segunda-feira, 6 de janeiro de 2025
A travessa cavalinho e a festa dos Reis
Quero ir ao encontro de alguém, mas não de encontro a qualquer coisa!
Por todo o lado, incluindo na comunicação social, ouvimos as expressões
Ao encontro de
De encontro a
Ambas existem, mas o seu significado é bem diferente, apesar de serem usadas, por distração ou desconhecimento, como se o significado fosse o mesmo.
Se vamos ter com alguém ou concordamos com certas ideias, vamos ao encontro dessa pessoa ou dessas formas de pensar ou agir, como, por exemplo:
'Fui ao encontro dos meus amigos, como tínhamos combinado.
'Ele é generoso e vai sempre ao encontro das necessidades dos outros
Porém, ir de encontro a significa esbarrar, ir contra qualquer coisa, como, por exemplo:
'A criança ia a correr tanto que foi de encontro ao muro.
Num mundo de tantos choques e tantos desencontros, saibamos então distinguir:
. ir ao encontro de - satisfazer, dar resposta, aproximar-se de alguém ou de ideias, sem choque físico.
. ir de encontro a - colidir, chocar
Acrescento, então:
Hoje vou ao encontro de uma pessoa amiga. Espero não escorregar na rampa do café e ir de encontro à porta de entrada.
Que este Dia de Reis de 2025 vá ao encontro dos desejos de cada um e que os políticos não vão, mais uma vez, de encontro às ideias de todos os adversários, mesmo que sejam boas para o país.
sexta-feira, 3 de janeiro de 2025
Olhemo-nos uns aos outros!
Primeiro (não) olhar
A menina era uma boa aluna. Raramente se queixava dos professores. Havia, porém, uma professora que dirigia quase sempre o seu olhar para o melhor aluno à sua disciplina, o que não era confortável. A professora parecia querer ter o seu aval do que dizia e do modo como agia. Os outros alunos sentiam-no e, claro, a adolescente que era boa aluna à disciplina, mas talvez nem tanto como o colega de turma, também. Passados alguns anos, a professora e a ex-aluna encontraram-se por acaso. Reconheceram-se, falaram do tempo de escola, a professora elogiou-a, desejou-lhe muitas e bem merecidas felicidades. E, curioso, passado tanto tempo, a imagem do não olhar na sala de aula não deixou de dizer presente.
Segundo (não) olhar
A mãe foi ao médico com a filha. Era a mãe que precisava da consulta. A filha, já adulta, levaria o carro e faria companhia à mãe. A consulta era num hospital particular para a marcação ser mais rápida, apesar de ambas não dispensarem e reconhecerem toda a importância do SNS. Após a consulta, o médico, que parecia apressado e com pouca paciência, comunicou o diagnóstico. Fê-lo, olhando apenas a filha, como se a pessoa mais velha, a principal interessada e, felizmente, na posse de todas as suas faculdades, não estivesse ali. E ia pensando que o ato médico é também um ato de comunicação. Cada vez mais. O olhar com empatia pode melhorar muita coisa. A falta dele pode estragar muita coisa também.
Terceiro (não) olhar
A visitante chegou ao pequeno museu no país estrangeiro. Estava feliz, porque já há muito tempo queria conhecer aquele espaço, onde tinha vivido um grande poeta. À hora marcada, havia quatro pessoas para a visita guiada. Três delas eram falantes da língua do país e uma vinha de fora. O guia, um jovem estudante, bem informado sobre todo o espólio do museu, ia dialogando com os visitantes. Ou melhor, com todos menos com a visitante que não dominava a língua daquele país. O seu olhar ia, portanto, ao encontro daqueles que o entendiam por completo. A visitante olhava-o para compreender melhor a sua mensagem e ficar mais informada, mas o olhar não lhe era retribuído, com alguma tristeza sua. Terminada a visita, a visitante saiu. O guia estava distraído, mas a senhora, que estava junto dos objetos à venda, sorriu-lhe e desejou-lhe bom dia. Até ali, a visitante tinha prometido a si própria que não voltaria, mas, depois daquela saudação empática, talvez voltasse um dia.
FELIZ ANO NOVO!