Raramente abria os álbuns, em papel de fotografia, que, durante anos, foi organizando. Com datas, legendas e tudo.
Não o fazia porque lhe faz impressão a velocidade da passagem do tempo. E as diferenças a que ninguém escapa.
Olha, tão jovem. E magra. E bonita até. E o cabelo tão forte e lindo. E todos vivos. E alegres.
Com o digital, as fotos foram ficando no telemóvel. Ia apagando algumas, de outras gostava muito e guardava-as. No momento, olhava-as e voltava a olhá-las. Dos netos sobretudo.
Passados uns meses, já havia diferenças. Hoje eram bebés, no dia seguinte brincavam ou corriam.
Hoje as carinhas eram redondinhas, umas maçãzinhas. Pouco tempo depois, maçãzinhas adelgaçadas porque mais crescidas.
E as fotos guardadas iam-lhe aparecendo com frequência, mesmo sem as procurar.
O tempo, avassalador, não dava tréguas. Era bom ver os netos a crescer, lindos e saudáveis - uma bênção - mas assustava de tão veloz.
Não queria que o tempo parasse, mas, por magia ou fosse lá pelo que fosse, gostava que abrandasse de vez em quando, que sossegasse.
Sabia que exagerava na sua pretensão de querer parar o tempo por um tempo, o que não reduzia, porém, essa vontade.
Sobretudo quando lhe apareciam fotos com tantas diferenças, apesar de o tempo entre elas ser escasso.
Sabia que quase nada dominava e, em absoluto, o tempo, tal como toda a gente.
Mas, mesmo assim, era uma avó que gostava, de vez em quando, de parar o tempo. O seu, esse, podia continuar assim.