A menina gostava muito de flores. Talvez por influência da família. E, desde muito pequena, habituou-se a olhar para elas e a observá-las ao pormenor. A vontade de as colher foi também crescendo. Queria fazê-lo em qualquer sítio onde as visse bem viçosas: na rua, em casas vizinhas, na casa antiga da bisavó...
Porém, a mãe foi-lhe explicando que não podia cortar as flores dos parques ou jardins, públicos ou privados. Tinha de as deixar crescer e viver por mais tempo. Toda a gente gostava e tinha o direito de ver espaços bonitos e floridos. A menina demorou algum tempo a compreender e a aceitar, mas foi aprendendo que não o devia fazer.
Porém, foi ganhando outro hábito: apanhar flores velhas e murchas, como as camélias que são efémeras nas árvores e, caindo com abundância, formam tapetes à volta dos troncos. Essas eram as preferidas da menina. Uma vez, a mãe disse-lhe:
- Não apanhes essas flores. Não vês que estão velhas e deixaram de ser bonitas?
A menina, que já tinha apanhado umas poucas, bastante desbotadas e de pétalas menos firmes, continuava a segurá-las na mãozinha pequenina e delicada. Como a mãe insistia, a menina voltou-se para ela e disse:
- Mamã, deixaste de gostar da bisavó por ela ser velhinha e já não ser tão bonita?
As crianças fazem perguntas complicadas...
ResponderEliminar.
Cumprimentos. Bom fim de semana.
.
Pensamentos e Devaneios Poéticos
.
É verdade, Ricardo. Surpreendem-nos e encantam-nos.
ResponderEliminarUm domingo feliz.
Bom dia
ResponderEliminarUma história que nos faz sentir a sensibilidade das palavras que por vezes dizemos e o sentido que elas podem tomar, principalmente na inocência dos mais novos.
JR
Sim, e às vezes na sua verdade e simplicidade, dizem coisas tão importantes.
EliminarÉ pena quando temos pouco tempo para os ouvirmos com mais atenção.
Bom fim de tarde.
Menina muito sui generis, essa. Apanha as flores caídas e mortas. Que a bisavó velhinha está viva e essa é a grande diferença. Como é diverso o amor que se tem por alguém com quem se vive ao longo dos anos e o gosto por flores. Contudo, a resposta da criança tem alguma lógica; por inesperada, é desarmante.
ResponderEliminarBom domingo, Maria.
Flores mortas não seduzem, já foram e é no que foram que está o seu ser.
Tanta coisa bonita no seu comentário, Bea. Obrigada. Quanto à sedução, também aqui estou consigo, embora ache que o ser também está no que se vai sendo.
EliminarUm abracinho e bom fim de tarde.
A sabedoria das crianças é incrível.
ResponderEliminarAbraço, saúde e um ano 2020 com muita saúde e alegria
Se é. Às vezes, apetecia registar muito do que dizem.
EliminarUm abraço e desejo-lhe o mesmo, Elvira, com carinho e amizade.
Achei a pergunta da criança uma verdadeira lição de vida! Amei!
ResponderEliminar-
O Pôr do sol na mais pura
sedução
-
Beijos. Bom Domingo
Também gostei muito quando ouvi. Quis logo registar.
EliminarUm beijinho e bom restinho de domingo.
Oi :D
ResponderEliminarEu brigo quando retiram as flores novas ou velhas, principalmente velhas, pois essas já foram polinizadas... e removê-las, reprime-as de prosseguir no seu processo reprodutivo.
kkkkkk aqui falando como biólogo botânico, mas sim, amo receber flores e vasinhos de flor.
Abraços,
Calebe Borges
Olá, amigo Calebe. Pois e registei a sua lição de biólogo, bem mais complexa, sem deixar de ser bela, ainda que diferente.
EliminarUm abraço e, mesmo virtuais, envio-lhe camélias, tão abundantes e tão bonitas na região onde vivo.