segunda-feira, 8 de março de 2021

Celebrar também é lembrar



Emília Nadal
'Pequena cantiga à mulher
 
Onde uma tem
O cetim
A outra tem a rudeza
Onde uma tem
A cantiga
A outra tem a firmeza
Tomba o cabelo
Nos ombros
O suor pela
Barriga
Onde uma tem
A riqueza
A outra tem
A fadiga
Tapa a nudez
Com as mãos
Helena Almeida
Procura o pão
Na gaveta
Onde uma tem
O vestígio
Tem a outra
A pele seca
Enquanto desliza
O fato
Pega a outra na
Enxada
Enquanto dorme
Na cama
A outra arranja-lhe
A casa'
Maria Teresa Horta

'O mar dos meus olhos 

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
Não pela cor
Mas pela vastidão da alma

E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos
Ficam para além do tempo
Como se a maré nunca as levasse
Da praia onde foram felizes

Há mulheres que trazem o mar nos olhos
pela grandeza da imensidão da alma
pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens...
Há mulheres que são maré em noites de tardes...
e calma'


Sophia de Mello Breyner Andresen

 
'Espaços de Permeio
 
Sonho-te à pressa 
entre coisas a despropósito: 
certos filmes a preto e branco, 
fazer a cama de manhã, 
um livro, 
aquela pausa enquanto o leite ferve
e o olhar se perde, atento. 
Só invadires-me o espaço entre o meu espaço 
à pressa me traz frágil: 
nunca sei se aconteces porque sim,
nem quando me aconteces. 
Um sonho inoportuno entre o meu dia 
E tantas coisas.'
 
Ana Luísa Amaral 
 
 

 Nina Simone - nasceu em 1933 na Carolina do Norte, Estados Unidos da América.
Faleceu em 2003, em França.

 

domingo, 7 de março de 2021

Bom seria que todos pudessem sonhar!

sexta-feira, 5 de março de 2021

Quinquagésimo dia

 

 Diário com vontade de deixar de contar os dias,

 mas com vontade de viver todos os dias.

 

E tanta coisa aconteceu de há cinquenta dias até agora:

 - Os números de óbitos (há quem prefira dizer 'fatalidades') e infetados covid-19 diminuíram em um ou dois dígitos, o que é bastante bom, embora não seja o ideal.

- As magnólias estavam em botão, neste momento já floriram e as folhas vão substituindo as flores.

- Trump estava no poder e já não está, embora queira voltar e tente segurar tentáculos à sua volta.

- As escolas fecharam, mas estará para breve a reabertura. As crianças e os jovens estão ansiosos e os pais também.

- Marcelo terminava o seu mandato e outro está a iniciar.

- Do avião português e a jato, com meia tonelada de droga apreendida no Brasil, ainda não se falava, agora fala-se muito, ainda que se saiba pouco.

- As árvores de fruto estão floridas e há cinquenta dias eram estacas secas ou despidas.

- Rui Rio talvez já tivesse Moedas na cartola, que tirou nos últimos dias.

- A chuva e frio do inverno abundavam e agora a primavera está à porta.

- O campeonato estava ao rubro por causa do leão que não deixou de rugir e de reinar sozinho ao longo deste tempo.

- As lojas fechavam e muitos gritam agora pela sua reabertura porque abrem os bolsos e encontram-nos vazios.

- O turismo ficou pela hora da morte e agora os ingleses anunciam nova vida, sobretudo para o Algarve.

- O papa Francisco não saiu em tempo de pandemia; neste momento, está em visita ao Iraque, país nunca pisado por outros papas.

- As vacinas anti covid-19 eram promessa e ainda causavam receio; agora já vários milhares de pessoas a tomaram, muitos mais a querem e desejam, mas as reservas sabem a pouco.

- ...

E tanta coisa deixou de acontecer no mesmo espaço de tempo.

 

Vou deixar de contar de contar os dias, 

mas gostava de continuar a contar momentos dos meus dias. 

Obrigada.


quinta-feira, 4 de março de 2021

Quadragésimo nono dia

 

Diário com vontade de melhores dias

Sou um ser perfeitamente comum, acho eu, mas há uma coisa em que não devo ser comum: tenho medo de fazer exames médicos. Ou melhor, não me custa fazê-los, custa-me é saber os resultados desses exames. Penso sempre que me vão descobrir doenças. Talvez isto tenha a ver com traços de hereditariedade, ou com uma situação que vivi há muito, muito tempo. Eu tinha uns dezoito anos e coube-me a mim ir ao hospital saber o resultado de um exame do meu pai que, na altura, nem cinquenta anos tinha. Pois, o veredicto foi este: o seu pai tem um tumor maligno no intestino, tem de ser operado e, dada a gravidade, o sucesso não é garantido e que continue a viver também não.

Eu era ainda uma miúda, fiquei sem palavras e, quando cheguei a casa, nem sabia que palavras dizer. No entanto, tudo correu tudo bem e o meu pai ainda viveu mais uns cinquenta anos. Felizmente. O momento é que me ficou gravado.

Desde que me lembro, faço os exames médicos que são necessários, mas depois demoro imenso tempo a ir levantar os resultados, se não puderem vir por mail. Será isto comum? Se calhar, é ou então, sendo eu um ser comum, também aqui há seres mais comuns do que outros.


 Bom fim de tarde para todos - os que têm medo de fazer exames e os que não têm!

quarta-feira, 3 de março de 2021

Quadragésimo oitavo dia


 Diário confiando em melhores dias



Hoje fui muito feliz à volta de quatro livros de Luís Sepúlveda, de que já falei num dos posts anteriores. Colaborei  na fase concelhia, em Gondomar, do Concurso Nacional de Leitura e vi crianças e jovens, do 1º ciclo ao secundário, com o livro aberto, a ler excertos, a argumentar sobre um aspeto da história, o que é maravilhoso, mesmo online. De forma voluntária, todos eles mostravam interesse, empenhamento e amor pelos livros. E a cumplicidade dos professores com os alunos também é fantástica. De facto, quando as redes de bibliotecas escolares e as autarquias trabalham para o bem comum,  esta interação acontece. E saber do desempenho ativo de tantas crianças e jovens, em relação ao saber e à leitura, em muitas regiões do país, leva mesmo a acreditar em melhores dias. Por isso, para mim, foi mesmo um dia feliz.

 

terça-feira, 2 de março de 2021

Quadragésimo sétimo dia

 

Diário à espera de melhores dias


Nota 1. Os novelos que tinha em casa tinham chegado ao fim. Talvez a minha mãe tivesse alguns restinhos nas sacas intermináveis onde guarda tudo que, um dia, pode dar jeito. Logo que pude, comecei a desatar os nós das sacas, procurei, procurei mas só 

via lãs e fazer malha nunca foi o meu forte. Precisava era de novelos de linha, para fazer crochet ao sabor da vontade, do tempo disponível e da imaginação. Perante aquele emaranhado de restinhos de lã, fitas, elásticos e tecidos, perdi a paciência e desisti, para mais uns sacos de papel já estavam quase a rasgar. Pronto, o melhor era ir ao supermercado. Fui ao Continente, porque há uns tempos tinha visto novelos na prateleira das agulhas, alfinetes, carrinhos de linhas... Quando entrei, dirigi-me logo lá. As linhas eram a minha prioridade. Oh, não havia novelos, o que foi confirmado por uma funcionária sempre em andamento. Regressei então a casa com pão, yogurtes, mas sem as desejadas linhas para continuar o trabalho de mãos já começado. Sim, os novelos, uns simples novelos, faziam-me falta. E foi quando me lembrei da senhora que faz bordados, rendas e também vende linhas. E se lhe ligasse? E se lhe pedisse que me vendesse as linhas? O pior era se alguém via e fazia queixa dela. Coitada, ainda era multada por minha causa. Não, o melhor era não ligar e esquecer as linhas, mas que me faziam falta lá isso faziam. Não imaginava era ouvir da minha mãe no dia seguinte:  Olha os novelos de linha que estavam caídos junto às sacas!


Nota 2. Gosto imenso de retrosarias. Com novelos e linhas de todas as cores, botões de todas as formas e feitios, fitas, galões... Na rua das Flores, no Porto, há uma retrosaria e, sempre que lá passava - falo no passado porque há um ano que não passo lá - paro sempre para ver a harmonia da montra e da loja, com muitas coisas, se calhar inúteis e desnecessárias, mas que regalam os olhos. Ah, e há também tecidos de todos os desenhos e espessuras para trabalhos de patchwork. É um lugar que quero revisitar quando houver desconfinamento. E se a manhã ou a tarde estiver fria, há um pouco mais acima um pequeno espaço  com esplanada onde o chocolate quente é de regalar a alma.


Nota 3. 'O piano', de Jane Campion, é um filme de que gosto imenso. A história, as  paisagens, a música tornam aquele trabalho encantatório. Recordo-me da casa da protagonista, situada, julgo, na Nova Zelândia, onde não faltam linhas de múltiplas cores, como num quarto de costura da minha infância. Claro que no filme há outros fios violentos, mas, felizmente, vence a coragem, o entendimento e o amor que vão tecer uma nova vida.


Nota 4. E partilho um excerto da música e do filme.

segunda-feira, 1 de março de 2021

Quadragésimo sexto dia

 

Diário à espera de melhores dias

 

Nota 1. Eu estava no computador e com a televisão ligada, mas sem som. Olhei de repente e vi esta legenda:

'Quando fecho um livro, não sou a pessoa que era quando o abri'. 

Quem diz isto? - logo quis saber. A imagem era de um jovem - jogador de futebol do Rio Ave. Isto é verdade? - interroguei-me, porque faço parte do grupo que, apesar de gostar de futebol (ou melhor, gosto que o meu clube ganhe), ainda tem o preconceito - errado como qualquer preconceito - de que os jogadores de futebol não leem, dizem 'póssamos' em vez de possamos, 'houveram' em vez de houve...

Mas como o que parece nem sempre é, o melhor é ver para crer:

 

Nota 2. Mais palavras para quê depois destas palavras? A casa onde Francisco Geraldes fala é a Casa Museu de José Régio (poeta, escritor, professor, colecionador), 1901/1969, em Vila do Conde. Vale a pena visitar e depois dar um passeio no largo passeio, que vai até à Póvoa de Varzim, junto ao mar - quando se puder, é claro. Ah, também há esplanadas muito agradáveis.


Nota 3. Às vezes, critico-me a minha própria por não desligar a televisão. Desta vez, valeu a pena mantê-la ligada. O Geraldes merece mesmo os parabéns! E também quem o convidou para dar o seu testemunho de bom leitor. Assim, os dias até parecem melhores dias!

 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

Quadragésimo quinto dia

 

 Diário à espera de melhores dias


Olhemos também a (quase) primavera que vai florindo!


Obrigada, L., pelas bonitas fotos londrinas


BOM DOMINGO!




sábado, 27 de fevereiro de 2021

Quadragésimo quarto dia

 

Diário à espera de melhores dias

 

Nota 1. Nos últimos dias, por dever de (um pequeno) ofício, li quatro livros de Luís Sepúlveda (também não são grandes), cujas capas juntei aqui ao lado, em 'Leituras recentes'. Os dois primeiros enquadram-se na literatura infanto-juvenil e gostei muito do modo como as histórias são contadas e pelas ideias positivas que se vão encadeando, como nesta obra onde há amizade, respeito pelas diferenças, entreajuda,  curiosidade,  amor pela vida, etc.

No livro seguinte,
apreciei a ideia de valorizar o ritmo lento inerente a muitos seres para chegarem aonde querem ou precisam. Interrogo-me, porém, se alguns destes temas, que apelam à calma e paciência, no mundo frenético em que vivemos, cativam crianças e jovens, mas é importante lembrar estas necessidades porque sempre vai germinando alguma coisa. A forma de contar e as ilustrações também são muito motivadoras.


Nota 2. Já tinha lido há bastante tempo O Velho que lia romances de amor. 

Relendo-o, ainda gostei mais. Às vezes, sentia-me no meio de personagens na floresta amazónica que conheciam como a si próprios, ou receando os perigos iminentes da onça que podia, matreiramente, estar à espreita. Ou então a ouvir, encantada, a leitura do velho para quem as histórias de amor eram uma paixão.  

Nota 3. Nome de toureiro

francamente, não me 'agarrou', de certeza por falta de concentração da minha parte. A intriga é complexa. Trata-se de um roubo de moedas muito valiosas, durante o tempo do Nazismo. Passados muitos anos, após a queda do muro de Berlim, dois homens diretamente implicados no roubo tentam, separadamente, recuperar o tesouro. 

Mesmo assim, apesar de não ter aderido por completo à história, li o livro todo. Não é muito extenso e tenho tentado não deixar os livros a meio. E às vezes somos surpreendidos por páginas ou passagens que nos 'chamam' e nos concentram.


Nota 4. Luís Sepúlveda está a ser homenageado nas Correntes d'Escritas 2021, na Póvoa de Varzim, onde esteve presente no ano anterior. O escritor nasceu em outubro de 1949, no Chile, e faleceu em Espanha, em abril de 2020. Homenagem bem merecida.



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Quadragésimo terceiro dia

 

Diário à espera de melhores dias



 

 

Nota 1. Árvores floridas anunciando a primavera que germina e os frutos de verão que se desejam.

 
Nota 2. Fragilidade resistente às intempéries.
 


Nota 3. Novos desenhos de crescimento.





quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

À espera de melhores dias

 

 Quadragésimo segundo dia

 

Nota 1. Há pouco, ouvi um homem velho, que vivia num lar, a propósito das vacinas que já todos tinham tomado. Dizia-se feliz por isso, mas muito triste quando recebia visitas da família. Então, porquê? Quiseram saber. E ele logo respondeu: - Porque não os posso abraçar.


Nota 2. Está confinada em casa, como milhares e milhares de outras pessoas. Não recebe ninguém. O filho vem só de vez em quando, desde que se separou da mulher, e nada de aproximações para manter a distância física recomendada. Os netos deixaram de vir, porque, dizem, convivem com amigos e podem espalhar bicharada. Pensa como dantes era feliz sem saber, dando e recebendo abracinhos. Agora, o corpo parece gelar-lhe de solidão. De vez em quando, fala disto ao marido, ele olha-a com apressada compaixão, porque há sempre um jogo de futebol que vai começar e que ele quer ver. Um dia, sozinha, cruzou os braços, apoiou as mãos nos ombros e aconchegou-se num abraço.


Nota 3. Num grupo do whatsapp, alguém escreveu ao saber que as notícias sobre covid-19 tinham melhorado: 'Quando puder, vou abraçar à maluca'. Logo surgiu outra mensagem ainda mais divertida: 'Comigo, muita gente vai ficar pisadinha'.

 

Nota 4. Felizes os seres vivos que se podem abraçar, ao sabor do sol, da chuva e do vento.


quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

À espera de melhores dias

 

Quadragésimo primeiro dia

 

Nota 1. Há dez dias, e para variar, mudei o nome desta página e agora, passados mais dez dias desta quarentena ou confinamento, mudo-o outra vez. Mesmo variando, a palavra 'variante' não me lembra tanto as estirpes de covid-19, nem as estradas que dantes se podiam percorrer à vontade, mas que agora nem por isso. Como estaremos daqui a dez dias? Haverá mudanças? Haverá novas variantes?


Nota 2. Partilho agora o pequeno texto que escrevi em janeiro, e que foi publicado este mês na coletânea Mimos de fevereiro, com a chancela Mimos e Livros, 2021:


Segundo

Chegaste em fevereiro. Logo no primeiro dia. Logo ao início da tarde. De sol e de luz, apesar de ser fevereiro. Não havia chuva nem vento, nem o céu estava cinzento, como é comum dizer que acontece neste segundo mês do ano.

Nem sempre as verdades feitas se cumprem. Às vezes desdobram-se. Como eu me desdobrei. Como tu te desdobrarias anos mais tarde. Como já me tinha desdobrado dois anos antes noutro ser amado cuja voz eu ouvia, nesse dia, pelos corredores brancos do hospital. Ou era a saia azul que dançava em alegre e despreocupada correria?

Perguntaram-me à chegada: É o primeiro? Não, é o segundo, respondi eu. Sem saber se era menino ou menina, porque o tempo só o anunciava na hora da abertura à nova luz. Dei-te um nome que também a prenuncia(va).

E serias sempre serena e calma, firme e corajosa.

Recordo tudo ao segundo desse mês segundo, desse nascimento segundo, dessa luz segunda que se uniu à primeira, clareando ainda mais os meus caminhos, já iluminados pela bênção anterior.

É ao segundo que o círculo se desenha na memória:

            Chegaste em fevereiro. Logo no primeiro dia. Logo ao início da tarde. De sol e luz, apesar de ser fevereiro. Não havia chuva nem vento...

            ... e abrias nova janela celebrando o claro firmamento.



 Nota 3. Que novas janelas se vão abrindo, porque bem precisamos delas. Felizmente, e para variar, hoje está um bonito dia de sol.

 

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Quadragésimo dia

 

Hoje passei toda a manhã com a minha mãe e, mais uma vez, apreciei o quadro. Ela tem vários gatos que vão nascendo, aparecendo e ficando. Os que tem agora são quase todos irmãos e a mãe também lá mora. O pai é que não deve ser o mesmo, porque, de vez em quando, a gata esquiva-se sem dizer água vai. Só não sei se vai e vem em noites de lua cheia. Ora, a minha mãe também tem um canário que foi dado por dois bisnetos no Natal. O canário é muito bonito, muito cantador, de cor rosada e vive numa gaiola que está no parapeito da janela da cozinha que dá para o pátio. Os gatos andam sempre por ali porque é também no pátio que têm o abrigo. Quando está sol - como esteve hoje - saltam para o parapeito exterior da janela, levantam ufanamente a cabeça e não arredam pé, ou melhor, as patitas, num cenário de paraíso à janela. O canário baloiça, o gato esfrega a pata no vidro, o sol vai entrando, o cantar do pássaro vai-se ouvindo...

Enquanto fazia o almoço e a minha mãe dormitava, eu ia apreciando aquela aproximação quase de primeiro namoro.  Até poderia dar-lhe um título: idílio ao sol!

Ou, como o tempo está incerto, talvez outro que o olhar e os dentes afiados do felino me sugeriram: o sol é que nos une, mas ainda bem que há o vidro da janela que nos separa!

 

 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Trigésimo nono dia

 

Nota 1. Há flores que nascem em sítios quase improváveis, mas que não deixam de ser flores. E bonitas. E quase únicas. Estas nasceram há poucos dias num parque, perto do centro de Londres.



Nota 2. 'Bela Flor'

 de Maria Gadú

'A flor que vem me lembra
A flor que é quase igual
A flor que muito pensa
A flor que fecha ao sol

Parece a mesma flor
Só muda o coração
Quando se unem são
A flor que inspirou a canção

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio

Que dance a linda flor, girando por aí
Sonhando com amor, sem dor, amor de flor
Querendo a flor que é, no sonho a flor que vem
Ser duplamente flor, encanta, colore e faz bem

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio

Oh, flor, se tu canta essa canção
Todo o meu medo se vai pro vão
Pra longe, longe que eu não quero ir
Mas deixe seu rastro pólen, flor
Pra eu poder te seguir

Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio
Bela flor, pouco disse
Gémea flor, que cresceu no Rio'


domingo, 21 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Trigésimo oitavo dia


Nota 1. Os números de infetados e de óbitos por covid-19 estão a descer. Está a valer a pena o confinamento. Felizmente.

Nota 2. O dia de ontem foi de cheias iminentes. O rio Douro afastava, pela força das águas, qualquer barco de recreio ou outras aproximações. Via-se que este rio não estava para passeios ou para brincadeiras. Nem sequer nas margens.

Nota 3. À noite, houve a primeira parte do festival da canção - aquele programa que agora pouca gente vê e que antigamente quase toda a gente via. Na altura, as opções também eram poucas. E era uma emoção a noite do festival nacional e ainda muito mais quando a canção vencedora ia à Eurovisão. E a tristeza que era ver Portugal ficar tantas vezes nos últimos lugares. O Salvador Sobral, há dois anos, e de uma vez por todas, fez esquecer muita coisa. Mas houve muitas outras músicas que ficaram.

 

 

sábado, 20 de fevereiro de 2021

Notas do tempo que vivemos

 

Trigésimo sétimo dia


Nota 1.  Ao serão (acho piada a esta palavra) de 26 deste mês, próxima 6ª f., vai haver o lançamento online de mais uma antologia Mimos de...  Estes referem-se a fevereiro. No final da coleção, haverá Mimos de todos os meses do ano. Existem textos muito interessantes e as capas dos vários volumes também são bonitas, o que ajuda a colorir muitos dos momentos atuais, tão pintados de cinzentão.


 

Nota 2.

O vento nada mimou

enquanto a noite dormia

e muitos seres acordou

- desvairada correria!

 

E resolveu convidar

uma chuva agreste e fria.

Noite, querias sonhar

mas só o vendaval se ouvia!

 

Abro a porta para ver

este constante soprar

e já apetece dizer:

Ó vento, e se parasses de correr?!

É sábado! Vai-te também confinar!!!

 

 Nota 3. Um convite para quem quiser participar de outra coletânea - poesia ou prosa poética. Chama-se 'Livro Aberto' e vem de Alenquer. A iniciativa tem já várias edições, mas é  a primeira vez que estou a participar. Podemos fazê-lo até final deste mês. Enviei dois pequenos textos em prosa poética, tentando mimar as palavras que escrevi. Os outros o dirão melhor do que eu.

Aqui vai o link para quem quiser ver ou participar:

https://m.facebook.com/groups/1596125733996271/permalink/2913404125601752/?sfnsn=mo

 

Nota 4. Sábado feliz para todos. Com mimos e com um livro aberto, se possível, e se for essa a vontade de cada um.


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 

Trigésimo sexto dia

 

Nota 1 e única em dia único para os investigadores e amantes do espaço. Ontem, pelas nove da noite, aqui em Portugal continental, uma sonda da Nasa chegou a Marte, o planeta vermelho. As amostras que irão ser recolhidas pelo robô, que pousou numa cratera, chegarão à terra em 2031, permitindo ver a evolução dos minerais e sinais de habitabilidade naquele planeta tão distante. Alguns canais de televisão iam divulgando imagens do momento, também de júbilo dos muitos cientistas que tornaram possível a viagem.


 A grande parte de nós, grande parte parte da comum Humanidade, continuará também, cá por baixo (ou ao lado, nem sei!) recolhendo amostras diárias dos sempre desejados sinais de vida. Sem deixar de olhar as estrelas (e não só), é claro!


quinta-feira, 18 de fevereiro de 2021

Notas dos dias que vivemos

 
Trigésimo quinto dia
 
 
Nota 1. Este ano, nem me lembrei que era Carnaval. Também não sou muito chocarreira, mas acho piada a certas tradições do nosso país, sobretudo do interior. Fui um ano a Montalegre, numa 6a f, dia 13, à beira da semana do Carnaval, e diverti-me no meio dos folguedos com muitos chapéus e roupas de bruxas dentro. Trouxe de lá chás variados que davam para curar todos os males e maleitas da terra e já não sei se estavam incluídas as do céu. Nessa noite, o Padre Fontes (um dos principais impulsionadores daquelas atividades) mexia com grande colher de pau um enorme panelão, donde fumegava uma bebida que ele dizia ser punção mágica e que dava a provar aos mais destemidos que, a partir de certa altura, já eram quase todos.

 
Toquinho & Vinícius - Marcha da Quarta-feira de cinzas
 
Nota 2. Ontem foi 4ª f. de cinzas, tema  poeticamente tratado na canção que tem esta letra e que até parece referir-se à pandemia que vivemos: 

 'Marcha da 4ª feira de cinzas', de Vinicius de Moraes
 
Acabou nosso carnaval
Ninguém ouve cantar canções
Ninguém passa mais brincando feliz
E nos corações
Saudades e cinzas foi o que restou
 
Pelas ruas o que se vê
E uma gente que nem se vê
Que nem se sorri
Se beija e se abraça
E sai caminhando
Dançando e cantando cantigas de amor
 
E no entanto e preciso cantar
Mais que nunca e preciso cantar
E preciso cantar e alegrar a cidade
 
A tristeza que a gente tem
Qualquer dia vai se acabar
Todos vão sorrir
Voltou a esperança
E o povo que dança
Contente da vida feliz a cantar
Porque são tantas coisas azuis
E há tão grandes promessas… 
 
Nota 3. Também tenho recordações de 4ªs feiras de cinzas da minha infância, dias que começavam na igreja onde havia a unção da cinza que lembrava: 'És terra e em terra te hás de tornar' e não se podia comer carne nem tocar em objetos de Carnaval.  Eram as privações depois dos excessos (que, para muitos, de excesso não tinham nada, bem pelo contrário). 
 
Nota 4. O FCP venceu a Juventus,
Vitória em que não acreditei.
E fiquei muito contente
porque a jogar também estava
quem do mundo da bola é Rei!