Este texto foi-me enviado por uma ex-aluna. Gostei muito, disse-lho (desculpa, Bia, pela demora da resposta!) e perguntei-lhe se o poderia partilhar. Disse que sim e fiquei contente.
Obrigada, Bia. É tão bom ser sempre aprendiz!
"Aprendiz
Tanto tempo
passou e ainda não me consegui reconstruir. Juntar pedacinho a pedacinho
daquilo que me levaste e não devolveste. A revolta passou, a raiva também, a
vontade de estar contigo, de te ver, de te abraçar também. A dor já não é a
mesma, já não me permite exprimi-la, gritá-la, deitá-la fora. Aprendi a viver
com a impossibilidade de te ter, com a improbabilidade de te encontrar.
Remeto-me à esperança, aquela intocável e implícita esperança que sei que nunca
irá desaparecer. Finalmente deixei de viver para ti, libertei-me, pensei que
não conseguia. Consegui. Se te amo? Amor que é amor nunca deixa de existir,
apenas fica arquivado de forma diferente. Amar-te-ei para sempre.
Raros são os
dias em que acordo e penso em ti, raras são as noites em que adormeço com o teu
sorriso no meu pensamento. Porém, recordo-te. Vejo o teu sorriso todos os dias,
sinto o teu perfume, sinto o teu toque. Ainda sou capaz de fechar os olhos e
remeter-me até há dois anos e sentir tudo, com a mesma intensidade e vivacidade
que me fez considerar esses os melhores anos da minha vida. No entanto, já não
dependo de ti para ser feliz, para sorrir com a maior verdade, para me rir até
me doer a barriga, para ter a consciência que mais tarde ou mais cedo amarei
alguém, não como te amei porque ninguém é comparável, mas para amar.
Simplesmente isso: amar.
Por vezes,
durante todo este processo, achei que o tempo estava a ser traiçoeiro comigo e
não estava a fazer o seu trabalho: atenuar aquela dor, tão forte, tão
solitária, tão terrível, porém, não o podia ter feito da melhor forma. Fez-me
perceber o quanto o amor dói, apesar de não haver nada mais poderoso no mundo
que o amor. Tudo é amor, pode não ser demonstrado da melhor forma, pode não ser
compreendido como era suposto ser compreendido, mas tudo o que fazemos é por
amor apesar de continuar a ser uma pequena aprendiz e espero que para sempre o
seja, não quero que o dogmatismo leve o melhor de mim, ou seja, a curiosidade,
a cor da vida.
Muitas vezes
pergunto a mim própria quanto tempo mais é preciso para poder ser capaz de me
interessar por alguém, deixar de ter medo de viver, arriscar, voltar a ser quem
era antes de ti. Mas é impossível. A vida e as suas circunstâncias
modificam-nos a cada segundo. Sinto que esta impossibilidade me tira a
respiração, mas também é por ela que respiro, para tornar a vida possível.
Agora, aqui
sentada, vislumbro o horizonte que outrora vislumbrámos, relembro os planos que
fizemos, as conversas que tivemos e as que não tivemos. Imagino como seria se,
agora, aqui sentada,
tu estivesses ao
meu lado, envolvidos no silêncio e no frenesim que era o nosso silêncio. Penso
e repenso tudo o que disse e o que não disse, tudo o que sonhei e deixei de
sonhar, tudo o que vivi mas não vivi, contigo e comigo. É a vida -
dizem eles.
Para sempre
serei uma mera aprendiz, que nada sabe mas que pensa, inofensiva e
imaturamente, tudo saber, tudo viver. Um dia, quando souber verdadeiramente o
que é o amor, prometo procurar-te, para te contar tudo o que descobri, para
dissertar acerca do tudo e do nada, estejamos à distância que estivermos,
vivamos a vida que vivermos.
Mas ... tenho
uma coisa para te dizer: eu nunca irei procurar saber o que o amor é, pois, de
e para sempre, desejo ser uma eterna aprendiz.
Bia"