sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

Rever "Julieta"


   Revi o filme "Julieta" de Almodóvar. 
No ecrã, reencontrei rostos recorrentes em filmes deste realizador, como é o caso de Rossy de Palma, que, neste caso, faz o papel de uma empregada doméstica numa casa junto ao mar, onde vive uma mulher, ainda jovem, doente, em coma, cujo marido trabalha na pesca.
Este homem, Xoan, vai conhecer Julieta no comboio, numa viagem noturna, e apaixonam-se, vindo a viver juntos e a ter uma filha, após a morte da primeira mulher.
Nessa viagem em que se conheceram, segue também um homem mais velho, desesperando de solidão. Dirige a palavra a Julieta, mas esta inquieta-se e muda de lugar. Numa das paragens seguintes, o homem sai do comboio e suicida-se.
Anos mais tarde, Xoan, quando a filha é adolescente, depois de uma discussão com Julieta por ciúmes que esta demonstra, vai para o mar e morre, porque o barco naufraga devido a uma grande tempestade.
Entretanto, a filha, muito ligada ao pai, depois de um retiro, afasta-se da mãe e, propositadamente, não permite que ela saiba onde se encontra.
Já no outono da vida, Julieta começa a procurar a filha, numa busca ansiosa e contínua.
Ora, neste filme, existem temas recorrentes de Almodóvar: a doença (como o coma), os conflitos entre pais e filhos, a homossexualidade, a busca do passado, a solidão, a culpabilidade...
Julieta sente culpa pelo suicídio do velho homem que queria comunicar com alguém e de quem ela, assustada, se afastou; pela morte do companheiro após uma discussão; pelo desaparecimento da filha com quem poderia ter dialogado mais...
Comove-me a canção final, em tom plangente, na voz de Chavela Vargas: "Si no te vas".
É necessário viver intensamente, sentir muito, conhecer muito para realizar filmes que são espelhos em que, por uma questão ou por outra,  muitos de nós se reveem.

Sem comentários:

Enviar um comentário