Ontem, ao visitar o blogue Bem-Vindo ao Paraíso, de Isaura Afonseca, vi este vídeo. Gostei de voltar a ouvir esta música dos Pink Floyd, embora custe rever algumas imagens de tempos de outro triste tempo, mais ainda do que o nosso, apesar de tantas pandemias. E, como muita coisa é como as cerejas, lembrei-me de já ter ouvido várias vezes: 'antigamente é que era bom!' E eram jovens a dizê-lo. Eu logo rebatia que, felizmente, não sabiam o que era viver num país sem liberdade. E os mesmos acrescentavam: 'o meu avô também diz que antigamente era muito melhor'. Porém, para a grande maioria das pessoas, a vida era mesmo muito pior.
Hoje ouvi que um estudo recente revela que há muitos jovens universitários a passar uma fase muito difícil, a nível económico, afetivo e de saúde mental. De facto, a vida é sempre incompleta, imperfeita, mas em reconstrução. Tenhamos esperança que sim.
Sempre que posso e me agrada o tema, vejo o documentário que passa na rtp 2, pelas 20.30.
Ontem era sobre o grande chapéu que surge num pequeno mas famoso quadro de Vermeer e que pode ser revelador da globalização do comércio, reiterado pelo mapa que vemos em grande plano. Johannes Vermeer nasceu em Delft, Holanda, em 1632 e morreu 43 anos depois. O quadro é este:
Soldado e moça sorrindo, pintura de 1657
O chapéu é feito de pele de castor, caça e negócio chorudos que se estenderam da Europa ao Oriente e América do norte, provocando até a guerra dos castores. O sorriso da jovem e a dimensão do chapéu poderão significar uma crítica à vaidade, à riqueza, lembrando tanto sacrifício e tanta morte para as satisfazerem. Na época, os homens usavam chapéu e os que eram feitos de pele de castor eram os preferidos por serem impermeáveis à chuva que na Holanda é abundante. Eram, contudo, extremamente caros.
E, querido diário, só um toquezinho pessoal e final: a janela, no quadro, está aberta. Será para arejar o ambiente, tal como deve ser também nos dias de hoje?
Hoje está bom para estar em casa. Há tempestades vividas e anunciadas. Não ouvi trovoada. Felizmente.
Os casos covid estão a diminuir. Felizmente! Os especialistas recomendam: nada de alívio ainda!
Trump começa hoje a ser julgado no Senado pelo papel que teve ou não teve na invasão do Capitólio, em Washington DC.
Gondomar que, há uns anos, foi tão conhecido pelos piores motivos, tem sido referido pelo bom serviço que está a prestar no processo de vacinação à população. Felizmente.
Ir ao cinema sem sair de casa.
Já conhecia o trabalho da Medeia Filmes desde o último confinamento. Uma boa iniciativa, apesar de nem sempre gostar dos filmes que exibem. Ontem, no Expresso Curto, vi a síntese dos filmes de agora e dos próximos dias. É muito fácil de aceder e é gratuito. Vale a pena conhecer. E ver, é claro.
'E
porque já tenho saudades de ir ao cinema, tenho seguido mais uma
Quarentena Cinéfila da Medeia Filmes, este ano sob o mote “Raridades”.
De hoje até quarta-feira (cada obra fica patente 48 horas) é exibido “Alguns dias em Setembro”,
de Santiago Amigorena, com Juliette Binoche e Nick Nolte. Seguem-se “Eu
e tu”, de Bernardo Bertolucci (11 fevereiro); “A uma hora incerta”, de
Carlos Saboga (15 fevereiro); “Sem destino”, de Monte Hellman (18 de
fevereiro); “A adolescência tardia de Jean-Michel Basquiat”, de Sara
Driver (22 de fevereiro); e ASAS (1966), de Larisa Shepitko (25 de
fevereiro)'.
Os alunos continuam em casa e hoje voltam a ter aulas online. Muitas casas são frias e húmidas, dizem estudos feitos. E é nelas que vivem muitas crianças e jovens, muitos deles sem computador ou internet. E sem uma alimentação adequada, em muitos casos. As desigualdades e retrocessos não são suposições mas evidências. Há professores que preferem que os alunos desliguem as câmaras para que não se sintam invadidos na sua frágil privacidade. Só que às vezes, deixam de 'estar' na aula e não há ninguém para os acompanhar.
As aulas em presença vão fazer falta. Para alunos e professores se ouvirem, se verem, para exporem a matéria, para tirarem dúvidas... No entanto, na fase em que estamos da pandemia, diz quem sabe que não havia outro remédio. Logo, terá mesmo de ser assim. E sei que, por estes dias em que não houve aulas, muitos professores fizeram formação. Ajuda muito, mas não resolve tudo. Há quem fale em 'pandemia social'. Não gosto nada de ser catastrofista, mas há tantas frentes a clamar ajuda. Nem todas com justeza, mas muitas, sim. Tantas margens que já não deviam ser margens!
E, entretanto, as camélias vão florindo. Mas, também para isso, elas precisam de clima favorável.
Um dia destes, passei uma boa parte da manhã a cozinhar. Fi-lo com gosto. Um dos pratos foi sopa de peixe. Quando há festinhas (agora não há, mas espero que voltem) de família, todos gostam desta sopa. Chamo-lhe sopa da Ana, porque foi a Ana, uma querida amiga, que me ensinou a fazê-la.
Precisei de peixe, batatas, tomates de cacho, cebolas, alhos, salsa, azeite, sal e piripiri (para quem gostar de picante, é claro. Eu gosto).
Pus salmão, raia e dourada.
Coze-se o peixe e deixa-se arrefecer (Costumo dar uma fervura prévia ao salmão e deito a água fora).
Reserva-se um bom copo de água de cozer o outro peixe.
Tira-se a pele e espinhas ao peixe, pondo-o aos bocadinhos.
Põe-se as batatas a cozer na panela onde se vai fazer a sopa.
Num tacho, faz-se um refogado com bastante cebola, alho e os tomates pelados aos gomos.
Tempera-se com sal e com piripiri.
Vai-se juntando, aos poucos, a água de cozer o peixe.
Quando o refogado está apuradinho, junta-se à panela com as batatas e passa-se tudo com a varinha mágica.
Mistura-se o peixe e salpica-se com salsa.
Depois, é só saborear. Bem quentinha, de preferência.
Ah, já disse à família: quando acabar a pandemia, faço sopa de peixe para todos!
Hoje é sábado, prevê-se chuva e, como é fim de semana, o confinamento é ainda mais confinamento, porque está proibida a circulação entre concelhos. Se houver saúde e conforto em casa, não custa muito e é para o bem de todos. Se há doença ou desconforto em casa (e em casa podem caber muitos desconfortos), aí o confinamento incomoda muito mais.
Conforto e aplausos teve Chistopher Plummer, o Capitão Von Trapp belo, austero mas romântico do Música no Coração. Sou das inúmeras pessoas que já viu e reviu este filme inúmeras vezes, sobretudo no passado. Pois, como tudo o que é humano tem fim, o charmoso ator morreu ontem aos 91 anos. Deixou ficar beleza, encanto, elegância, delicadeza, romantismo, amor... um importante legado que fica e perdura.
E, curioso, li hoje que o ator não gostou nada de fazer o Música no Coração, o filme que o tornou tão conhecido e amado. E que até bebeu bastante para conseguir aguentar o papel. Quem diria, hein? Se for verdade, representou muito bem. Assim como cantou.
Ontem aconteceram-me, para além de muitas coisas comuns, duas que destaco: uma chata e outra muito boa. Começo pela chata.
Como se vê, sou bastante autodidata na gestão da forma do meu blogue. Ontem, quis alterar a imagem e as dimensões do cabeçalho e, ups, foi uma desarrumação quase total. Tive de puxar daqui, arrastar dacolá, pré-visualizar, deixar de visualizar, chatear-me sem querer perder a paciência, enfim, lá consegui pôr no sítio muito do que queria e o resto terá ainda de ficar para outra fase. Depois de carregar as baterias da persistência.
Enquanto isso, a imagem do cabeçalho, por exemplo, não está onde eu queria, nem como eu queria, mas haja, pelo menos, algum sumo de laranjas da época.
A outra coisa, boa desta vez, foi o mail de um ex-aluno. Disse-me que encontrou o meu endereço por acaso e que tinha tido vontade de me escrever. Fiquei feliz. Quando, na sala de aula, ele lia poesia, escrita por ele ou de poetas do manual, a turma ficava suspensa das suas palavras e não se ouvia nem uma mosca. Impossível esquecer estes bons momentos que o mail, magicamente, ainda mais avivou.
Há vinte dias que me aproximo de ti. Sem interrupção, desde que começou o confinamento. Pensamos todos que vai terminar, 'só não se sabe é quando.'
E como o nosso encontro de cada dia poderá continuar, e há mais proximidade entre nós, vou chamar-te querido diário. Concordas?
Como quem cala consente, não te deves importar.
Ontem até me comovi, o que também não é difícil, talvez por causa da pandemia. Chegaram quase três dezenas de médicos alemães para ajudar doentes portugueses com covid-19. Trouxeram camas e ventiladores.
A solidariedade é mesmo do melhor que há no mundo.
Mas também me irritam tantos casos de pessoas que passam à frente de quem tem o direito de tomar a vacina. Às vezes, nem sei quem tem razão, noutras vê-se logo que o xico-espertismo não deixa de ser como o vírus
Enquanto isto, continuo à espera da mensagem para a vacina da minha mãe, que tem mais de noventa anos.
Ah, apanhei esta camélia logo pela manhã - beleza silenciosa das pequenas coisas.
Há pouco, abri o mail e deparei com uma mensagem que não conseguiu entrar no post do domingo passado.
Parece narcisista transcrever as palavras que se referem a mim, mas como se trata de uma grande amiga, e, sobretudo, diz outras coisas muito importantes, aqui vai:
'No rasto de Deus
O livro, que referes no teu post de 31 de janeiro, é, antes
de tudo, fruto de uma boa comunicação, e eu sinto-me uma privilegiada por ter
feito parte dessa “equipa pequena, mas muito coesa”. O que eu aprendi contigo,
minha querida Amiga (e olha, Dê, que isto não é falsa modéstia nem é pose de
vaidosa)!
Um livro é um dos
poucos documentos que ficam para sempre e que poderão ser lidos daqui a séculos,
como diz Irene Vallejo n´ O Infinito num Junco (livro que a minha Amiga Natal
me ofereceu).
Pois Irene Vallejo
tem razão; eu posso, hoje, facilmente, aceder a textos escritos há dez mil
anos, mas não consigo ver os filmes gravados por mim há 30 anos em cassetes
Beta e VHS (e até menos). Deus me valha! Falta-me (paradoxalmente) a tecnologia.
O livro Caminhando em Missão aí está, em suporte de papel, acessível
para sempre.
Organizar em livro todos os documentos que íamos conseguindo
dos Consagrados foi obra Dele? Com certeza que sim, mas até eu me sinto (e Ele
que me perdoe) um pouco missionária quando folheio o livro e dou de caras com o
olhar sereno, amoroso, alegre e indagador de uma carmelita.
Mantém-te saudável, Amiga. Cuida-te que isto há de passar.
Abraço.
Clémie'
Não é troca de galhardetes, mas também aprendi muito contigo, querida amiga Clementina. É possível fazer um trabalho em conjunto quando há motivações idênticas e o objetivo é comum. Neste caso, foi dar voz a dezoito Consagrados, muitos deles desconhecidos, mas que têm trabalhado, em diferentes continentes, para que o mundo fique melhor à sua volta e com pessoas mais felizes.
Como equipa redatorial, demos o nosso melhor para que não houvesse, gralhas, incorreções... e o livro ficasse, como gostas de dizer, 'uma relíquia'. Contribuímos nós, a Rosa Amélia, a Isabel, a Rosário, a Rute, a Dolores (somos duas com o mesmo nome), a Ana Loureiro, o padre Alípio com a ideia... Como dizes, o livro perdura no tempo. Felizmente. E há tanta coisa que é preciso descobrir, para além do ruído mediático!
Ontem à tarde, foi lançado, em redes sociais, um livro começado em 2019, ainda antes da pandemia, na paróquia de Gondomar/S. Cosme.
Fiz parte de uma equipa pequena, mas muito coesa. Coube-nos elaborar e tratar um questionário que foi enviado para Consagrados (dezoito padres, freiras e diáconos) em Missão por diferentes regiões e continentes. Quase todos nascidos na freguesia onde também nasci.
Sou católica por educação e por pensamento, mas, tal como muitos portugueses, assisto a cerimónias religiosas sobretudo em batizados, comunhões, casamentos e funerais!
Contudo, gosto muito de igrejas e de entrar quando passo e as vejo abertas. Gosto do silêncio e da música e das palavras que me elevam e não me afastam.
E estou/estamos muito contente/s com o livro. Quanto à forma e quanto ao conteúdo. Os testemunhos são muito bons, porque são muito humanos, de pessoas que olham o Céu mas com os pés assentes na terra, indo ao encontro de quem precisa de ajuda.
Com a vida que ajudámos a dar a este livro, fiquei com uma visão mais arejada de percursos de muitos religiosos e religiosas que trabalham na proximidade ou à distância, quase sem rede, quase incógnitos, mas que, ainda assim, não desistem.
Os bons exemplos são muito pouco divulgados.
E, apesar disso, para além da reflexão e histórias de vida muito interessantes e nem sempre fáceis, não falta - graças a Deus! - o bom humor.
O nosso trabalho de compilação, tratamento e publicação destas entrevistas foi uma pequenina missão, face à Missão de muitos que vou passar a respeitar ainda mais.
E haverá muitos mais com toda a certeza.
Hoje, dia em que passa a haver proibição temporária de passar fronteiras, continuemos o nosso confinamento. Também uma Missão.
Há muitos anos, tive galinhas. Punham ovos, tinham a crista vermelhinha e era engraçado vê-las no poleiro, a comer insetos e ervas no quintal, a cacarejar...
Era muito bom, mas dava muito trabalho ter a capoeira cuidada. Moral da história: fomos comendo as galinhas, lavou-se o espaço, mas ficou um pouco triste e vazio.
E se pintasse a capoeira e lá pusesse uns vasos? - Pensei eu. Sempre tinha mais graça.
Tornou-se assim uma capoeira com plantas. Apesar da estranheza da porta ainda de rede, parecem felizes porque têm luz e espaço.
Porém, não fazem esquecer as galinhas.
Tal como acontece com as pessoas. Podem não estar lá, mas lembramo-nos delas.
Vejo agora os números de hoje da pandemia.
Muito maus, mas um bocadinho menos maus do que ontem.
Sem os esquecer.
Entretanto, recebo um comentário (obrigada, Vítor) sobre o dia de ontem. Procuro o poema sugerido. E releio-o devagar, enquanto a tarde se vai escrevendo:
De manhã fui ao quintal e fiquei contente com a pequena colheita. Também apanhei camélias, embora não seja muito de ter flores frescas dentro de casa.
Ao ver estas flores, lembro-me com frequência do romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas, que o meu pai tinha lido quando era novo e de que falava bastante.
Hoje ainda não sei se os números da pandemia continuam a crescer. Ouvi, a propósito disso, uma psicóloga a aconselhar não se ver notícias mais do que duas vezes por dia, para manter o equilíbrio emocional. Referiu também que ler, escrever, comunicar... faz muito bem em qualquer altura e ainda mais agora. Também acho.
A mesma técnica de saúde mental lembrou que, dantes, as pessoas passavam a vida a dizer: 'não tenho tempo', 'tenho pressa'.
Agora há mais tempo e temos é pressa que a pandemia passe. Para vivermos normalmente.
Os estudos revelam que a violência doméstica tem aumentado. Imagino esse horror dentro de quatro caladas paredes.
Não chove, mas o tempo está cinzento e húmido. Quase tudo parece parado.
Hoje, perto das oito da manhã, ouvi o Portugalex na antena 1. Todo o bom humor é bem-vindo.
Ontem o meu clube foi a Faro e ganhou. Bem-vinda, alegria.
Comecei a ler um livro do espanhol Enrique Vila-Matas. E tenho vontade de continuar sempre a leitura. Bem-vindos, livros assim.
Não está muito frio, mas, mesmo assim, tenho uma manta quentinha sobre os joelhos. Bem-vindas as coisas simples e boas.
Hoje, tal como ontem, há muito nevoeiro, a situação pandémica é muito má, haverá imensas coisas por/a fazer, mas qualquer D. Sebastião não seria bem-vindo.
Hoje é 2ª f e ontem foi um domingo de muitas emoções.
Os números avassaladores da pandemia não diminuíram, infelizmente; a abstenção ao ato eleitoral foi mais reduzida do que o esperado, a organização das assembleias de voto foi muito elogiada.
A noite eleitoral foi de muitos números. De quem ganhava, de quem perdia, de quem subia ao segundo e terceiro degrau do podium...
E vimos
um presidente vencedor em todos os concelhos do país, um homem sui generis, que vive só, que comprou o jantar no restaurante, que foi ao volante do seu carro até ao local do seu discurso de vitória. Ouvimo-lo referir muitas solidões, muitas fraturas que é preciso resolver, muita exigência nos esforços para que a pandemia e a desunião não continuem a crescer,
uma mulher de meia idade, defensora de causas que não pode calar, embora se queixe de não ter sido ouvida por quem ela achava necessário,
um homem frenético e inquieto, que arruma as pessoas como em pastas de escritório, que põe perguntas às quais só ele quer dar resposta, que deixou sinais em montes e planícies onde se têm calado muitas solidões,
um homem bonito que não levanta a voz, embora a todos queira dar voz, mas que terá de encontrar outras formas para fazer ouvir a sua voz,
uma mulher jovem e serena que defende causas como a dos cuidadores informais e muitas outras das quais diz não desistir,
um homem jovem e desconhecido que alargou um pouco os resultados do seu partido e que afirma que ninguém pode desistir do que quer fazer, ainda que lhe digam que não é capaz,
um homem que diz conhecer as pedras da calçada, que tornou mais real a sua terra, dizendo que nunca nenhum rei nem nenhum presidente a visitou, mas que este último é cada vez mais desejado.
Ah! Ontem vi uma magnólia já em flor. Será um bom sinal?