domingo, 15 de dezembro de 2024

Viagem até ao Natal



Esta história, quase toda real, foi publicada, este ano, 
no livro Lugares e Palavras de Natal, Editora Lugar da Palavra


Dezembro estava a correr, tal como novembro e outubro haviam corrido. Com vários outonos a interligar-se, surgiu uma viagem inesperada, a fazer o mais recatadamente possível, com duração prevista de três meses. Apesar de longa, aceitou-a de bom grado e foi dando os passos necessários para que os percursos fossem amenos, para ela e para quem com ela viajava.

Nos anos anteriores, e antes que chegasse dezembro, já costumava ter prontos os presentes para a família (mesmo havendo o divertido ‘amigo secreto’) e para amigos.  Há muito que deixara de gostar de ir às lojas em alturas do Natal. Se lá entrasse várias semanas antes das Festas, nem saberia o que escolher pela profusão de coisas nas prateleiras; se fosse quase nas vésperas, o frenesim de pessoas a vasculhar o que restava tirava-lhe a motivação. Fazendo ela própria os presentes, podia também ir ao encontro de quem os iria receber.

Contudo, neste Natal, tudo seria diferente pela viagem em curso. No entanto, as ideias para os presentes continuavam-lhe na cabeça, mas, feito, visto e palpável, permanecia apenas o início de uns trabalhos em tecido e em crochet, na cestinha, que se mantinha sossegada e onde se misturavam os novelos, as agulhas, a tesoura… Ah, e também lá estava o livro que andava a ler. Até a leitura não tinha avançado, como bem mostrava o marcador que parecia colado às mesmas páginas. E tal não acontecia por falta de tempo, mas por serem cansativos bastantes dias da viagem.

E pensava como eram bons os Natais na velha casa de A-Ver-O-Rio em que a família sempre se reunia. Como todos juntos eram numerosos, as panelas para a ceia tinham de ser grandes. Para a canja, para as batatas, para o bacalhau, para as hortaliças, para o molho de Natal - prevendo-se sempre o saboroso farrapo velho do dia seguinte.

Numa mesa ao canto da sala, as sobremesas exalavam o perfume consolador e natalício da canela, vindo de iguarias que cada um ia trazendo: rabanadas, aletria, bolinhos de abóbora, bolo-rei…

Mas era na cozinha que reinava a peça capital: o fogão a lenha, que o patriarca da casa antigamente mandou instalar para aquecer a alma e o coração da amada matriarca, cujos gostos gostava de satisfazer.

Como o fogão era aceso quase só pelo Natal, às vezes, parecia adormecido por alguma inabilidade ou falta de lenha ou por esta ter sido guardada ainda húmida; noutras ocasiões, parecia um dragão ardentemente enfurecido, fazendo saltar água a ferver pela boca das panelas…  Eram momentos de algum embaraço e aflição, mas que passavam a peripécia contada com graça, quando já estavam todos sentados para a ceia e as travessas a fumegar sobre a mesa farta, alegre e ruidosa. E ainda mais pela festiva vozearia das crianças, ansiosas pela brincadeira e pela abertura das prendas.

Fazia-lhe falta o Natal em família, apesar da trabalheira desses dias. Vivê-lo-ia, este ano, à distância daquele espaço familiar bonançoso, mas fechado por causa do frio, do vento e da chuva. Estaria próxima só em pensamento, porque não poderia interromper a viagem até ao desejado bom porto, que esperava encontrar logo a seguir ao Natal, para, em 2025, poder estar de novo à volta do fogão de lenha e à mesa com toda a família.

E, até lá, revigorada e com tempo, concluiria os presentes que tinha apenas começado. E terminaria a leitura do livro. E leria mais. E escreveria mais. E sorriria mais. E viveria mais.

Olhou o relógio. Estava na hora. Tomou banho, lavou o cabelo - que continuava forte, mas que se tornara mais fino - hidratou bem o corpo, vestiu o seu vestido preferido, pôs os brincos com a pedra a condizer, usou o perfume de que mais gostava, bebeu um copo de água, viu-se ao espelho e sorriu à imagem que via.

Estava próximo o final previsto da viagem, iniciada três meses antes. E saiu, com alegre e firme esperança, para o seu último tratamento.


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Solarengo ou soalheiro? Eis a questão.


É muito frequente ouvir-se que o dia está solarengo. Apesar de sol estar na palavra, também lá está solar e que lhe dá o significado.

Portanto, a palavra solarengo diz respeito a solar ou casa senhorial. Por exemplo: 

A casa deve ser muito cara pelo seu aspeto luxuoso e solarengo.

No Douro, não faltam casas antigas e solarengas.

Ora, se falamos do sol, a palavra é outra: soalheiro. Por exemplo:

O dia de hoje não deve ser soalheiro como os anteriores: prevê-se chuva.

Gosto dos dias soalheiros de outono, sobretudo da luz do sol ao fim da tarde.


Aproveitemos, então, os dias soalheiros desta época natalícia e que o sol nos  ilumine a todos, dentro e fora das nossas casas.

Há pessoas com dinheiro que passam o Natal em belas casas solarengas que se transformaram em turismo de habitação.

Concluindo: que as nossas casas, mesmo não sendo solarengas, sejam alegres e soalheiras




quinta-feira, 12 de dezembro de 2024

Frio ou o calor bom da Esperança?

 

Os dias têm ido frios. E turbulentos. E desconfiados. E inseguros. Na politica, no futebol… Parece nada escapar no mundo. Mesmo assim, continuamos a festejar o Natal, a alindar as nossas casas, a querer trocar presentes, porque o desejo de paz e harmonia faz parte do ser humano e a esperança não lhe é indiferente. Hoje as notícias referem uma menina de onze anos que se salvou no Mediterrâneo quando o barco naufragou e todos os outros refugiados morreram. Será um sinal de esperança para tantas crianças que morrem nas guerras que a ambição desenfreada provoca?


Fazer um tratamento prolongado para vencer uma doença pode ser assustador, mas também uma boa tábua de salvação. Graças aos avanços da ciência, à formação de técnicos e especialistas, há muitos casos de sucesso. Felizmente. Há tempos, uma médica disse para uma doente que passou os setenta anos e tinha tido um tumor maligno: Está tudo bem, mas, durante cinco anos, terá de fazer exames regularmente. A doente, que, segundo a especialista era agora ex-doente, respondeu bem humorada: Então, depois, posso morrer saudável! Riram-se ambas, o que também é sinal de esperança.


Está frio. O Natal aproxima-se. A casa vai encher-se e os netos serão os nossos meninos Jesus. E sou daquelas pessoas que gostam que tudo esteja preparado e nada falte, embora falte sempre alguma coisa à última hora. E chamei um trolha para pintar um teto. Ai, meu Deus, que trabalheira tirar tudo, cobrir tudo, limpar tudo, voltar a arrumar tudo! Foi da maneira que me despojei de algumas coisas que aqui só ocupavam espaço e que a outras pessoas podem ser úteis. Felizmente tenho tido forças porque estou  também retratada no texto anterior. E recuperar a saúde é um sinal maravilhoso de esperança.

Bom tempo de Natal para todos. Com Saúde, Paz e Alegrias. E que não falte o calor bom da Esperança!


quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Por falar em pequenas coisas, mas (que acho) bonitas!


… fiz esta almofada e bonequinhas com fuxicos. É fácil, exige paciência qb, dá para aproveitar bocadinhos de tecido e é bom vê-los nascer das nossas mãos quando, à noite, apetece o sofá. Para quem gosta, é claro! Eu por acaso gosto






Tanta coisa bonita!

 

Ontem, passei por uma escola do primeiro ciclo em cujas grades estavam pendurados muitos Pais Natais, feitos, criativamente, com garrafões de água vazios e outros materiais reutilizados e que ganharam uma vida diferente. Desta forma mais artística, também não foram para o lixo, tantas vezes sem o cuidado da separação.

Ora, o gosto de mostrar à comunidade muitos trabalhos feitos pelas crianças e jovens é bonito e motivador. E um bom exemplo para esta quadra natalícia em que o amor pelos outros assume maior relevo, mas também pelo ambiente e natureza.

E, nesta época, vêm ao de cima talentos e habilidades de imensas pessoas de todas as idades na elaboração de objetos, por exemplo, para presentes. Nas feirinhas de Natal, o artesanato tem um lugar de destaque. E são pessoas anónimas que, quase sempre, fazem esses trabalhos, embelezando o mundo e alegrando os que estão próximos com o que as suas mãos produzem e as ideias vão ditando.

Numa época em que a cada passo surgem problemas e conflitos, deparamos com imensos e diversos objetos cuja beleza e simplicidade saltam aos nossos olhos. Não fazem esquecer as agruras do mundo em que vivemos, mas ajudam a acreditar num mundo melhor e mais solidário, em que cada um, amorosamente, mostra e partilha um pouco do que sabe.


A beleza de todas as cores

 




domingo, 8 de dezembro de 2024

Que a beleza nunca se acabe!