátio, ela saiu a sorrir e, voltando-se para o jardim onde estavam meninos e uma educadora, perguntou: onde está o meu Sal?

E logo me lembrei da história do homem que tinha três filhas e da tristeza enfurecida que sentiu quando a prova de amor de uma delas foi que o amava como a comida ama o sal (ainda não tinha chegado o tempo da necessária redução de sal na alimentação).

Com estes pensamentos, eu ia ouvindo: Onde está o meu Sal? Com aquele sorriso feliz de quem vai buscar o neto à escola para o mimar alegremente.

Para temperar a sua vida, ou até salvá-la, quem sabe, não tivesse o menino de seu nome Salvador.


segunda-feira, 5 de agosto de 2024

O desejo

 

Há bastantes anos que tal acontecia. Quando vinha o mês de agosto e com ele as férias, a família fazia as malas e ela pensava que preferia passar a maior parte daqueles dias em casa, a jardinar, a ler a uma sombra de qualquer árvore, a organizar os espaços interiores e exteriores da casa, a ir ao cinema, a um museu, a um espetáculo, a um parque… sempre longe das multidões ruidosas do verão. Mas sabia que a vontade da família não era essa e, por isso, os hábitos mantinham-se.

Em vez de um mês de agosto como sempre desejara, era o afã do aluguer de casa perto da praia, o calor, o ruído, as filas, as demoras, o trânsito nervoso…

Os anos sucediam-se e assim sucedia em cada agosto. O desejo de passar mais tempo em casa no mês de férias ou perto de casa é que não.

E o agosto de 2024 chegou, quente, como quase sempre. E tudo havia sido pensado e preparado também como quase sempre. Porém, houve um imprevisto.

Sentia-se fraca. Foi ao médico. Exames e mais exames. Teria de ser operada e a vida familiar teve de ser reorganizada.

Os dias dela eram passados em casa ou em consultas no hospital. Um dia, deu-se conta a dizer para si própria: como seria bom estar na praia!

domingo, 4 de agosto de 2024

Coisas de domingo

 

Tenho ouvido várias pessoas  repetirem que querem é ser boas pessoas. Eu também gostava.

Agora não me tem acontecido - espero que não seja por ser má pessoa - mas já me disseram várias vezes que sou boa pessoa. E, francamente, já houve momentos em que essa afirmação me desagradou por me parecer sinónimo de inocente e sem outras capacidades.

Ora, se se puder ser boa pessoa - embora reconhecendo falhas do passado e do presente - e ter algumas outras boas competências, então, é oiro sobre azul.

Julgo que o mesmo se passará com pessoas conscientes e com um ego dito normal e não gigante que nem deixa ver os seres humanos que existem no mundo. É o que acontece com muitos políticos, sobretudo os claramente ditadores e os que sentem essa atração, deixando- o escapar por palavras e por atos.

Não sei porque me lembrei disto nesta tarde de domingo quente de verão. Talvez porque as notícias não param de falar sobre a Guerra do Médio Oriente e da Ucrânia, da mais que provável fraude nas eleições da Venezuela, etc, etc, etc. E muitos desses homens - julgo que não há mulheres a comandar esses conflitos - são muito más pessoas. E sem qualquer vontade de o reconhecer e de se tornarem melhores. E, por causa deles, o mundo também piora e de que maneira.

E, poderá até ser uma injustiça, mas o meu domingo - como o de mais gente, felizmente - está a ser calmo e comum.

Recebo uma mensagem de uma amiga em visita a um museu. Pus loiça e roupa a lavar (parece que estou a ouvir a minha mãe: o domingo é dia sagrado !). Quero ler um pouco. E talvez ver o final da volta a Portugal e imagens de Jogos Olímpicos. E há provas, como de natação e ginástica que apetece ver e rever. E se Paris aparece, encantam-se os olhos e o coração. 

Um domingo bom e calmo para todos. 

Que me desculpem aqueles que não o têm porque não podem ou para que outros o possam ter. 


sexta-feira, 2 de agosto de 2024

Fui ao Jardim Botânico…


Fui ao Jardim Botânico, no Campo Alegre, no Porto. Estava um ventinho persistente que sacudia os Ramos das árvores e fazia chover folhas que, pelo chão, percorriam sombras ou zonas iluminadas pelo sol.

Depois de uma tigela de sopa bem gostosa no bar, em frente a um dos jardins floridos, percorremos os diferentes espaços verdes, muitos deles separados por sebes de camélias que, quando floridas, iluminarão o caminho por tanta luz de beleza. 

E, neste passeio, apercebi-me de troncos de árvores, uns mais finos, outros mais grossos, que ficam nos jardins, talvez onde viveram, ganhando novas utilidades.

Desconhecia, mas talvez a mais importante seja que os troncos, mesmo cortados, continuam a alimentar insetos, musgos, microorganismos, etc, muito úteis à natureza.

E esses pedaços de árvores também são úteis na divisão de canteiros ou jardins, embelezando-os.

Quando vi estes troncos, logo pensei em seguir o exemplo no meu jardim e quintal, quando tiver algum semelhante.

Depois do pequeno passeio pelo exterior, (gratuito) seguiu-se a visita ao museu (paga). Eu preferi ficar cá fora. Cada vez defendo mais a ideia de que não se pode ver ou aprender tudo num dia e, para além disso, tinha vontade de escrever este post.

Ah, não vi o Rapaz de Bronze. Sei, porém, que também mora no livro de Sophia que facilmente imaginamos a brincar pelos jardins enquanto criança.

Porém, nesse tempo, não se ouvia o ruído da autoestrada nem os troncos das árvores estavam envelhecidos. Felizmente o cuidado e imaginação não caíram como as folhas que vi tombar, apesar do calor e do verão.

J



quarta-feira, 31 de julho de 2024

A dona Vitória

 

Saiu da Moldova há uns anos e veio trabalhar a dias para Londres. Procurava uma vida melhor porque no seu país não havia emprego. Com ela, veio o marido e um filho que, entretanto, seguiu a sua vida e foi morar para longe dos pais.

A vida foi correndo na casa minúscula cuja renda era mais comportável com o pouco dinheiro que o casal ganhava, mas nela entrara o vício do álcool, trazido pelo marido. Dona Vitória entristecia e a casa ainda lhe parecia mais pequena e sufocante, mas era o seu abrigo.

Quando o via chegar alcoolizado, mais os dentes lhe doíam e mais lhe custava comer. E o tratamento era demasiado caro em Londres. A única solução era tratar os dentes na Moldova. O marido iria também, e poderia até reduzir o vício da bebida. Teria vergonha da família, com certeza, e poderia mudar de hábitos.

Dona Vitória avisou as patroas de que iria ao seu país, onde teria de ficar umas semanas. Umas compreenderam e outras, não. 

As dores de dentes eram insuportáveis e, se a vida era dura, mais dura se tornaria se não resolvesse o problema. E lá foram. No final de umas poucas semanas, dona Vitória sentia o alívio dos dentes tratados e o marido, sentindo-se vigiado pela família, já não bebia tanto. Dona Vitória tinha esperança de que assim continuasse.

Voltaram a Londres, um pouco mais felizes do que quando haviam partido. Chegariam a casa e teriam novo ânimo para trabalhar.

Porém, à chegada a casa, depararam com o que nunca lhes tinha passado pela cabeça: o senhorio tinha-os despejado e retirado do interior todos os seus haveres. O que parecia um recomeço mais ameno era agora uma realidade nem sequer imaginada. 

Uns amigos receberam-nos,  disse ela, quando contou a uma das patroas que logo se ofereceu para fazer queixa do senhorio. Dona Vitória agradeceu muito, mas preferia não o fazer, porque perderia muito tempo e falava muito mal inglês. Disse-o com um sorriso triste de quem raramente conhece qualquer vitória.


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Ser o dono daquilo tudo

 

Ontem houve eleições na Venezuela e hoje os resultados oficiais foram conhecidos: Nicolas Maduro, no poder há mais de dez anos, venceu por maioria absoluta (51,2 por cento).

Estes resultados contrariam todas as sondagens consideradas independentes e, atendendo a que todos os observadores externos foram impedidos de entrar no país ou proibidos de fazer o trabalho pretendido, é enorme a desconfiança sobre os dados agora conhecidos e as questões são inevitáveis sobre a possível fraude na contagem dos votos.

Se assim foi - o que parece bem provável - pode um único homem arvorar-se em querer ser dono de um país? Infelizmente não é o único, mas é terrível essa ideia e as consequências para o mundo.

Um ditador vestido com a bandeira nacional! Pobres  bandeiras quando dão pra tudo!

Quando não há transparência e o poder totalitário está na mira de quem governa, a grande parte dos cidadãos vai sufocando  de tristeza por falta de liberdade e de dinheiro para viver a sua vida.

O presidente reeleito tem de apelido Maduro. Tal como os frutos demasiado maduros, estragam o que e quem está por perto. Como se um único fruto a cair de podre pensasse que era o dono de todo o pomar e de tudo o que existe dentro das fronteiras do país. Enquanto não as puder ultrapassar, é claro.


sábado, 27 de julho de 2024

No Dia dos Avós também entram visitas especiais!


Quando tomo o pequeno almoço, tenho por hábito ligar a televisão. Ontem, dia 26 de julho (o meu pai faria anos!), não faltavam programas a falar dos avós: numa loja,  avó e neta partilhavam um negócio de artesanato; um trabalhador de hotelaria fazia um bolo cuja receita já vinha de uma das avós, etc

Pois bem, a minha neta que vive fora chegou de férias e foi o momento especial do meu dia. Vinha um bocadinho mais alta, já sem franja e o cabelo claro bem mais comprido. Dava abracinhos e aproveitava todos os espaços para, de pernitas no ar, fazer a roda, que repete e repete vezes sem conta.

A escolha da data para se juntarem à família de cá não foi premeditada e nem sei se em Londres este dia é comemorado, mas várias vezes a minha linda Clarinha me disse que estava feliz por estar cá - claro que foi em resposta às várias vezes que lhe perguntei!

E, tanto neste dia, como em tantos outros, senti saudades do meu avô paterno, que nunca vi mal disposto e sempre tinha uma pequena história, pitoresca e vivida por ele, na ponta da língua - com o mesmo brilhozinho nos olhos pequeninos e azuis, apesar de a já ter contado inúmeras vezes, não sendo, porém, nunca igual.

Como gostava que os meus netos tivessem, mais tarde, boas recordações de mim. Podia ser da comida, de conversas simples e boas, da valorização do que fazem ou dizem, sei lá, pequenas coisas que marcam os dias e a vida.

E os avós de hoje são cada vez mais importantes! Muitos desempenham papéis tão diversos e prementes. E, muitas vezes, ainda estão no ativo. Heróis para quem um dia de homenagem saberá a pouco. O melhor será mimá-los, sem data marcada nem aviso prévio, tornando os seus dias mais festivos ainda que serenos.



sexta-feira, 26 de julho de 2024

Paris está em festa!






quinta-feira, 25 de julho de 2024

Nevoeiro com sabor a pão com bananas

 

Aqui no Norte, as temperaturas até costumam ser bastante temperadas. Basta ver o mapa do boletim meteorológico para se concluir que o Sul é, habitualmente, bem mais quente.

Pois bem, nos últimos dias, o calor chegou a todo o país. E de que maneira. Ou melhor, a quase todo o país. Aqui, as temperaturas têm andado pelos trinta e tal graus - eu sei que, por exemplo, no Alentejo, mais de quarenta graus se acendem muitas vezes.  

Contudo, quem vai de carro basta andar um par de quilómetros em direção à costa para ver como a temperatura desce. Há dois ou três dias, quando o sol esquentava em terras mais afastadas do mar, em praias de Gaia o vento era frio.

E eu, que não aprecio o excesso de calor, gosto destes contrastes.da natureza. E até no nevoeiro matinal eu encontro beleza. E faz-me recordar verões do início da adolescência. Às vezes, íamos, a minha irmã e eu, com as minhas tias passar o dia numa das praias da Foz. Saíamos de casa muito cedo e,  quando chegávamos, se a areia ainda estava fria e as ondas do mar mal se distinguiam por causa do nevoeiro, comprávamos bananas e pão bem fresco - neste caso, ainda quentinho - e comíamos sentadas no muro. Sempre ouvindo reparos austeros das minhas tias para sermos discretas.

E não é que o perfume das bananas  - só o encontro nas bananas da Madeira - ainda me traz a recordação desses dias!?

Depois, quando o sol afastava o nevoeiro, descíamos à praia, guardávamos o resto do pão e das bananas e as outras coisas na barraca às riscas - quase sempre azuis - que tínhamos alugado. As minhas tias sentavam - se nas cadeirinhas, que sempre havia nas barracas, e começavam a bordar, elogiando o iodo que fazia muito bem à saúde.

Ao fim da tarde, regressávamos a casa, mas, na viagem, não falávamos das impressões do dia, porque as minhas tias diziam que o mar puxa e estavam cansadas.

Entretanto, já no elétrico, víamos que o nevoeiro tinha voltado. Porém, já sem o perfume e sabor de pão fresco com bananas.


quarta-feira, 24 de julho de 2024

Comprar ou não comprar, eis uma das questões!

 

Há muito tempo, eu ia com mais frequência ao Porto e, raramente, chegava a casa sem uma peça de roupa comprada. Às vezes, entrava numa loja sem qualquer ideia ou necessidade pré-definida e comprava quase sempre uma blusa, uma saia… depois de passar por um provador, tipo cubículo quente e horrível que nem motiva  a prestar atenção aos pormenores do que se está a comprar. Por vezes, era tão grande a vontade de sair dali que só depois via que a compra não tinha sido a mais acertada.

Agora, vou ao Porto muito menos vezes, apesar de gostar muito da cidade e do que ela tem para nos oferecer. No entanto, também nos dá demasiados turistas. Não os condeno porque todas as pessoas têm direito a conhecer outros lugares, mas os espaços, sobretudo de circulação, reduziram-se imenso. É como ir visitar alguém e encontrar uma multidão que nem nos deixa ver bem aqueles que queríamos encontrar.

Em certas ocasiões, ia(mos) ao belíssimo Café Majestic, na rua Santa Catarina. Era um prazer tomar chá ou café com leite em chávenas bonitas e fininhas e com a beleza de tantos elementos artísticos à nossa volta. Agora, nem ousaria lá entrar porque teria de estar na fila não sei quanto tempo até arranjar mesa.

Voltando à roupa, já nem me lembro de entrar numa loja, ver, escolher, provar e comprar. Fui reparando que, apesar de não ter o meu guarda-roupa muito cheio,  o que tenho dá para usar, mudar, combinar durante muito tempo. Assim sendo, para quê aumentar ainda mais as despesas mensais, comprando e acumulando roupa não muito necessária?

Porém, deste modo, não estou a dar grande contributo para a economia do país, mas talvez o ambiente e  o saldo de todos os dias se sintam um bocadinho mais confortáveis. Grão a grão …

Ah, e assim já não entro nos cubículos-provadores, onde até os espelhos me irritam, porque, sem nada dizerem, dizem-me também que tenho de emagrecer!


terça-feira, 23 de julho de 2024

Lampião e Maria Bonita


Hoje, logo de manhã, ofereceram-me este miminho, vindo do Recife e que representa o casal Lampião e Maria Bonita, figuras da cultura popular da região. Pendurei-o quase logo na cozinha e acho que fica engraçado.

Quem mo deu nasceu e viveu no Nordeste brasileiro e já me tem falado várias vezes deste par de salteadores (cangaceiros), da mesma região, que viveu no final do século XIX e nas primeiras décadas do século XX. Abordando o assunto, ela realça sempre o amor entre ambos e só depois refere as violências do cangaço.

Maria  - a mulher salteadora que sempre acompanhava o seu homem - ganhou a alcunha de Bonita, graças à sua beleza.


A história do casal - vi na net - já inspirou escritores e realizadores de cinema. Inspiradora é também a maneira como oiço falar do Recife, das suas belezas e produções, onde entram sempre Lampião e Maria Bonita.

Tudo contado com um brilhozinho nos olhos de quem vive cá, mas nunca se esquece das histórias da sua terra de lá.


segunda-feira, 22 de julho de 2024

Patti Smith

 

Todas as semanas recebo o jornal Expresso, mas muitas vezes fica à espera de melhores horas, isto é, que eu tenha tempo e vontade de o ler. Depois, lá vem um dia que seleciono e leio o que me interessa. Foi por isso que só hoje li a entrevista com Patti Smith, a cantora americana que escreve poesia e nela encontra o sentido da vida. É crente, muito ligada à familia e está muito preocupada com a possível reeleição  de Trump pelos resultados nefastos que produzirá no mundo. 

E tantas coisas mais se fica a saber desta mulher de 77 anos que espera ainda viver muitos anos para poder trabalhar e produzir coisas que sempre deseja bem feitas.

Partilho aqui um vídeo que retirei do YouTube.

Conheço muito mal a obra desta artista cujos talentos são reconhecidos e que olha para o alto sem deixar de ver onde tem os pés. Precisamos tanto de figuras assim!