Esta semana, vai iniciar-se, em Serralves,
um novo curso/ateliê de escrita:
"Literatura e Música: um diálogo eterno".
O dinamizador é o escritor Mário Cláudio.
Por acaso, encontrei este pequeno
texto que escrevi num ateliê de escrita anterior.
Mulher que
gosta do mar, que ouve e vê, no barulho das ondas, outros elementos da
natureza, que se sobressalta com o equilíbrio azul das palavras límpidas de
Sophia ou com os versos ensolarados de Eugénio,
poeta que também iluminou quadros de pintores como Júlio Resende. Mulher que sente
a amorosa errância ardente de Florbela ao olhar as árvores solitárias e esquentadas
do Alentejo.
Mulher que
teme o frio e o vazio das grutas mas que delas se aproxima em busca de luz e de
silêncio. Que gosta de passear mas que o faz muitas vezes olhando a janela,
vendo as camélias a florir lá fora. De tão próximas, parecem abrir cá dentro.
Mulher que
gosta de escutar e ler os textos de Mestres da Literatura, mas também de ouvir
os dos colegas de ateliê que, em poucos minutos, escrevem uma história com
todos os sentidos, fazendo emergir a pluralidade das vozes. De si próprios ou
de seres com quem se cruzam.
Mulher que vai
escolhendo e combinando palavras que apanha na beira dos caminhos que conhece,
embora gostasse de as colher mais fundo.
Mulher que
gosta de ouvir música que irrompe também da combinação de palavras e de sílabas.
Que se deixa embalar com a música de Jacques Brel à qual gostaria de repetir:
Ne me quitte pas.
Mulher que
gosta de escrever pequenos textos e de os ler em voz alta. Tal como qualquer artesão
que partilha as suas pequenas peças. Ou um adolescente que envia uma mensagem
que o deixa insatisfeito mas mais tranquilo.
Mulher que, no
ateliê, toma notas sobre Literatura e sobre o Mundo, sentindo este mais
habitável e mais visível, graças a todos que o reescrevem.
Mulher que
acha quase tão reais os Pescadores de Raul Brandão como os pescadores que vê junto
ao Douro.
Mulher que
gosta de escrever, pondo-se na pele de outrem, embora não possa fugir de si
própria como permitia a genialidade de Fernando Pessoa.
Mulher que se
confronta, como qualquer ser humano, com o seu destino, com
o seu papel no mundo, que se interroga sobre as marcas que vamos deixando com o passar
dos dias.
Mulher que vê o Atelier de Escrita como uma orquestra, onde cabem diferentes músicos,
diferentes instrumentos, trabalhando todos sob a batuta de um Maestro que, para
além de orientar o grupo, tem vasta obra produzida e vai ajudando a que cada
um, à sua maneira, vá compondo novas peças.
Mulher que vai
acrescentando novos elementos para ir compondo um possível retrato. Também com o
Ateliê de Escrita ao Fundo.
É tão bom vir aqui e encontrar esta(s) mulher(es)! Todas elas pela mão de uma outra mulher - grande! - que és tu!
ResponderEliminarComo eu gostaria de ir contigo ao Mário Cláudio (Complemento oblíquo, é claro!)e (re)descobrir, nessas mulheres, nessas vozes, nessas notas musicais que certas palavras são, a minha voz bem íntima! A canção que eu sou!
Beijinho, Dolores, e bom domingo.
IA (às vezes, prima Za)
Também é muito bom, Za, em domingo cinzento e de chuva (apesar de gostar de domingos assim!), abrir o computador e ler estes mimos. És muito generosa, amiga.
ResponderEliminarSeria muito bom realmente participares também do Ateliê de Escrita. De certeza que o Mário Cláudio adoraria.
Beijinho e bom domingo
M.
Eu inscrevi-me :) mas soube hoje que se calhar não vai começar já nesta quarta, e talvez só em Janeiro, ainda não sei bem.
ResponderEliminarum beijinho
Gábi
Olá, Gábi
ResponderEliminarObrigada por me dizeres, porque ainda não sabia. Para mim, até seria melhor começar em janeiro.
Seja em que mês for, a tua presença é obrigatória.
Beijinho
M.