segunda-feira, 30 de novembro de 2015
sexta-feira, 20 de novembro de 2015
"Daqui a bocado é noite"
Picasso |
Quando
eu era menina, ouvia a minha mãe dizer com frequência: "Vamos lá que daqui
a bocado é noite". Como na infância e juventude o tempo passa a uma velocidade mais lenta e saboreada, eu não
entendia muito bem a mensagem tantas vezes seriamente repetida. Como era
possível cair a noite quando a luz do dia se abria ainda tão alta e
clara?
Depois,
a idade foi amadurecendo. Vieram as crianças, o trabalho, os afazeres vários,
os sonhos, os desejos, alguns projetos. E, na correria dos dias, compreendia melhor
a mensagem antiga de minha mãe: "Daqui a bocado é noite".
E
as crianças iam viajando na idade que sempre amadurece. Também elas com
trabalho (felizmente!), com afazeres vários, com sonhos, com desejos, com
projetos... Só que não oiço dizer "daqui a bocado é
noite".
O
ritmo e o aproveitamento dos dias alargou-se. Mau era se assim não fosse. Aqui
no norte de Portugal, pelas seis horas, do tempo a que chamamos tarde, já é
noite. Em Londres, pelas quatro da tarde, já o céu escurece. E o sol esteja ou
não escondido, há muita coisa ainda a fazer. No meu caso, trabalhos para
corrigir, aulas para preparar, relatórios a fazer, (tantos) prazos apertados a cumprir,
mails para ver... E ainda (felizmente!) alguns sonhos, alguns desejos de caminhar
por outros pequenos que também alimentam a alma dos dias.
Enquanto
a vida vai passando a uma grande velocidade.
E
quando nos damos conta, vemos que "Daqui a bocado é noite".
segunda-feira, 16 de novembro de 2015
domingo, 15 de novembro de 2015
"J'écris ton nom"
Liberté
Sur mes
cahiers d’écolier
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J’écris ton nom
Sur mon pupitre et les arbres
Sur le sable sur la neige
J’écris ton nom
Sur toutes
les pages lues
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom
Sur toutes les pages blanches
Pierre sang papier ou cendre
J’écris ton nom
Sur les
images dorées
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom
Sur les armes des guerriers
Sur la couronne des rois
J’écris ton nom
Sur la
jungle et le désert
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom
Sur les nids sur les genêts
Sur l’écho de mon enfance
J’écris ton nom
Sur les
merveilles des nuits
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom
Sur le pain blanc des journées
Sur les saisons fiancées
J’écris ton nom
Sur tous mes
chiffons d’azur
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom
Sur l’étang soleil moisi
Sur le lac lune vivante
J’écris ton nom
Sur les
champs sur l’horizon
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom
Sur les ailes des oiseaux
Et sur le moulin des ombres
J’écris ton nom
Sur chaque
bouffée d’aurore
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J’écris ton nom
Sur la mer sur les bateaux
Sur la montagne démente
J’écris ton nom
Sur la
mousse des nuages
Sur les sueurs de l’orage
Sur la pluie épaisse et fade
J’écris ton nom
Sur les sueurs de l’orage
Sur la pluie épaisse et fade
J’écris ton nom
Sur les
formes scintillantes
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J’écris ton nom
Sur les cloches des couleurs
Sur la vérité physique
J’écris ton nom
Sur les
sentiers éveillés
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J’écris ton nom
Sur les routes déployées
Sur les places qui débordent
J’écris ton nom
Sur la lampe
qui s’allume
Sur la lampe qui s’éteint
Sur mes maisons réunies
J’écris ton nom
Sur la lampe qui s’éteint
Sur mes maisons réunies
J’écris ton nom
Sur le fruit
coupé en deux
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J’écris ton nom
Du miroir et de ma chambre
Sur mon lit coquille vide
J’écris ton nom
Sur mon
chien gourmand et tendre
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J’écris ton nom
Sur ses oreilles dressées
Sur sa patte maladroite
J’écris ton nom
Sur le
tremplin de ma porte
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J’écris ton nom
Sur les objets familiers
Sur le flot du feu béni
J’écris ton nom
Sur toute
chair accordée
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J’écris ton nom
Sur le front de mes amis
Sur chaque main qui se tend
J’écris ton nom
Sur la vitre
des surprises
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J’écris ton nom
Sur les lèvres attentives
Bien au-dessus du silence
J’écris ton nom
Sur mes
refuges détruits
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J’écris ton nom
Sur mes phares écroulés
Sur les murs de mon ennui
J’écris ton nom
Sur
l’absence sans désir
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J’écris ton nom
Sur la solitude nue
Sur les marches de la mort
J’écris ton nom
Sur la santé
revenue
Sur le risque disparu
Sur l’espoir sans souvenir
J’écris ton nom
Sur le risque disparu
Sur l’espoir sans souvenir
J’écris ton nom
Et par le
pouvoir d’un mot
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Je recommence ma vie
Je suis né pour te connaître
Pour te nommer
Liberté.
Paul Eluard
Sob os céus das cidades
São belas as cidades com muita gente a povoá-las em liberdade.
Por que se transformam em lugares de terror? De medo?
Sob os céus das cidades há amores, amizades, natural cumprimento de obrigações, busca legítima de prazeres...
Atualmente, são cada vez mais belas as cidades. Como o Porto, Lisboa, Paris, Londres...
E as cidades ficam ainda mais belas com flores. Que se tornam dolorosas quando se reúnem para homenagear os mortos em lugares improváveis, onde, de pleno direito, procuravam vida.
Sob os céus das cidades há muita luz, mas demasiada sombra. Céus limpos, mas com pesadas nuvens iminentes.
Ecoam belas vozes e gargalhadas que, daí a instantes, se transformam em gritos de fuga arrastada até ao abismo.
E pareciam tão belas as cidades.
Tantos mistérios sob os céus das cidades!
Por que se transformam em lugares de terror? De medo?
Sob os céus das cidades há amores, amizades, natural cumprimento de obrigações, busca legítima de prazeres...
Atualmente, são cada vez mais belas as cidades. Como o Porto, Lisboa, Paris, Londres...
E as cidades ficam ainda mais belas com flores. Que se tornam dolorosas quando se reúnem para homenagear os mortos em lugares improváveis, onde, de pleno direito, procuravam vida.
Sob os céus das cidades há muita luz, mas demasiada sombra. Céus limpos, mas com pesadas nuvens iminentes.
Ecoam belas vozes e gargalhadas que, daí a instantes, se transformam em gritos de fuga arrastada até ao abismo.
E pareciam tão belas as cidades.
Tantos mistérios sob os céus das cidades!
quinta-feira, 12 de novembro de 2015
sábado, 7 de novembro de 2015
Uma visita de estudo "normal"
Desde que vi o filme "Para-me de repente o
pensamento" (de 2014) do realizador Jorge Pelicano (nascido em 1977), fiquei com mais curiosidade de visitar o
Centro Hospitalar Conde Ferreira (criado em 1883), no Porto.
Diálogos como o do Sr Abreu, sobre a vida quotidiana, com um colega, passeando sob as árvores do vasto jardim, são inesquecíveis.
Diálogos como o do Sr Abreu, sobre a vida quotidiana, com um colega, passeando sob as árvores do vasto jardim, são inesquecíveis.
Ontem, felizmente, surgiu uma oportunidade. Acompanhei, numa visita de estudo,
duas colegas, professoras de Psicologia, e duas turmas do 12º ano.
E todos pudemos ver que o trabalho que se desenvolve na Instituição revela muita dedicação, muito profissionalismo, muito amor pelos outros, muita vontade de ajudar quem precisa de tratamento mental e que, pelas mais variadas razões, perdeu a maravilha que é viver com autonomia.
Confirmámos, na prática, que, lá, os doentes não são vistos como "alienados", como antigamente se escrevia e dizia, mas como pessoas, com direitos e deveres, que necessitam dos cuidados adequados. E tudo feito com a habitual e tão conhecida escassez de verbas.
Confirmámos, na prática, que, lá, os doentes não são vistos como "alienados", como antigamente se escrevia e dizia, mas como pessoas, com direitos e deveres, que necessitam dos cuidados adequados. E tudo feito com a habitual e tão conhecida escassez de verbas.
Dos 320 doentes lá internados, apenas duas dezenas têm visitas. Os outros, logo a grande maioria, não falam com a família nem amigos há muito tempo. Porque estão longe, porque comunicam de maneira diferente, porque não há tempo, porque não vale a pena, porque a vida é difícil para todos, porque também há muitas solidões a percorrer, porque... porque
Para além do internamento, o hospital funciona como Centro de Dia e acolhe pessoas que padecem, por exemplo, da doença de Parkinson.
Ao longo da visita guiada, ficámos a saber que na Instituição, ligada à Misericórdia, trabalharam grandes nomes da Medicina, como Egas Moniz, Prémio Nobel, nomeadamente na execução de perícias.
E lá estiveram internadas pessoas como um filho do escritor Camilo Castelo Branco, o poeta Ângelo de Lima (que escreveu na revista modernista Orpheu, coordenada por Fernando Pessoa).
E ouvimos histórias, que, atualmente, achamos improváveis, como a de uma senhora do Porto, casada e muito rica, que se apaixonou pelo motorista. Foi-lhe feita uma perícia, a pedido do marido, sendo-lhe diagnosticada uma estranha "loucura lúcida", pelo que foi internada quase até ao final da sua vida, vendo ser-lhe retirada toda a fortuna.
E ouvimos histórias, que, atualmente, achamos improváveis, como a de uma senhora do Porto, casada e muito rica, que se apaixonou pelo motorista. Foi-lhe feita uma perícia, a pedido do marido, sendo-lhe diagnosticada uma estranha "loucura lúcida", pelo que foi internada quase até ao final da sua vida, vendo ser-lhe retirada toda a fortuna.
E muitas outras pessoas, ditas anónimas, das quais ficaram retratos que são conservados. Como são os instrumentos antigos, os livros da bela Biblioteca, isto é, todas as memórias de uma Instituição que estima o seu Património - humano e material.
Vimos doentes que estavam sentados, sozinhos ou acompanhados; que conversavam ou que pareciam ensimesmados; que passeavam ou que passavam velozes, pelas alamedas.
Perante um grupo grande de jovens, acompanhados de professoras, alguns aproximavam-se. E sorriam. E piscavam um olho. E diziam que as raparigas eram bonitas. E elas respondiam também com um sorriso, porque todos sabiam que deviam comunicar de forma normal com quem não é considerado assim. Felizmente, todos os alunos eram inteligentes, educados e simpáticos.
Perante um grupo grande de jovens, acompanhados de professoras, alguns aproximavam-se. E sorriam. E piscavam um olho. E diziam que as raparigas eram bonitas. E elas respondiam também com um sorriso, porque todos sabiam que deviam comunicar de forma normal com quem não é considerado assim. Felizmente, todos os alunos eram inteligentes, educados e simpáticos.
E todos buscam a luz de que todos precisamos. Não "nós" e "eles", mas "NÓS", como foi recorrentemente referido ao longo da visita.
Na Oficina de Lavores, perto do campo onde existem hortas, uma bela e atenta monitora ensinava a
fazer trabalhos manuais. Muitos deles serão expostos no início de dezembro, numa
venda de Natal, aberta ao exterior. Porém, um tapete de arraiolos,
disse o bordador, era para oferecer à mãe. "O meu trabalho é uma
toalha de chá" - dizia uma senhora, mostrando-a com
modesto orgulho. Oh, caiu-me uma malha (era uma tira para uma colcha quentinha de
lã) - disse outra senhora, com pena da imperfeição que parecia não querer.
Ah! Na entrada principal, vi também o sr Abreu, um dos principais atores do filme que passou recentemente nas salas de cinema e cuja ação decorre no Hospital. Disse-lhe que estava a reconhecê-lo e que tinha gostado muito de ver o seu trabalho. Abriu um sorriso de prazer e falou do seu gosto e capacidade para a representação. Daí a pouco, iria para o ensaio do grupo de Teatro. Seria num espaço onde os visitantes tinham passado, numa sala com retratos de pessoas que ficaram na história da cidade e do país. Havia cadeiras junto ao palco, ainda vazio.
Perto da sala do Teatro, de uma janela, vimos a capela, que - disse-nos a nossa anfitriã - tem missa ao sábado às 17 h, aberta a todos, acrescentando que são ótimas as condições acústicas e que os pacientes gostam muito de ver pessoas de "fora".
Perto da sala do Teatro, de uma janela, vimos a capela, que - disse-nos a nossa anfitriã - tem missa ao sábado às 17 h, aberta a todos, acrescentando que são ótimas as condições acústicas e que os pacientes gostam muito de ver pessoas de "fora".
E, à saída, depois dos agradecimentos e despedidas, víamos melhor que até as camélias do jardim são todas diferentes, não deixando nenhuma de ser flor!
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Os 90.000 (e não só) no Expresso Curto
"Recuso-me a alinhar no coro de indignação. Mas não deixa de ser surpreendente a notícia, divulgada pela TVI,
de que Ricardo Salgado verá a sua pensão aumentada para o triplo. Passa
de 29 mil euros mensais para 90 mil. A decisão da sociedade gestora do
fundo de pensões do BES, dirigida por José Almaça, implica retroativos no valor de cerca de um milhão de euros. A medida beneficia ainda outros gestores do BES como José Manuel Espírito Santo e José Maria Ricciardi. A SIC Notícias acrescentou
que a caução de Ricardo Salgado, outrora de três milhões de euros, terá
sido reduzida para metade. Os pedidos da defesa, em parte aceites pelo
juiz Carlos Alexandre, permitem ao antigo líder do BES pagar (só) 1,5 milhões de euros para ficar em liberdade. Rir é o melhor remédio."
Miguel Cadete
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
90 mil euros por mês?
Acabo der ouvir num telejornal - uma notícia TVI, disse o
jornalista - que Ricardo Salgado vai passar a ganhar 90 mil euros por mês.
E agora digo eu: e vai rir-se cada vez mais dos
portugueses, achando-os, por certo, uns parolos e uns imbecis porque a grande
maioria nem uma parte do que ele vai ganhar num mês é capaz de amealhar durante
toda uma vida.
Nem tem amigos como ele, desde presidentes da República,
candidatos a Presidentes da República, ministros da República, Conselheiros da
República, empresários, jornalistas, dentro e fora da sua família... Tudo gente
bem comportada que se cala porque quem se manifesta é arruaceiro e eles são
defensores dos bons e brandos costumes.
O nosso país é fraco em relação aos corruptos. Quanto
mais refinados são, como Ricardo Salgado, de mais benesses usufruem.
E logo penso: e os jovens, que lição tiram disto tudo?
Pode haver discursos sobre as novas gerações, podem
usar-se as mais belas citações, mas o que fica são estes maus exemplos e um
país que fala, fala, fala, mas permite estes gritantes desaforos. No dia em
que, mais uma vez, os "Lesados do BES" vieram para a rua porque
continuam a não ver o seu dinheiro, torna-se público um salário escandaloso,
uma vez que premeia um dos homens que muito mal fez ao país.
E o pior é o triste desamparo de milhões de portugueses
pela escassez de bons exemplos a nível social e político.
Se eu fosse bem mais nova, emigrava - para não ter de
levar com tantos sorrisos cínicos que tanto prejudicam o país e se arvoram em
modelos patrióticos, pondo máscara em cima de máscara.
E os jovens? Volto a perguntar. Talvez pelo estado a que
chegou o país, nem querem ouvir falar destas coisas, preferindo os jogos de
computador.
Eles, tantas vezes desmotivados, continuarão a jogar
sozinhos nos seus quartos ou à noite entre colegas; os velhos corruptos, esses
continuarão a desenvolver outros jogos de forma cada vez mais hábil, porque
aprenderam e ensinaram que assim se podem ganhar facilmente 90 mil euros por
mês.
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