Guardo na memória outros inícios de novembro. Quase todos tristes, frios e cinzentos. Como a data que se celebra por estes dias em homenagem aos que já partiram. Digo desta forma, porque embalamos muitas vezes a palavra morte para suavizar a sua rígida e cortante dureza.
Ontem, duas senhoras interrogavam-se sobre o lugar onde estaria o familiar sepultado. Talvez pensem como aqueles que afirmam que a saudade dos mortos não implica a deslocação ao cemitério. Ou talvez a vida desse familiar não lhes tenha oferecido motivo de anterior visita. Outros ainda deslocam-se diariamente à última morada dos seres que sempre amaram. Após a morte, continuam a dedicar-lhes tempo e carinho, para debelar a ausência.
Sei de alguém que enfeita todas as semanas, sem falhas, a campa dos pais que morreram há mais de cinquenta anos. E raramente compra flores. Prefere as que cultiva com saber e persistência. Também uma família passou a semear flores para que elas não faltem frescas ao ente querido que há pouco faleceu.
Os cemitérios são, por estes dias, locais de romagem. As flores dispostas com harmonia dão um ar de beleza, ainda que fúnebre.
Depois vem dezembro e outras datas são comemoradas. Os rituais indicam-nos o tempo; são marcos que nos agarram à vida – ou será o legítimo desejo de afastar a morte?