Havia uma mulher de meia idade, muito magra, de cabelo desalinhado e grisalho e com longa saia preta. Tinha uma mochila na cadeira ao lado e bastantes papéis em cima da mesa onde ia escrevendo, como que acrescentando notas. Reparei nas mãos finas e compridas.
Um homem e uma mulher, ocupando uma mesa no meio da cafetaria, com um computador aberto, pareciam discutir negócios e, bem perto de mim, surpreendentemente, estava o mesmo homem que há umas horas eu tinha visto, de costas, e a sair para atender o telefone.
Nem tinha dado conta que regressara e se sentara de novo. A estatura era alta, as costas largas e portentosas, o cabelo grisalho e farto. Sobre a mesa, havia um livro aberto e uma folha branca ao lado, com um desenho já esboçado. E, curioso, Félix, a personagem que me andava na mente e que eu parecia por vezes encontrar em figuras masculinas que comigo se cruzavam, também gostava de ler e de desenhar, fazendo-o muitas vezes em cafés. Tinha igualmente umas mãos largas e possantes.
Sorri para mim e, depois de beber o copo de água, voltei à leitura e a esquecer-me do que se passava à minha volta, não sem dizer de mim para mim, como habitualmente fazia nestes casos: Bye, Mr Félix.
Não sei muito bem quanto, mas algum tempo depois, ouvi o mesmo toque surdo do telemóvel que me fez despertar da leitura. Era do homem que estava sentado perto de mim e em quem, com certeza por fantasia literária, eu encontrava traços do “meu” Félix.
Desta vez, logo que o telefone tocou, como se estivesse à espera de uma chamada necessária ou urgente, o homem fechou de repente o livro, guardou o desenho que esboçara, pôs o saco a tiracolo e saiu, aparentemente para não voltar, falando com discrição ao telemóvel.
Enquanto se afastava, com o telefone no ouvido, sorriu e acenou à jovem que estava a servir as refeições ao balcão.
Foi então que a ouvi responder num tom sorridente e familiar:
- Bye, Mr Félix!
Boa tarde
ResponderEliminarSer ou não ser.
Eis a questão
JR
Sim, fica a dúvida.
EliminarUm bom dia, Joaquim.
O falecido Félix da minha terra era dono de uma agência funerária e ia buscar o neto ao jardim de infância no carro funerário. Tinha outras particularidades que agora não interessam.
ResponderEliminarOra, de entre tantos Félix a fingir e a fazer de conta, a algum o nome havia de assentar. E ainda bem que a Maria o ouviu pronunciar. Já o Félix tem um rosto. Que, no resto, bem se assemelhava ao personagem. Há mesmo gente com cara de Félix, não é, Maria? Bom, o nosso tinha cara de fuinha, não dava com o nome. Paciência, a realidade é assim, teima em fugir às histórias. Uma palerma é o que ela é.
Boa tarde. Gostei. Seja bem regressada às histórias. Escreva sempre.
Obrigada. Obrigada, Bea. Para quando esse Félix nas suas histórias? Motivos não faltam. Já estou a imaginá-lo, na sua cara de fuinha, no carro de última viagem com o menino de vida em primeira viagem.
EliminarObrigada pelo apoio. Sim, escrevo, não tanto nem como gostaria, mas a leitura e a escrita lá estão sempre para dizerem 'Viva la vida'
Um abracinho
Um dia que me apeteça conto a minha versão do Félix:))
EliminarFico à espera.
EliminarMuito bem. Gostei bastante!! :))
ResponderEliminar.
Beijos. Boa noite!
Obrigada, Cidália.
ResponderEliminarUm beijinho
Acho que já lhe disse que aprecio as suas histórias. Gosto mesmo. Mas isso foi no ano passado, portanto agora reitero :)
ResponderEliminarEsta história vai em crescendo, o leitor sente um certo suspense. Será que se vai render ao género do thriller, tão na moda na literatura actual?