Era uma vez uma menina que todos os dias saía.
Durante a semana, logo de manhã, ia para a escolinha, gostava das aulas, porque estava com a professora, com os coleguinhas e podia aprender e partilhar muitas coisas. E também gostava, se calhar ainda mais, dos intervalos porque brincava, corria, saltava... com os outros meninos que também brincavam, corriam, saltavam...
Ao fim da tarde, ainda ia muitas vezes com o pai ou com a mãe, ao parque infantil perto de casa. E andava no escorrega e no baloiço e jogava à macaca, à bola...
E, quando a tarde já estava quase a dizer adeus, ainda queria ficar mais um bocadinho, sobretudo se chegavam ao parque outros meninos ou meninas que ela conhecia.
Ao fim de semana, saía quase sempre com os pais para irem a um parque muito bonito e muito grande, onde podia correr, brincar, comer um gelado, ver as flores e os pássaros e as árvores e muita gente feliz com piqueniques sobre a relva...
E ia muitas vezes em grupo: amigos dos pais que tinham filhos que também eram seus amigos.
E, sem haver soldados na rua, começou a ouvir falar de uma guerra com armas que ninguém via mas que obrigavan as pessoas a ficarem em casa.
Sem compreender muito bem o que se passava, embora os pais tentassem explicar-lhe, a menina deixou de sair todos os dias e passou a ficar em casa.
E os dias ficaram estranhos e muito fechados. Para os pais, mas sobretudo para a menina.
E a menina perguntava muitas vezes por que não podiam ir ao parque, por que não podiam convidar as amigas para brincarem com ela em casa e, como lhe custava compreender as respostas, começava a chorar. E a fazer birras.
E dizia que não queria fazer mais desenhos, nem escrever mais vogais e consoantes, nem fazer mais números, nem construir mais legos, nem ouvir mais histórias.
E que queria mirtilos mas já não havia em casa. E yogurtes que tinham acabado. E cookies diferentes dos do pacote...
E a menina, através da janela, via os pássaros a voar. E a mãe ou o pai aproveitavam para cantar uma canção, ou para inventar uma história, mas a menina pouco ouvia.
De repente, a menina pegou numa folha, nos lápis de cor e desenhou uma gaiola.
Sem ninguém nem pássaro dentro.
Ficou a olhar a gaiola e perguntou à mãe:
- Quantos dias faltam para irmos ao parque?