Picasso |
Quando
eu era menina, ouvia a minha mãe dizer com frequência: "Vamos lá que daqui
a bocado é noite". Como na infância e juventude o tempo passa a uma velocidade mais lenta e saboreada, eu não
entendia muito bem a mensagem tantas vezes seriamente repetida. Como era
possível cair a noite quando a luz do dia se abria ainda tão alta e
clara?
Depois,
a idade foi amadurecendo. Vieram as crianças, o trabalho, os afazeres vários,
os sonhos, os desejos, alguns projetos. E, na correria dos dias, compreendia melhor
a mensagem antiga de minha mãe: "Daqui a bocado é noite".
E
as crianças iam viajando na idade que sempre amadurece. Também elas com
trabalho (felizmente!), com afazeres vários, com sonhos, com desejos, com
projetos... Só que não oiço dizer "daqui a bocado é
noite".
O
ritmo e o aproveitamento dos dias alargou-se. Mau era se assim não fosse. Aqui
no norte de Portugal, pelas seis horas, do tempo a que chamamos tarde, já é
noite. Em Londres, pelas quatro da tarde, já o céu escurece. E o sol esteja ou
não escondido, há muita coisa ainda a fazer. No meu caso, trabalhos para
corrigir, aulas para preparar, relatórios a fazer, (tantos) prazos apertados a cumprir,
mails para ver... E ainda (felizmente!) alguns sonhos, alguns desejos de caminhar
por outros pequenos que também alimentam a alma dos dias.
Enquanto
a vida vai passando a uma grande velocidade.
E
quando nos damos conta, vemos que "Daqui a bocado é noite".
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