Quarto dia
Ontem, fui votar para as presidenciais, já o sol pouco aquecia. Gosto muito da luz de final de dia. Tenho uns amigos que partilham fotos fabulosas com as cores mais imprevisíveis do céu e as formas mais estranhas desenhadas no firmamento.
Tal como muitos portugueses, fiquei
admirada pela adesão ao voto antecipado. À porta da EB2/3, duas
senhoras mediam a temperatura a quem chegava. Uma
delas avisou: 'há um atraso de duas horas'. Mesmo assim, arrisquei e
dirigi-me à secção de voto, que me havia sido indicada.
Afinal,
tinha apenas uma pessoa à minha frente. Às vezes, é preciso ver para
crer e o que é verdade nalguns casos não o é noutros.
Antes de sair de casa, recebi uma mensagem de whatsapp, da minha filha que vive em Londres. A minha neta tinha dito: 'I love that rice', ao ver a foto do arroz que eu tinha feito ao almoço. E interrogo-me saudosa: quando poderei voltar a vê-la, fazer-lhe (a minha) comidinha de que gosta, dar-lhe um abracinho, dizer-lhe: querida, diz em português...
Eu gosto desse arroz, disse ela e fiquei contente por ainda não o ter esquecido. Há mais de um ano que os encontros são apenas virtuais. Como eu estão muitas mães e muitas avós cujos filhos ou netos emigraram.
Falei no feminino. Que me desculpem os homens porque também sentem saudades. Talvez ainda não o verbalizem tanto.
Enquanto isto, recebi fotos, tiradas nos arredores de Londres, à hora matinal de uma corrida higiénica. E, curioso, a uns dez minutos, de metro, ir ao centro da cidade para muitos parece miragem, porque há muitos perigos de vírus e variante(s).
Também já não vou ao Porto há bastante tempo, apesar de viver a uns 15 m. Recorro mais ao comércio local. O que não é urgente pode esperar. E há tantos caminhos próximos para percorrer. Para conhecer. Para viver. Assim como em casa.
Hoje haverá novas regras de confinamento.
Que bom seria que houvesse mais vida anunciada.