sábado, 8 de janeiro de 2022

Flores novas vs flores velhas

 

A menina gostava muito de flores. Talvez por influência da família. E, desde muito pequena, habituou-se a olhar para elas e a observá-las ao pormenor. A vontade de as colher foi também crescendo. Queria fazê-lo em qualquer sítio onde as visse bem viçosas: na rua, em casas vizinhas, na casa antiga da bisavó... 

Porém, a mãe foi-lhe explicando que não podia cortar as flores dos parques ou jardins, públicos ou privados. Tinha de as deixar crescer e viver por mais tempo. Toda a gente gostava e tinha o direito de ver espaços bonitos e floridos. A menina demorou algum tempo a compreender e a aceitar, mas foi aprendendo que não o devia fazer.

Porém, foi ganhando outro hábito: apanhar flores velhas e murchas, como as camélias que são efémeras nas árvores e, caindo com abundância, formam tapetes à volta dos troncos. Essas eram as preferidas da menina. Uma vez, a mãe disse-lhe:

- Não apanhes essas flores. Não vês que estão velhas e deixaram de ser bonitas?

A menina, que já tinha apanhado umas poucas, bastante desbotadas e de pétalas menos firmes, continuava a segurá-las na mãozinha pequenina e delicada. Como a mãe insistia, a menina voltou-se para ela e disse:

- Mamã, deixaste de gostar da bisavó por ela ser velhinha e já não ser tão bonita?


12 comentários:

  1. As crianças fazem perguntas complicadas...
    .
    Cumprimentos. Bom fim de semana.
    .
    Pensamentos e Devaneios Poéticos
    .

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  2. É verdade, Ricardo. Surpreendem-nos e encantam-nos.
    Um domingo feliz.

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  3. Bom dia
    Uma história que nos faz sentir a sensibilidade das palavras que por vezes dizemos e o sentido que elas podem tomar, principalmente na inocência dos mais novos.

    JR

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    1. Sim, e às vezes na sua verdade e simplicidade, dizem coisas tão importantes.
      É pena quando temos pouco tempo para os ouvirmos com mais atenção.
      Bom fim de tarde.

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  4. Menina muito sui generis, essa. Apanha as flores caídas e mortas. Que a bisavó velhinha está viva e essa é a grande diferença. Como é diverso o amor que se tem por alguém com quem se vive ao longo dos anos e o gosto por flores. Contudo, a resposta da criança tem alguma lógica; por inesperada, é desarmante.
    Bom domingo, Maria.
    Flores mortas não seduzem, já foram e é no que foram que está o seu ser.

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    1. Tanta coisa bonita no seu comentário, Bea. Obrigada. Quanto à sedução, também aqui estou consigo, embora ache que o ser também está no que se vai sendo.
      Um abracinho e bom fim de tarde.

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  5. A sabedoria das crianças é incrível.
    Abraço, saúde e um ano 2020 com muita saúde e alegria

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    1. Se é. Às vezes, apetecia registar muito do que dizem.
      Um abraço e desejo-lhe o mesmo, Elvira, com carinho e amizade.

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  6. Achei a pergunta da criança uma verdadeira lição de vida! Amei!
    -
    O Pôr do sol na mais pura
    sedução

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    Beijos. Bom Domingo

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    1. Também gostei muito quando ouvi. Quis logo registar.
      Um beijinho e bom restinho de domingo.

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  7. Oi :D

    Eu brigo quando retiram as flores novas ou velhas, principalmente velhas, pois essas já foram polinizadas... e removê-las, reprime-as de prosseguir no seu processo reprodutivo.

    kkkkkk aqui falando como biólogo botânico, mas sim, amo receber flores e vasinhos de flor.

    Abraços,
    Calebe Borges

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    1. Olá, amigo Calebe. Pois e registei a sua lição de biólogo, bem mais complexa, sem deixar de ser bela, ainda que diferente.
      Um abraço e, mesmo virtuais, envio-lhe camélias, tão abundantes e tão bonitas na região onde vivo.

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