Tenho há muito tempo esta toalha e gosto de olhar para os seus dois lados.
Obrigada, Noémia, por tantas mensagens que já bordaste.
Oxalá continues a fazê-lo.
Tenho há muito tempo esta toalha e gosto de olhar para os seus dois lados.
Obrigada, Noémia, por tantas mensagens que já bordaste.
Oxalá continues a fazê-lo.
Lurdes Castro |
Quando, pela manhã, abri as janelas, entrou em casa a luz do sol - que, felizmente, hoje está desconfinado.
Uma amiga ligou-me e falámos de muitas coisas das nossas vidas quotidianas, de livros que temos partilhado, dos filhos, do Natal que, este ano, será diferente... Que bom termos amigos e podermos falar, aproveitando todos os meios de que dispomos.
Outra amiga enviou-me um poema que escreveu (vou partilhá-lo aqui um dia destes). Li-o e reli-o, como faço quando gosto muito de um texto. E que bom haver poemas, músicas, blogues, livros, pessoas de quem gostamos...
Liguei para a Bertrand para encomendar um livro para a Clarinha. Um livro em português com ilustrações de meninos portugueses para que, em Londres, ela veja palavras portuguesas, desenhos portugueses, para além das palavras em português que ouve diariamente da mãe. Não, perto ou à distância, o amor não está confinado. E, felizmente, há o skype, o facetime... Não é a mesma coisa, mas é alguma coisa.
Aproxima-se mais uma tarde de confinamento. Que todos, independentemente da idade mais ou menos avançada, possamos aceder a coisas simples e boas que, felizmente, não estão confinadas.
Nos encontros ou festinhas familiares, há sempre o 'momento de poesia', em que a minha mãe é a protagonista, porque, da família, é a única que sabe muitos versos de cor. E o que é mais curioso é que os aprendeu há mais de oitenta anos na escola primária. Com a D. Berta, 'a minha professora', como gosta de frisar.
Antes de começar a recitar os versos, acedendo ao nosso pedido, refere sempre que são simples, que já são muito antigos e outras modéstias, mas logo se concentra e diz o poema que escolhe ou que lhe sugerimos, pronunciando muito bem todas as palavras, todas as rimas, todas as sílabas.
A minha mãe não é dada a falar de prazeres, mas, quando está a dizer versos, vemos que é prazer o que está a sentir.
Quando termina um poema, todos aplaudem e pedem mais. Ela enumera outras modéstias, como não ter estudos, mas logo se lembra de outro poema. Pode ser 'A balada da neve', um poema sobre o monte Crasto, outro sobre o fabrico do linho, outro sobre as regiões de Portugal... O rol é muito extenso e sempre fiel às tradições.
Todos nós, de cada vez que a ouvimos, nos extasiamos com os inúmeros poemas que guarda tão bem na caixinha da memória.
O meu pai, que não era muito dado a elogios caseiros, ouvia-a sempre embevecido, o que também era muito bonito.
Há um poema, cujo autor desconheço, que, nessas ocasiões, ouvimos da minha mãe, dando entoação aos pontos bem humorados, mas sem nunca perder o fio à meada das palavras, como em todos os outros que aprendeu há mais de oitenta anos e que nunca esqueceu.
"Os velhos
Numa aldeia distante,
isto em tempos já passados,
viviam alegremente
dois velhinhos bem casados.
A mulher e o companheiro
diziam, juntos, os dois:
Se tu morreres primeiro,
morrerei logo depois!
Nisto, uma pancada forte
na porta se fez ouvir.
- Quem é? Perguntam.
- É a morte.
Quero entrar; venham abrir.
- Diacho, diz o marido,
como há de isto agora ser?
Tenho aqui um pé dorido;
vai lá tu abrir, mulher.
Mas ela logo se queixa:
-Valha-me Nosso Senhor,
este flato não me deixa;
Vai lá tu, fazes favor.
Nisto, a morte enfadada
Investiu pelo postigo
E, entrando na pousada,
Levou os velhos consigo!"
(Encontrei esta narrativa, com algumas diferenças, em
http://www.ffam.pt/docs.asp?id_menu=135
Dizem ser uma 'fábula polaca').
Postal enviado pelo Clube das Histórias
Quando buscamos
o que de melhor
existe nos outros,
descobrimos
o que de melhor
há em nós.
W. A. Ward
(US 1921/1994)
- Desculpa, sabes aonde foi quem conduz o carro? Assim, não posso tirar o meu.
- Eu então vou chamar a minha mãe.
- Não, não vás. Não deixes o carro aberto e sem ninguém.
- Eu acho que ela vem já.
- Eu posso esperar um bocadinho.
- A minha mãe foi só comprar uma missa!
- Ah!!!!! Não deve demorar, então.
- Sabe onde se compram as missas?
- Sei!!!! Vem ali uma senhora. É a tua mãe?
- Sim, ela disse que só ia comprar a missa e vinha já.
Li hoje no Expresso Curto:
"Reutilizáveis O Governo apelou para o uso de máscaras reutilizáveis para reduzir os custos ambientais das descartáveis, que podem representar seis toneladas de plástico a ir parar aos mares todos os meses, só a partir de Portugal".
Uma boa parte dos telejornais é preenchida com notícias covid-19. Não podemos ignorar o problema, é preciso falar dele, mostrar evidências de que pode trazer muitos perigos para as diferentes gerações e que temos mesmo de tomar precauções para evitar e não transmitir a doença.
Porém, ouvir falar do mesmo assunto vezes sem conta e em todos os canais simultaneamente também pode trazer cansaço, medo e desejo de fuga perante a gravidade da pandemia.
Não será por acaso que as esplanadas se enchem ao sábado e domingo de manhã, enquanto se pode estar fora de casa. A região norte de Portugal é das zonas europeias mais atingidas pela covid-19 e, aparentemente, as regras sanitárias são seguidas pela maior parte das pessoas. Serão mesmo? Então, o que se passa?
Em março, quando a doença começava a alastrar, eu também fiquei infetada. Tentei seguir as regras da DGS, como desinfeção de superfícies (até estraguei o teclado do computador), distanciamento social, lavagem das mãos com muita frequência, etc. e a cura foi em casa. Apesar de não ter sido muito grave, sentia muito cansaço se falasse durante uns minutos, a tosse demorou a passar e o olfato ficou muito reduzido. Naquela altura, só se tinha alta ao fim de dois testes negativos, como, felizmente, veio a acontecer após o primeiro teste positivo.
Ora, quem está ou não infetado e vive em casas pequenas, sem espaços exteriores onde possa respirar mais à vontade, ao ver tantos números, imagens de hospitais superlotados, pessoas a sofrer... escolhe alternativas para se desligar dessa realidade, o que também não é bom.
De facto, muito errado seria não se falar do assunto para fazer de conta que não existe (como fazia Trump). Não sou profissional de saúde nem comentadora, mas as imagens da comunicação social deviam ser repensadas, na minha opinião, de forma a serem mais pedagógicas e menos repetitivas e assustadoras.
Felizmente que a vacina agora também é assunto recorrente. Ainda bem que a Ciência, também no âmbito desta descoberta, avançou ao longo destes meses para que a Humanidade também avance.
A tolerância
não é uma posição contemplativa
é uma atitude dinâmica
que consiste em prever, em compreender e
em promover quem quer ser.
A diversidade das culturas humanas
precede-nos, está à nossa volta
assim como diante de nós!
Claude Lévi-Strauss
- Mãe, tantas laranjas e tão bonitas.
- Filha, ainda devem estar azedas.
- A cor delas diz que não.
- Já reparaste que a laranjeira só deu fruto do lado do sol?
- Curioso. Não há laranjas do lado sombrio.
- Todos os seres procuram o sol.
- Vou apanhar uma laranja.
- Pode ser que já esteja boa.
- Bonitas por fora estão elas.
- O que não quer dizer, filha, que por dentro também sejam.
- Como as pessoas, queres tu dizer.
- Claro.
- Que boa e que sumarenta!
- Como esta tarde em que podemos estar junto da laranjeira.
Já pus uma estrela vermelha na porta
outra estrela dourada no corrimão.
Pela janela vejo camélias abertas
como se fossem também estrelas.
Está sol
mas é quase inverno
quase Natal
Natal quase deserto
deserto quase dos reis magos.
Farei as rabanadas do costume
mas não sei se haverá aletria
porque não a faço bem.
Este ano seremos menos
e menos mãos a ajudar.
Não haverá crianças de olhos ansiosos
à espera dos presentes
junto da árvore
encimada por outra estrela.
Ando há muitos anos para ir à missa do galo.
Este ano teria disponibilidade
mas o melhor é não ir
por causa das restrições.
Na Igreja
costuma haver um presépio humano
com um menino que é o Menino
e que às vezes chora
- como choram todos os meninos -
nos braços da mãe que é a Mãe.
- Coitadinho! - pensam todos.
Mas este ano menos gente terá pena do menino
porque haverá menos gente na missa do galo
e se calhar nem haverá menino Menino Jesus.
Também não poderei contar
uma história à minha neta
- Era uma vez um Natal
diferente de muitos outros
um Natal deserto
sem carros a chegar às aldeias
sem famílias grandes
à volta de uma mesa grande...
E que dela pudesse ouvir:
- Mas um deserto com muitas estrelas, avó!
Há uns três dias que não abro o computador. E já me estava a fazer falta. Este ritual de vir até aqui, partilhar coisas do dia a dia, ver alguns comentários, visitar outros blogues já me fazia falta. Habituamo-nos à nossa rotina e, confesso, que gosto da minha rotina diária, onde cabe também algum tempo para ler um pouco, para escrever um pouco, etc.
Só que, como tudo na vida, há dias, horas ou apenas minutos que introduzem alterações à nossa rotina e impõem outras rotinas, mais ou menos longas.
Como tive de alterar alguns dos meus hábitos nos últimos dias, ontem liguei a televisão à tarde, fiz zapping e parei na exuberante Cristina Ferreira, no exuberante Dia de Cristina. Pois bem, no programa, todo o cenário era natalício. E exuberante, naturalmente.
Parecia Natal quando estamos a mais de um mês do dia 25 de dezembro.
Interroguei-me porquê. Será uma ajuda ao comércio que anda tão debilitado?
Será a necessidade de ir comemorando uma data que, este ano, irá ser celebrada de forma bem diferente dos outros anos?
Será a vontade que todos têm de sair desta rotina pandémica e de encher os olhos com imagens festivas e sorridentes, onde não entre a bola do vírus?
Se calhar, é um pouco de cada coisa e de outras que desconheço. Para não falar da guerra de audiências que, essas, desconheço ainda mais.
Neste momento, vou desfrutar de ter voltado a abrir o computador e poder fazer outras coisas diferentes de ver a televisão à tarde.
- Já não te via há muito tempo, mas soube o que se passou. Os meus sentimentos.
- Se eu tivesse chamado a ambulância mais cedo, ela ainda estaria viva.
- Não sabes. Se calhar, não.
- Eu fui a culpada.
- Quando as pessoas morrem, os que estão mais próximos têm sempre esse sentimento de culpa.
- Não tenho ninguém agora.
- Tens um filho e netos.
- Não precisam de mim e damo-nos mal.
- Eles gostam de ti, de certeza, e de certeza que precisam de ti.
- Ninguém precisa de mim.
- Não penses assim e não te metas em casa. Sai que encontras pessoas com quem falar.
- Como está a tua mãe? Tem passado bem?
Postal enviado pelo Clube das Histórias
A minha tradução (desculpem se houver lapsos):
Poesia
significa brincar com as palavras,
como se brinca
com bolas, papagaios e piões.
Mas
bolas, papagaios e piões
gastam-se
com muito uso.
Ao contrário das palavras.
Mesmo que brinquemos muito
com elas, nunca se gastam.
Tal como as águas dos rios
que se renovam sempre.
Tal como cada dia
que é sempre um novo dia.
Brinquemos com a poesia.
José Paulo Paes